O megaestoque de cloroquina encalhado nas farmácias da rede pública de Blumenau (SC) é suficiente para um século de demanda, revelou a NSC TV. Trinta e seis mil doses enviadas pelo Ministério da Saúde a pedido da prefeitura, para serem prescritas a pacientes de Covid-19, mesmos sem comprovação de eficácia para este fim, vencem no dia 1º de maio de 2022.
Entre 21 de agosto, quando os medicamentos chegaram ao município, até 23 de novembro, apenas 89 doses foram retiradas por blumenauenses com prescrição médica, apurou a emissora. São menos de 30 comprimidos entregues por mês. Neste ritmo, seriam necessários mais 100 anos para dar fim aos 35.911 restantes.
Mesmo antes da pandemia, a demanda em Blumenau sempre foi baixa para esse medicamento, que é comprovadamente eficaz para tratar malária, artrite reumatoide e lúpus. Porém, a substância que nunca se provou eficiente contra a Covid-19 transformou-se em bandeira política do presidente Jair Bolsonaro, mimetizando Donald Trump, presidente dos Estados Unidos.
Por conta dessa aposta do presidente brasileiro, o Laboratório Químico e Farmacêutico do Exército (LQFEX) investiu na produção de cerca de 3,2 milhões de comprimidos de cloroquina somente neste ano, segundo a CNN. Desse total, há ainda 400,1 mil comprimidos do medicamento em estoque, que estão parados por falta de demanda dos Estados.
Para se ter ideia do disparate, em 2015, o Exército informou ter fabricado 276,4 mil comprimidos e em 2017, 265 mil. O LQFEX gastou R$ 1,1 milhão na fabricação de cloroquina, entre insumos e embalagens, sob a justificativa da demanda gerada pela pandemia, apurou a CNN.
Estudos internacionais comprovaram que o medicamento não produz resultados contra o novo coronavírus. Cientistas observaram a evolução da doença em pacientes que usaram a cloroquina e compararam com pessoas que não receberam o remédio. Não houve diferença. Apesar das evidências em contrário e de uma saraivada de críticas, o Ministério da Saúde segue indicando o uso da droga para tratamento.
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Foi nesse contexto de desinformação e pressão política, que a prefeitura de Blumenau encomendou os 36 mil comprimidos que vencem em 17 meses. Somente têm direito a retirar os comprimidos nos ambulatórios gerais pacientes que têm prescrição médica – mesmo que de consultórios privados. Eles precisam assinar um termo de ciência sobre a falta de ‘estudos suficientes para garantir certeza de melhora clínica dos pacientes com Covid-19 quando tratados com cloroquina’.
Como não há tratamento comprovadamente eficaz contra o novo coronavírus – cloroquina é um desses –, médicos não estão receitando a droga e têm indicado apenas medicamentos para aliviar os sintomas e reduzir o desconforto, como analgésicos e anti-inflamatórios, segundo a NSC.
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