A adoção do anticorpo dupilumabe, indicado para o tratamento da dermatite atópica, reduz o uso de corticoide por pacientes com asma severa e diminui a ocorrência de crises agudas da doença, conforme resultados de ensaios clínicos realizados por pesquisadores da Universidade de Kiel, na Alemanha. O estudo foi publicado na revista científica The New England Journal of Medicine e divulgado pela Folha.
Entre as conclusões da pesquisa, descobriu-se como o uso frequente de corticoides para reduzir as crises de asma afeta e até agrava a asma nos casos mais severos e pode aumentar a quantidade das exacerbações e as chances de depressão e de fraturas por causa de osteoporose, por exemplo. Até 80% dos pacientes que tomaram o dupilumabe reduziram em pelo menos 50% o uso de corticoide oral e cerca de 48% interrompeu completamente o seu uso.
Estima-se que entre 50% e 70% dos asmáticos apresentem um tipo de inflamação mais grave, que impede a respiração. O dupilumabe bloqueia a ação de proteínas ligadas ao sistema imunológico que levam o organismo a reagir de forma exagerada na defesa do organismo contra alergias, asma e infecção por parasitas, diz o estudo.
O dupilumabe é um anticorpo monoclonal, ou seja, que foi produzido a partir de clones de uma única célula. Os anticorpos monoclonais se conectam a uma única região de moléculas estranhas ao organismo para neutralizá-la e auxiliam o sistema imunológico a identificar ameaças ao organismo e combatê-las.
Participaram do estudo 203 voluntários, dos quais 101 tomaram o medicamento e 102 receberam o placebo. Ao analisar os resultados, os pesquisadores observaram que cerca de 70% dos pacientes reduziram a quantidade de vezes que usaram o corticoide após o uso de dupilumabe por 24 semanas. O estudo foi patrocinado pelos laboratórios Sanofi, fabricante do dupilumabe, e Regeneron.
De forma geral, o grupo que recebeu o dupilumabe registrou uma redução de 59% na quantidade de crises asmáticas e apresentou aumento no Volume Expiratório Forçado em 1 segundo (FEV1) de 5%. O FEV1 diz respeito ao volume de ar que uma pessoa exala em 1 segundo após o ponto máximo de inspiração – chamado de Capacidade Vital Forçada (CVF), quando não é mais possível ‘puxar o ar’.
“Os esteroides mudam as pessoas”, disse à Folha o pneumologista e professor de medicina pulmonar na Universidade de Kiel e pesquisador responsável pelo estudo, Klaus Rabe, sobre os efeitos colaterais desses medicamentos. Entre eles, Rabe chama atenção para a possibilidade de o paciente desenvolver osteoporose, uma condição que leva à diminuição da densidade dos ossos e pode causar fraturas com maior facilidade.
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Outro efeito preocupante destacado pelo pneumologista é o impacto sobre o sistema nervoso dos pacientes e o risco de causar tristeza, ansiedade e depressão. A própria asma já eleva a condição de um paciente desenvolver transtornos mentais. “Doenças crônicas, como a asma, têm grande impacto na saúde mental porque os pacientes sentem que não têm total controle sobre seus corpos, sentem-se menos livres, sentem medo e ansiedade sobre seu futuro, sobre sua habilidade de trabalhar e de viver em sociedade”, afirmou Rabe ao jornal.
Por conta disso que os médicos costumam recomendar o uso dos medicamentos por apenas alguns dias. Pacientes com doenças crônicas, como a asma, no entanto, acabam usando o medicamento por meses ou anos. Para Rabe, a adoção do dupilumabe pode mudar a forma como a asma severa é tratada atualmente e garantir uma vida com menos dificuldades para os pacientes.
“Em 40 anos, tratei muitas pessoas com esteroides, muitos dos quais tiveram benefícios com o uso do remédio, mas também vi essas pessoas desenvolverem problemas de temperamento, ansiedade, hiperatividade, coisas que sabemos que essas drogas geram. O que fizemos foi buscar, diante disso, uma solução mais segura”, apontou o pneumologista. “Mas ainda precisamos investigar especificamente a relação entre esteroides e transtornos mentais para entender o tamanho do impacto. Isso ainda não foi completamente compreendido”.
Segundo apurou a Folha, a pedido da Sanofi, o dupilumabe (Dupixent) foi liberado em junho deste ano pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para o tratamento da asma grave. Até então, o medicamento só poderia ser utilizado no País em pacientes com idade superior a 12 anos diagnosticados com dermatite atópica, cujo principal sintoma é irritação na pele.
O valor mensal do tratamento com Dupixent é de cerca de R$ 9,5 mil e varia conforme os impostos de cada Estado, de acordo com a Sanofi. “O processo de desenvolvimento de um medicamento biológico, especialmente os inovadores como dupilumabe, necessita de um robusto investimento em pesquisa”, disse à Folha o laboratório, para justificar o elevado custo do tratamento.
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