A ONG Transparência Brasil denuncia suspeita de irregularidades de R$ 1,3 milhão com a compra de medicamentos contra a Covid-19, mesmo sem eficácia comprovada, por prefeituras do Rio Grande do Sul, revelou o G1.
Essa movimentação milionária motivou a Transparência Brasil elaborar relatório sobre a gestão de prefeituras do interior gaúcho. As suspeitas recaem sobre o uso de verba pública em tratamentos sem comprovação científica e até propina para a venda de produtos contra o novo coronavírus.
Foram examinados pelos pesquisadores da ONG mais de 5 mil compras emergenciais realizadas por prefeituras do RS que, juntas, somam R$ 302 milhões. Em Garruchos, na Região das Missões, foi onde ocorreu a maior compra por habitante. A cidade com pouco mais de 3 mil moradores adquiriu 4,5 mil envelopes de ivermectina, medicamento usado, segundo o prefeito, na prevenção à doença.
“Garruchos optou por fazer medicina preventiva. Quando todos deixaram a casa incendiar pra depois chamar os bombeiros, pensamos que o sistema imunológico é aquilo que nós devemos proteger”, teria afirmado o prefeito João Carlos Scotto, segundo o G1.
Pesquisas no Brasil e no mundo demonstram que vários dos medicamentos apregoados como terapia contra a Covid-19 não têm eficácia comprovada, como explicou ao portal o infectologista e professor da Ulbra, Cláudio Stadnik.
“Não existe, até o momento, nenhuma comprovação científica do uso da azitromicina para o tratamento da Covid. Portanto, nenhuma sociedade especializada no tratamento recomenda o uso dessa medicação, muito menos o uso profilático, ou seja, antes de a pessoa ficar doente. Isso vale também para a hidroxicloroquina, ivermectina, zinco, vintamina D, como muitos estão postulando o uso. Portanto, não há uma recomendação e não deve ser utilizado”, salientou.
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Para a diretora de operações da Transparência Brasil, Juliana Sakai, é no mínimo estranho o que leva um gestor a usar grande parte do seu recurso em medicamentos que não têm eficácia comprovada, assim como comprar mais drogas do que a quantidade da população. “Qual a estimativa que ele fez de que a propagação seria tal e precisariam ser administrados tamanho número de medicamentos? A gente precisa ver se isso foi um erro de cálculo, má gestão, ou se não existem esses medicamentos, se eles estão nos estoques, não estão nos estoques, se foi uma compra que existiu de verdade”, frisou Juliana ao G1.
O estudo da Transparência Brasil revela ainda que muitas compras feitas pelas prefeituras não detalham os produtos adquiridos, o que impede a comparação de preços. Há também a suspeita de erros no preenchimento de planilhas ou até superfaturamento. A ONG cita relatórios da prefeitura de São Jerônimo apontando o pagamento de R$ 22 por máscaras de TNT, enquanto a média de mercado é de R$ 3,48. A prefeitura justificou que as máscaras custaram mais caro porque a compra foi feita nas primeiras semanas e que, na época, outros municípios pagaram valores ainda maiores.
“A gente identificou algumas discrepâncias na prestações de contas das compras que os municípios fizeram no combate à Covid-19, e isso pode indicar duas coisas. De um lado, uma prestação de contas mal feita, na qual se indica a quantidade equivocada de itens comprados. Então a gente não consegue averiguar quantos itens foram efetivamente comprados e por qual valor a unidade foi adquirida. Do outro lado, pode haver fraudes no meio disso, efetivamente, então a gente tem possivelmente superfaturamento de compras que foram feitas com preço muito maior, dentro de um processo facilitado e sem competitividade”, aponta Juliana Sakai.
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