O diretor do Instituto Butantan, Dimas Covas, afirmou que a vacina contra Covid-19, em desenvolvimento pela instituição numa parceria com o laboratório chinês Sinovac, poderá ser produzida no País em dois meses, dependendo dos resultados auferidos na fase 3 de testes que estão sendo realizados com voluntários.
“A vacina estará disponível para produção a partir de outubro. Temos previsão inicial de 60 milhões de doses que serão aplicadas apenas quando comprovada a eficácia do medicamento”, disse Covas à CNN. “Ela já mostrou nas fases anteriores, com quase mil voluntários, uma efetividade em torno de 90%, além de ter se mostrado segura. Agora estamos na fase de testes de campo, onde é testada de fato na população”.
Para ser disponibilizada à população, a vacina ainda deverá passar pela aprovação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), órgão responsável pelo registro. Caso seja aprovada pelo órgão, poderá ser distribuída para o Sistema Único de Saúde (SUS).
Para o gerente-geral de medicamentos e produtos biológicos da Anvisa, Gustavo Santos, a Agência tem acelerado e flexibilizado processos em meio à pandemia para atender demandas. No caso da vacina, ele disse que há um prazo de 60 dias para a análise do eventual registro após a entrega da documentação necessária por parte do interessado, mas a avaliação será prioridade e deverá acontecer em menos tempo. “A avaliação para o registro é justamente o balanço risco-benefício, para ver se os benefícios superam os riscos. Temos de nos embasar em resultados científicos válidos”, destacou ao Uol.
O processo de preparo para a formulação e o envase do imunizante já se iniciou, segundo Dimas Covas. “Todos os processos de controle de qualidade e validação já se iniciaram. Então, poderemos ter a vacina. A grande pergunta é se estará registrada e aprovada pelo estudo clínico e poderá ser utilizada. Sou muito otimista. Acho que um prazo razoável seria janeiro de 2021, dado o desempenho até o presente momento”.
Em junho, o Butantan firmou parceria com a farmacêutica chinesa Sinovac para produção e testes avançados de uma vacina. No momento, a vacina está sendo testada em cerca de 9.000 voluntários em seis unidades federativas – São Paulo, Paraná, Rio Grande do Sul, Distrito Federal, Minas Gerais, Rio de Janeiro –, sob a coordenação e o acompanhamento do Butantan.
Covas explicou que a vacina está sendo desenvolvida com uma técnica dominada pelo Instituto Butantan, o que irá facilitar sua produção no Brasil. “Essa vacina é baseada em uma técnica de produção que o Butantan domina. Conhecemos os fornecedores, conhecemos os equipamentos e a parte de manutenção. Não é um processo novo. Neste momento, estamos testando a melhor forma de fazer a vacina” afirmou o diretor à CNN, lembrando que, para além da produção para o território nacional, o Butantan espera exportá-la para países vizinhos.
O diretor do Butatan diz ainda que o Instituto busca entender a amplitude da eficácia do medicamento, para saber se serão necessários uma ou mais doses por pessoas para atingir a imunização ideal. “Vacinas são medidas preventivas, não curativas. Os estudos clínicos tentam descobrir se iremos precisar de uma ou duas doses para cada pessoa, além de quanto tempo irá durar a imunização”, completou.
Fake news contra vacina
Na semana passada, o presidente da República, Jair Bolsonaro, valorizou a candidata à vacina contra a Covid-19 desenvolvida pela Universidade de Oxford e pela farmacêutica AstraZeneca, no Reino Unido, e testada no Brasil em parceria com a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). “Não é daquele outro país, não. Tá ok, pessoal?”, declarou, numa ironia à China. Covas ressaltou que a AstraZeneca tem um grande complexo industrial na China e o país asiático tem se destacado na produção de conhecimento científico há anos, conforme o Uol.
Um dos devotos de Bolsonaro, o ex-senador e pastor Magno Malta tem usado suas redes sociais para aconselhar a população a não tomar a vacina contra o novo vírus feita na China. “Disseram que a vacina da China está pronta, né? Segundo o noticiário, o governador de São Paulo [João Doria] fez uma aliança e o Butantan seria entregue para a China, olha só que absurdo. Então, a vacina será testada nos brasileiros, eu pergunto: você teria coragem de tomar uma vacina feita na China? [O país] que potencializou esse vírus em laboratório e soltou para o mundo. Você tem coragem?”, questiona.
Malta continua: “Por que não é aplicada neles [nos chineses] mesmos? Para depois vender para o mundo? Por que tem que ser aplicada em nós? Eu não tenho coragem!”, afirma o ex-senador, citando nomes de desafetos políticos que ele indica para tomar a vacina da China.
Vale ressaltar que o antígeno está em fase de testes, por meio de uma iniciativa do governador de São Paulo, João Doria, desafeto político de Bolsonaro.
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Sobre as fake news que têm surgido nas redes sociais, questionando a qualidade da vacina chinesa, o diretor do Butantan revelou, segundo o Uol, não haver motivo para preocupações quanto a uma parte da vacina se originar da China – o coronavírus surgiu pela primeira vez em Wuhan, no país asiático, antes de se espalhar pelo mundo. “Não há motivo para ter essa questão de descaracterizar uma vacina pelo fato de ter sido desenvolvida inicialmente na China”, disse.
Covas ainda classificou a parceria com a Sinovac como “ganha-ganha” para ambos os lados. A indústria chinesa terá a patente do coronavírus atenuado e o Butantan terá a integralidade do estudo clínico. A intenção é firmar acordos para o fornecimento da vacina a outros países, em especial da América Latina, informou o diretor, conforme o Uol.
Leia mais sobre as fake news da vacina chinesa.
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