O médico e microbiologista francês Didier Raoult voltou atrás em um estudo publicado por ele no início da pandemia em que apontava a eficácia do uso de hidroxicloroquina no tratamento da Covid-19, revelou o jornal Estado de Minas. Ele reconheceu que o medicamento não reduz mortes pela doença.
Em carta publicada no site do Centro Nacional de Informações sobre Biotecnologia, da França, um periódico científico, ele mudou de posição e reconheceu que o medicamento não traz a redução da mortalidade pela Covid-19 como ele descrevia.
Na época em que divulgou o estudo recomendando o uso da hidroxicloroquina no tratamento, Raoult foi criticado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e virou alvo de investigação do Conselho Nacional da Ordem dos Médicos da França.
Agora, o médico admite que ter excluído pacientes do estudo afetou o resultado. “Concordamos com os colegas que excluir seis pacientes da nossa análise pode ter enviesado os resultados”, afirmou Raoult na carta, assinada por toda a equipe.
Os pesquisadores disseram ter feito nova análise dos dados incluindo um paciente que morreu e outros que foram internados em unidade de tratamento intensivo ou que precisaram parar o tratamento por efeitos colaterais – os que haviam sido excluídos da análise inicial.
“Não houve diferença significativa na necessidade de terapia de oxigênio, transferência para UTI e mortes entre os pacientes que usaram hidroxicloroquina com ou sem azitromicina e nos controles, que receberam apenas o tratamento padrão”, prossegue o médico na carta.
No entanto, a equipe francesa diz que a duração das internações em hospitais “parece ter sido significativamente menor” entre os pacientes tratados com hidroxicloroquina sozinha ou em combinação com azitromicina, e que a “persistência viral foi significativamente mais curta” entre esse grupo.
Pesquisadores norte-americanos revisaram o artigo original da equipe de Raoult e apontaram falhas na pesquisa. Eles também destacaram que não é possível confirmar eficácia clínica a partir apenas da análise de redução da carga viral, como feito no estudo, e que outros fatores deveriam ter sido considerados para uma avaliação da eficácia dos medicamentos, como alívio dos sintomas e sobrevivência à infecção causada pelo novo coronavírus.
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Entre os líderes políticos defensores da cloroquina e da hidroxicloroquina, estão o ex-presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e o presidente brasileiro Jair Bolsonaro. Assim como seu contraparte do Norte, em diversas ocasiões, mesmo sem comprovação científica, Bolsonaro recomendou o uso do medicamento, inclusive preventivamente.
Quando testou positivo para o novo coronavírus, Bolsonaro postou um vídeo nas redes sociais em que aparecia engolindo um comprimido, segundo ele, de hidroxicloroquina.
“Estou tomando aqui a terceira dose da hidroxicloroquina. Estou me se sentindo muito bem. Estava mais ou menos domingo, mal na segunda-feira. Hoje, terça, estou muito melhor do que sábado. Então, com toda certeza, né, está dando certo”, disse rindo, antes de engolir a cápsula.
“A cloroquina não funciona no combate à Covid-19 e isso já está bem estabelecido. Infelizmente, tem muita desinformação e quando tem mensagem de pessoas em posição de autoridade dizendo que funciona, causa problemas na população”, revelou ao portal Metrópoles o epidemiologista da Sala de Situação da Universidade de Brasília (UnB) Mauro Sanchez.
Se o medicamento ainda não fizesse mal para quem toma, o problema de usar a cloroquina seria menor. Porém, essa não é a realidade, ponderou Sanchez. “Ele pode causar distúrbio cardíaco e os problemas são potencializados se usar azitromicina junto. A mistura pode causar taquicardia ventricular. Há um risco importante disso acontecer, então não é uma coisa tão inócua”, salientou.
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