Um estudo clínico internacional pioneiro coordenado pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) constatou que a utilização do fármaco Cabotegravir injetável a cada oito semanas tem eficácia superior às doses diárias do Truvada na prevenção da infecção pelo HIV. Pesquisa pode indicar novos caminhos para o controle da Aids.
Desde novembro de 2016, o estudo comparou os dois fármacos em 4.570 voluntários HIV negativo que utilizavam a profilaxia pré-exposição ao HIV (PrEP) em sete países, incluindo o Brasil. A primeira das três análises intermediárias previstas no protocolo do estudo mostrou que a contaminação dos usuários do Cabotegravir injetável de longa duração foi 66% inferior à das pessoas que usaram doses diárias de Truvada. Ao todo, 52 pessoas adquiriram HIV durante a pesquisa – 39 delas usaram a PrEP de Truvada e 13, a de Cabotegravir.
“Essa é uma conquista sem precedentes para o campo da prevenção do HIV. A PrEP com Cabotegravir injetável de ação prolongada (CAB-LA) é uma estratégia nova e poderosa que pode realmente fazer a diferença no controle da epidemia de HIV/Aids”, destacou a chefe do laboratório de Pesquisa Clínica em DST e Aids do Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas (INI/Fiocruz), Beatriz Grinsztejn.
Beatriz coordenou em nível global o ensaio clínico em parceria com o professor associado da Divisão de Doenças Infecciosas da David Geffen School of Medicine, na Universidade da Califórnia em Los Angeles (UCLA), Raphael Landovitz. O anúncio foi feito durante a 23ª Conferência Internacional de Aids (Aids 2020). O estudo foi o primeiro ensaio clínico em larga escala contendo o medicamento injetável de ação prolongada como forma de prevenção ao HIV.
Chamado de HPTN 083, o estudo foi realizado pela rede de pesquisa HIV Prevention Trials Network – HPTN (Rede de Ensaios de Prevenção ao HIV), da qual o laboratório da Fiocruz é integrante desde 1999. O financiamento foi do National Institute of Allergy and Infectious Diseases/National Institutes of Health (NIAID/NIH), dos Estados Unidos.
As pessoas que participaram da pesquisa são homens gays, homens que fazem sexo com homens e mulheres travestis e trans que fazem sexo com homens, sendo dois terços com menos de 30 anos e 12% mulheres trans e travestis. Os voluntários foram acompanhados em 43 centros de pesquisa da África do Sul, Argentina, Brasil, Estados Unidos, Peru, Tailândia e Vietnã. O INI/Fiocruz teve o maior número de participantes, com 240.
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“O HPTN 083 foi o primeiro estudo de PrEP a ser desenhado com foco nas populações mais vulneráveis entre os vulneráveis, que até então estavam pouco representadas nos estudos anteriores de PrEP: jovens, negros, travestis e mulheres trans. Os resultados vão contribuir para diminuir a disparidade no acesso aos benefícios da PrEP”, afirmou Beatriz Grinsztejn.
A HPTN é uma rede mundial de ensaios clínicos colaborativos que reúne pesquisadores, especialistas em ética, membros da comunidade e outros parceiros para desenvolver e testar a segurança e a eficácia de intervenções projetadas para impedir a aquisição e transmissão do HIV. Ela colabora com 85 locais de pesquisa clínica em 19 países para avaliar novas intervenções e estratégias de prevenção do HIV em populações consideradas mais vulneráveis à infecção.
A agenda de pesquisa da HPTN – mais de 50 ensaios em andamento ou concluídos com aproximadamente 161 mil participantes inscritos e avaliados – concentra-se principalmente na utilização de estratégias integradas: uso de medicamentos antirretrovirais (terapia antirretroviral e profilaxia pré-exposição); intervenções para abuso de substâncias, particularmente uso de drogas injetáveis; intervenções comportamentais de redução de risco; e intervenções estruturais.
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