A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) negou ontem (22/6) o pedido de uso emergencial do Avifavir, medicamento russo indicado para pacientes graves de Covid-19, revelou o Valor. A decisão da diretoria do órgão regulador foi unânime.
De acordo com a diretora Meiruze Freitas, relatora do pedido, “o medicamento em questão não atende às expectativas da Agência quanto aos requisitos mínimos de segurança e eficácia no contexto do uso emergencial”, segundo apurou o Valor.
Avifavir é um antiviral e tem o apoio do Fundo de Investimento Direto da Rússia (RDIF, na sigla original), o mesmo que bancou no desenvolvimento da vacina Sputnik V. No Brasil, o medicamento é representado pelo Instituto Vital Brazil e a fabricação fica a cargo das empresas russas API – Technologies LLC e Joint Stock Company Chemical Diversity Research Institute – JSC CDRI, conforme o Globo.
Conhecido pelo nome genérico de favipiravir, Avifavir foi desenvolvido, inicialmente, nos anos 1990, por uma indústria farmacêutica japonesa que, posteriormente, acabou sendo adquirida pela Fujifilm, logo após a companhia migrar para o setor de saúde e ampliar os seus negócios.
Os pesquisadores russos modificaram o medicamento, que inicialmente foi desenvolvido para tratar outros tipos de vírus, para que ele fosse utilizado no tratamento da Covid-19.
Além da Rússia, outro país que está apostando no Avifavir é o Japão. Lá, o fármaco é conhecido como Avigan. Em território japonês, o governo concedeu o equivalente a US$ 128 milhões (R$ 636,2 milhões) de financiamento para desenvolvimento da substância.
A aprovação do medicamento para pacientes de Covid-19 no Japão, prevista para dezembro, foi adiada depois que um painel do ministério da saúde revelou que os dados do ensaio não eram conclusivos. Um novo estudo envolverá cerca de 270 pacientes e a Fujifilm tem como objetivo buscar a aprovação novamente em outubro, apurou a CNN.
Outros medicamentos
Desde o começo da pandemia, os cientistas vêm testando diversos medicamentos para combater a Covid-19. Entre os estudos, os pesquisadores concluíram que a combinação de substâncias, ou seja, fazer um tipo de ‘coquetel’ de medicamentos, tem se mostrado uma alternativa para tratar pessoas infectadas pelo novo coronavírus.
Entre eles está o Regn-Cov2 – coquetel de anticorpos monoclonais, ou seja, quando anticorpos de uma pessoa recuperada da doença são selecionados e copiados em laboratório. Ele foi desenvolvido pela Roche em parceria com a Regeneron e foi aprovado para uso no Brasil, em 19/04, pela Anvisa.
De acordo com o Fantástico, da TV Globo, os resultados dos testes com o Regn-Cov2 foram otimistas para combater a doença, pois se mostrou capaz de reduzir em até 81% os riscos dos sintomas da Covid-19 agravarem.
Outro medicamento aprovado pela Anvisa no Brasil foi o Remdesivir, desenvolvido pela companhia farmacêutica norte-americana Gilead Sciences, inicialmente, para tratar pacientes com febre hemorrágica ebola. O antiviral é usado em casos moderados da Covid-19 em pacientes sem ventilação mecânica, na fase viral da doença.
Os estudos clínicos feitos pelo National Institute of Allergy and Infectious Diseases (NIAID) – ACTT-1 – e coordenado pelo médico brasileiro André Kalil mostraram que o uso do medicamento impede a progressão para uma doença respiratória mais grave, acelera o tempo de recuperação entre cinco e sete dias e reduz a mortalidade.
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Em recente live promovida pelo ICTQ – Instituto de Pesquisa e Pós-Graduação para o Mercado Farmacêutico, o farmacêutico e professor de pós-graduação em Farmácia Clínica e Prescrição Farmacêutica do ICTQ, Thiago de Melo, falou sobre a eficácia de vários medicamentos para a Covid-19, entre eles o Remdesivir.
“O papel dele é inibir a replicação viral. Remdesivir tem o papel de apenas atrapalhar a replicação. Saber se ele tem ação imunomodulatória ou então atuar melhorando no desfecho de sinais e de sintomas será investigado nos próximos estudos”.
No encontro, o especialista mostrou estudos científicos que divergem quanto à eficácia do medicamento e deixam questionamentos quanto à sua eficiência no tratamento da Covid-19. Melo pontuou, ainda, que é preciso haver “estudos mais robustos, com maior número de pacientes para que tenhamos maior chance de certeza daquilo que estamos investigando”.
Com bases no estudo que apresentou uma melhora expressiva dos pacientes, o professor do ICTQ apontou que os resultados não podem ser vistos como uma recuperação excelente, além disso, lembrou que, considerando o alto custo do medicamento ao hospital (em média R$ 18 mil por paciente), fica difícil considerar o Remdesivir como uma ‘bala de prata’ para tratar a Covid-19.
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