O País não tem ultracongeladores que poderiam conservar a vacina contra a Covid-19 da Pfizer e da Biontech, que exige temperaturas de armazenamento de -70ºC. Mesmo a estrutura existente para vacinas que requerem temperaturas elevadas é desigual no País, revelou a Folha de S. Paulo.
De acordo com os especialistas, o armazenamento e a distribuição do imunizante com duas doses da Pfizer, em um intervalo de 21 dias a -70°C, traz um desafio inédito para o País. Na logística brasileira não há ultracongeladores para isso na chamada Rede de Frio, do Programa Nacional de Imunização brasileiro.
“Não é algo trivial. Não conheço nenhum país que tenha cadeia de frio adaptada pra temperaturas tão baixas”, revelou à Folha a microbiologista e pesquisadora da USP Natália Pasternak.
Atualmente, o padrão mundial de manutenção de vacinas é feito em refrigeradores, com temperaturas que variam entre 2°C e 8°C, mesmo patamar encontrado nas geladeiras caseiras. Já as imunizações contra a febre amarela e a poliomielite exigem armazenamento em temperaturas mais baixas (-15ºC a -25ºC), em equipamentos como os freezers científicos.
Antes de serem ministradas, as duas vacinas migram para a temperatura ‘comum’ dos refrigeradores, de 2°C e 8°C, onde podem ficar por até um mês. Já a vacina da Pfizer contra a Covid-19 aguenta apenas cinco dias na temperatura padrão dos refrigeradores.
No Brasil há equipamentos voltados à imunização como freezers científicos (que custam na ordem de R$ 25 mil), caminhão-baú refrigerados (cerca de R$ 150 mil) e geradores (que passam de R$ 4 milhões). Mas a infraestrutura é desigual. O País tem 484 geradores na rede de saúde com diferentes capacidades em caso de falta de energia – o Maranhão, por exemplo, só conta com um.
Para o Brasil todo existem 680 freezers científicos. Mato Grosso do Sul e Piauí, no entanto, não têm esse tipo de equipamento. Sete dos 31 caminhões-baú refrigerados estão concentrados em São Paulo, segundo apurou a Folha no Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Saúde (CNES/Datasus).
De forma geral, o controle térmico das vacinas é bem importante, porque algumas são sensíveis às temperaturas mais baixas (caso da imunização contra o HPV) e outras, ao aumento de temperatura (como a BCG). Segundo os cientistas, vacinas genéticas como a da Pfizer são ainda mais frágeis a variações térmicas.
“Levar esse imunizante à população, principalmente em países de menos recursos, monitorando as duas doses e garantindo que a vacina não perca parte da eficácia por causa da necessidade de mantê-la tão fria será um grande desafio de logística que a maioria dos países não está preparada para enfrentar”, afirmou ao jornal a médica epidemiologista, vice-presidente do Instituto Sabin (EUA), Denise Garrett.
Para a docente e pesquisadora em administração pública na FGV-SP, Gabriela Lotta, é “quase impossível” que a vacina consiga sair dos grandes centros, uma preocupação já levantada por especialistas em saúde pública. “Será preciso já pensar logística de distribuição para unidades centralizadas nas capitais”, salientou à Folha.
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Segundo a Pfizer, na ausência dos ultracongeladores, sua vacina pode ser armazenada por até 15 dias em uma espécie de contêiner com gelo seco, desenvolvido pela própria empresa, mas cujos detalhes não são conhecidos. O laboratório revelou que a ciência tem avançado não somente no desenvolvimento da vacina, mas na parte logística, armazenamento e na distribuição.
O governo brasileiro sinalizou negociação com a empresa, mas não há informações sobre o planejamento da distribuição da imunização em temperaturas tão baixas. O Ministério da Saúde revelou em nota ao jornal que “toda a rede de frio do Brasil dispõe de equipamentos para armazenamento de vacinas a -20°C, com exceção da instância local, que são as salas de vacinas e onde o armazenamento se dá na faixa de controle de +2°C a +8°C”, sem entrar em detalhes sobre a estratégia para a vacina da Pfizer.
Batizada de BNT162b2, a vacina que está em desenvolvimento pela Pfizer e Biontech é genética. Tem base em trechos de RNA (molécula ‘prima’ do DNA) que compõem o material genético do vírus. Na quarta-feira (18/11) foram anunciados testes promissores com o imunizante. De acordo com a Pfizer, a imunização é segura e tem 95% de eficácia. Os resultados são da terceira e última fase de testes, concluídos nesta semana.
Em uma live com atualizações sobre a pandemia também realizada na quarta-feira, epidemiologistas da Organização Mundial de Saúde (OMS) pediram cautela e destacaram que a vacina contra Covid-19, quando existir, deverá ser adicionada ao distanciamento físico, máscara e à higienização.
O tom foi de que não se deve baixar a guarda, pois a pandemia não acabou. “A informação continua sendo parte da solução da pandemia”, disse a epidemiologista da OMS, Maria van Kerkhove, segundo a Folha.
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