Apesar do aumento na procura dos testes rápidos para detectar o novo coronavírus (Covid-19) ter aumentado nas farmácias, um estudo divulgado na quarta-feira (01/07), na renomada revista científica BMJ, apontou inconsistência nesse método de testagem em pontos de atendimento à saúde.
"Encontramos grandes fragilidades na base de evidências para testes sorológicos para a Covid-19", destacaram os cientistas na publicação. "A evidência não apoia o uso continuado de testes sorológicos no local de atendimento para a Covid-19", complementaram.
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Segundo o artigo, os testes rápidos que são realizados em farmácias apresentaram resultados inferiores aos aplicados em laboratórios clínicos. Na revisão bibliográfica, os cientistas ainda apontam que os ensaios de imunoabsorção enzimática (ELISA, em inglês) tiveram uma resposta de confiança próxima à 84%, enquanto os imunoensaios de fluxo lateral (LFIA) de apenas 66%.
Nesse sentido, os pesquisadores recomendaram que o diagnóstico da Covid-19 seja comprovado pelo método RT-PCR (que mede a presença do vírus ativo no corpo humano). Além disso, eles destacaram que os estudos devem usar esses critérios de avaliação como referência para a validação dos testes rápidos. "A revisão ressalta a necessidade de alta qualidade clínica estudos para avaliar essas ferramentas", diz um trecho da publicação.
Vale ressaltar que o Ministério da Saúde (MS) revelou, em junho de 2020, que pretende ampliar o número de testes do tipo RT-PCR no Sistema Único de Saúde (SUS).
Aumento nos testes
Dois meses após a liberação da realização dos testes rápidos nas farmácias para detectar o novo coronavírus já foram realizados 144.484 procedimentos em território nacional, segundo dados da Associação Brasileira Redes Farmácias Drogaria (Abrafarma).
O presidente da Abrafarma, Sergio Mena Barreto, defende a realização dos testes rápidos em farmácias: “As indústrias que fazem [os testes] aprenderam, desenvolvendo produtos melhores. Vamos ter cada vez mais testes de maior qualidade”, disse ele, em entrevista publicada no Valor Econômico.
Riscos ao farmacêutico
Com a eficácia dos testes rápidos para detecção da Covid-19 sendo questionada por entidades científicas, será que a prática desse serviço apresenta algum risco ao farmacêutico? Em recente entrevista exclusiva à equipe de jornalismo do Portal do ICTQ - Instituto de Pesquisa e Pós-Graduação para o Mercado Farmacêutico, o presidente da SBAC, Luiz Fernando Barcelos, destacou porque acredita que a realização do exame em farmácias não é viável.
“O farmacêutico que tem o seu próprio negócio, estabelecimento médio ou pequeno, não está muito interessado nesse tipo de teste rápido. Porque ele vai ter que ter estoque desses produtos, que têm prazo de validade e vão vencer. Além disso, esse profissional ainda corre o risco de realizar o teste rápido e, posteriormente, um exame laboratorial indicar um resultado diferente. Com isso, ele ainda pode responder, por exemplo, a uma ação judicial”, alerta.
Interesses comerciais
Segundo Barcelos, existe muito mais um interesse comercial por parte de redes de farmácias do que, propriamente, do farmacêutico microempreendedor, em realizar esse tipo de teste rápido. Nesse contexto, Barcelos faz críticas à Abrafarma: “A Abrafarma não é uma sociedade de farmácias, ela é uma sociedade que reúne as grandes redes de farmácias, isso é bem diferente. As grandes redes de farmácias, nem sequer são de propriedade de farmacêuticos”, explica.
Por fim, ele destaca: “Então, o farmacêutico proprietário de farmácia não está muito interessado [nesses testes], já a Abrafarma está porque ela é dona de uma grande rede, em que os farmacêuticos dessa empresa são funcionários. Então, eles [os empresários] querem aproveitar um profissional [ o farmacêutico], que parece até que na visão da Abrafarma é caro, para realizar esses exames. No entanto, provavelmente, esse profissional não está interessado, mas como ele trabalha na empresa e o mercado não está muito fácil, ele acaba se submetendo. A diferença é que a Abrafarma não é uma associação de farmácias, mas sim, de grandes redes”, encerra.
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