Dados do Atlas do Diabetes da Federação Internacional de Diabetes (IDF) mostram que o Brasil é o 5º país em termos de incidência de diabetes no mundo, com 16,8 milhões de doentes adultos (entre 20 e 79 anos). Além disso, estima-se que até 2030 a doença possa atingir cerca de 21,5 milhões, sendo que uma das principais causas desses números é a obesidade. Em meio à pandemia, essa realidade é ainda mais preocupante, já que pessoas que pertencem a esses grupos são mais vulneráveis ao desenvolvimento de uma forma grave do novo coronavírus (Covid-19).
Recentemente, um estudo publicado pela Universidade Johns Hopkins, nos Estados Unidos, na renomada revista científica Lancet, constatou que estava sendo observado no cotidiano do hospital universitário daquela instituição, que pacientes jovens que chegavam à unidade de terapia intensiva (UTI) eram propensos a serem obesos.
"Concluímos que, em populações com grande prevalência da obesidade, a Covid-19 afetará mais as populações mais jovens", destacaram os pesquisadores, por meio do artigo.
Para fechar a análise, os cientistas colheram dados de 265 pacientes hospitalizados em algumas unidades de saúde nos Estados Unidos. Após essa etapa, eles constataram que havia uma correlação inversa entre idade e Índice de Massa Corporal (IMC): pessoas mais jovens internadas por coronavírus tinham maior probabilidade de ter IMC alto, na faixa da obesidade.
Receba nossas notícias por e-mail: Cadastre aqui seu endereço eletrônico para receber nossas matérias diariamente
Algum tempo depois, novos relatos em hospitais e pesquisas científicas foram somados ao levantamento dos cientistas. "Nossa correspondência (tipo de texto em um periódico científico) foi uma das primeiras, mas, desde então, já foram publicados 400 estudos, e este número continua aumentando, debatendo a conexão entre obesidade e os efeitos da Covid-19 em uma pessoa infectada", explicou um dos autores do estudo, David A. Kass, que é cardiologista e professor da Universidade Johns Hopkins, em entrevista à BBC News Brasil.
Ele continua: "Existem hoje muitas pesquisas demonstrando que, se você considera os riscos que a obesidade sozinha produz para quadros piores de Covid-19 (risco de hospitalização; de internação em UTI; ou de morrer), eles são consideravelmente aumentados em indivíduos com idade menor que 50 e 60 anos. Em pessoas mais idosas, digamos com mais de 65 anos, a obesidade sozinha se torna um risco menos proeminente”, destacou.
Kass complementa: "Presumo que seja porque em idades mais avançadas, existem muitas outras comorbidades, o envelhecimento e vulnerabilidades em si, histórico de câncer, doenças cardíacas, doenças imunológicas, doenças pulmonares, e que se tornam mais significativas nessa faixa etária".
Os autores da publicação na Lancet ainda destacaram que, nos Estados Unidos, boa parte da população sofre de obesidade. Ao todo, 36% dos americanos estão acima do peso. Já em relação ao Brasil, o professor de medicina da Universidade de Campinas (Unicamp), Licio Augusto Velloso, avalia que o cenário não é muito diferente.
Em território nacional, 22% da população adulta é considerada obesa, segundo dados globais publicados em 2016. Em comparação com outros países, o Brasil está bem à frente nesses números, na Itália, por exemplo, a porcentagem de pessoas que sofrem de obesidade é de 19%. "Um outro fator importante na Itália é que a população é bem mais velha, então, o principal fator da alta mortalidade lá parece ter sido a idade. Nos EUA, têm se destacado a obesidade e o diabetes", destaca o cientista, em matéria publicada no UOL.
População vulnerável
Velloso explica que, desde fevereiro de 2020, estudos publicados na China no início da pandemia já esclareciam que pacientes com obesidade, diabetes ou hipertensão estavam mais suscetíveis a desenvolver a forma mais grave da Covid-19.
Ele destaca ainda que boa parte das pessoas que sofrem de obesidade acaba desenvolvendo diabetes ou hipertensão. "Aproximadamente 60% a 70% das pessoas que são obesas acabam desenvolvendo tanto diabetes como hipertensão. Essas condições começam, normalmente, porque já existe a obesidade de base", afirma.
Nesse sentido, ele explica que a obesidade em pessoas jovens pode ser um fator determinante para a evolução de um quadro grave da Covid-19, pois, normalmente, ela pode evoluir para diabetes e hipertensão, apesar de não ser uma regra.
Participe também: Grupo de WhatsApp e telegram para receber notícias farmacêuticas diariamente
Obrigado por apoiar o jornalismo profissional
A missão da Agência de notícias do ICTQ é levar informação confiável e relevante para ajudar os leitores a compreender melhor o universo farmacêutico. O leitor tem acesso ilimitado às reportagens, artigos, fotos, vídeos e áudios publicados e produzidos, de forma independente, pela redação da Instituição. Sua reprodução é permitida, desde que citada a fonte. O ICTQ é o principal responsável pela especialização farmacêutica no Brasil. Muito obrigado por escolher a Instituição para se informar.