Coronavírus sofre 66 mutações em homem imunodeprimido

Coronavírus sofre 66 mutações em homem imunodeprimido

Estudo realizado pela universidade de Harvard, Instituto de Tecnologia de Massachusetts e por um hospital localizado em Boston revelou que um paciente imunodeprimido foi infectado três vezes pelo novo coronavírus (SARS-CoV-2), que sofreu 66 mutações no corpo dele, revelou a revista Exame.

O paciente de 45 anos faleceu devido a complicações agravadas por doenças prévias que ele possuía. Ele tomava medicamentos imunossupressores, comumente utilizados para a prevenção de rejeição de órgãos transplantados e no tratamento de doenças autoimunes.

Durante as três infecções do homem, além das 66 mutações da Covid-19 encontradas em seu corpo, ele teve uma evolução viral acelerada. Mudanças nos aminoácidos foram vistas predominantemente nas espículas do vírus, responsáveis por se prenderem no corpo humano durante uma infecção, e que representam cerca de 13% e 2% do genoma viral, mas, nas mudanças observadas, os valores aumentaram para 57% e 38%.

A primeira vez em que o paciente foi diagnosticado com Covid-19, o tratamento passado para ele foi cinco dias do anti-inflamatório remdesivir e distanciamento social. No sexto dia, ele foi liberado do hospital e até o 68º dia de seu quadro se manteve em quarentena. Porém, apesar deste período, ele foi hospitalizado três vezes por dores abdominais e uma vez por fadiga e falta de ar.

O quadro era ainda mais complicado uma vez que o rapaz sofria da síndrome autoimune antifosfolipídica (SAF), na qual o próprio sistema imunológico luta contra as proteínas do sangue, causando coágulos – comprovadamente um ponto chave para a gravidade dos quadros de SARS-CoV-2.

Segundo os pesquisadores de Harvard, do Instituto de Tecnologia de Massachusetts e do hospital de Boston, após as admissões hospitalares contínuas, houve uma complicação causada por hipoxemia (baixo nível de oxigênio no sangue), o que “causou uma preocupação para hemorragia alveolar difusa recorrente”, tipo de hemorragia causada no pulmão de um paciente.

O tratamento administrado, então, foi feito com doses aumentadas de glicocorticóides, medicamentos esteroides que se ligam ao receptor de cortisol. No 39º dia de sofrimento pela doença, o paciente foi considerado livre da Covid-19.

Mas no 72º dia, internado pela hipoxemia, apesar do teste negativado, a situação não melhorava. O tratamento administrado dessa vez envolveu dez dias de remdesivir e, após esse período, não parecia haver mais caso de reinfecção por Covid-19. As amostras do vírus coletadas em quatro momentos da infecção do paciente mostram que ele permaneceu infectado pela mesma cepa do vírus durante todo o processo.

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Apreensão sobre a evolução da doença continuou

O período sem efeitos colaterais, contudo, não durou muito. No 105º dia após a primeira admissão médica, o paciente apresentou um quadro de celulite infecciosa, uma infecção de pele potencialmente grave. Seis dias depois, a hipoxemia também voltou, o que fez com que o tratamento passasse a envolver níveis baixos de oxigênio. O medo de hemorragia alveolar continuava e a imunosupressão do paciente escalava.

No 128º dia, outro teste de PCR indicou a segunda recorrência de Covid-19 – o tratamento usado, novamente, foi o de cinco dias com remdesivir. Em um novo teste, o resultado foi negativo, mas a respiração do paciente não era recuperada e o risco de hemorragia fez com que ele fosse tratado com imunoglobulina, ciclofosfamida de forma intravenosa, doses diárias de ruxolitinib (medicamento voltado para mielofibrose), utilizando também os glicocorticoides.

Ao atingir o 143º dia após a primeira aparição dos sintomas, o PCR indicou uma terceira infecção pelo SARS-CoV-2. Dessa vez, o paciente recebeu um coquetel de anticorpos contra a espícula do vírus, o Regeneron, medicamento usado pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, durante sua infecção pelo vírus.

Mas as coisas não melhoraram, e no 150º dia o homem teve de ser intubado, novamente pelo quadro de hipoxemia. Uma amostra de lavagem broncoalveolar (método de diagnóstico do sistema respiratório) realizada no dia seguinte revelou um valor alto no PCR do paciente e uma presença crescente do fungo aspergillus fumigatus, bastante comum em ambientes hospitalares. Para tratar todos os problemas, ele voltou a receber o remdesivir e a tomar antifúgicos. Quatro dias depois, o paciente faleceu de choque e insuficiência respiratória.

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Segundo os especialistas, o quadro confirma a necessidade de saber o histórico prévio dos pacientes e indica que, apesar da idade, diversos fatores podem contribuir para quadros fatais da Covid-19. Por conta de sua doença autoimune, o paciente de 45 anos já tomava uma série de medicamentos, como anticoagulantes, corticoides e imunossupressores. A resposta do seu corpo ao vírus pode ter sido profundamente afetada pela quantidade de medicamentos que ele tomava antes de contrair a doença. Com o sistema imunológico já extremamente comprometido, o SARS-CoV-2 foi fatal.

As amostras do vírus coletadas em quatro momentos da infecção mostraram que o paciente permaneceu infectado pela mesma cepa do vírus durante todo o processo e o que aconteceu foi que, dentro do corpo dele, o vírus passou por mutações severas e rápidas. Isso não significa que o mesmo acontecerá em toda e qualquer pessoa que for infectada pelo coronavírus, dizem os especialistas.

Os cientistas afirmam no estudo que o caso “enfatiza o potencial de infecções persistentes e de evolução viral acelerada em estados imunocomprometidos”. O caso, entretanto, é extremamente raro e não deve ser levado como um padrão para a Covid-19, conforme apurou a Exame.

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