Longe dos olhos das autoridades de órgãos de controle, comerciantes piratas vendem todo tipo de medicamento, inclusive hidroxicloroquina e remdesivir, usados experimentalmente para tratar a Covid-19, além de supostos testes para detectar a doença. Eles usam a versão submundo da internet para chegar aos seus clientes.
Dark web é o local obscuro da internet. É a terceira camada da rede, a mais profunda. A primeira envolve o lugar onde se navega no cotidiano, acessa portais de notícias, redes sociais, sites variados etc. Seu conteúdo é fácil de ser acessado e tem controle das autoridades. Na segunda camada, também conhecida como deep web, estão os sites secretos, que não aparecem nas páginas de buscas, são invisíveis. Nesse ambiente está tudo o que precisa de login e senha, como acesso a bancos, cadastros, e-mails etc.
Já a dark web é terra de ninguém, onde criminosos surgem oferecendo drogas, armas e bens roubados, pode-se contratar serviços de matadores profissionais, pedófilos publicam fotos e vídeos pornográficas de crianças e é o ambiente por onde circulam vírus e malware (programas de computador maliciosos), além de outros ilícitos.
Nesse ambiente fora da lei, criminosos têm oferecido medicamentos e supostos testes rápidos para a Covid-19. Tudo, obviamente, sem comprovação alguma, assim como não é necessário qualquer tipo de receita para se comprar os produtos. De acordo com levantamento realizado pelo site Futurism e reproduzido pelo Uol, é possível encontrar testes supostamente fabricados na Alemanha sendo vendidos por US$ 42,25 (R$ 246,47).
Por óbvio, especialistas de saúde são radicalmente contra a aquisição desses itens na dark web. “O motivo de algo ser um medicamento sem receita é que ele só é seguro quando tomado por um motivo específico, em uma dose específica. Tomar medicamentos por outros motivos em quantidades imprevisíveis pode levar a consequências não intencionais”, destacou o professor de medicina em Harvard, Piter Gohen, como revelou o site Olhar Digital.
O caso da hidroxicloroquina é ainda pior, pois estudos mostraram que não ela é eficaz nem segura para o tratamento da Covid-19. “Isso pode levar a graves problemas cardíacos, mesmo em pessoas previamente saudáveis”, destacou Gohen. “Não vejo sentido de ter uma corrida no mercado paralelo de hidroxicloroquina. Tem protocolos em análise, o último que saiu foi um estudo americano que mostrou que não tinha diferença usar ou não usar. Não é a medicação que saiu para a cura”, afirmou ao Uol o médico pneumologista do Hospital Alemão Oswaldo Cruz e professor da Faculdade de Medicina do ABC, Ellie Fiss.
Se a verdadeira hidroxicloroquina, feita por laboratórios certificados e fiscalizada pelos órgãos de controle, já não representa possibilidade de cura da infecção pelo novo coronavírus, imagine uma falsificada. O médico infectologista do Hospital das Clínicas de São Paulo, Evaldo Stanislau, ressalta os riscos de se comprar um medicamento falso na dark web. “Nesse caso, mais do que perder o dinheiro, você corre inúmeros riscos de efeitos colaterais, como um problema cardíaco. Isso é um absurdo, um crime sanitário”, revelou ao Uol.
Segundo o site Daily Beast, a hidroxicloroquina é o produto relacionado à Covid-19 mais ofertado na internet obscura. Segundo levantamento do Futurism, há inúmeros fornecedores vendendo caixas de hidroxicloroquina de 200 mg. A maioria das ofertas fica por US$ 194 (R$ 1.132,72). É praticamente impossível conseguir descobrir o laboratório ou a quantidade de comprimidos nas ofertas. Uma pesquisa nos buscadores da internet feitas pelo Uol mostra a caixa de hidroxicloroquina de 200 mg com 20 comprimidos sendo vendida entre R$ 40 a R$ 80 nas farmácias brasileiras.
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Para os mais ansiosos, que não conseguem fazer os testes rápidos nos canais oficiais, pode ser tentador comprá-los pela dark web, pelas facilidades que envolve. Porém, pode significar apenas jogar dinheiro fora. Para o médico pneumologista do Oswaldo Cruz, o resultado pode não significar nada. “O grande perigo é que a chance de ter um falso negativo é muito grande. Além disso, com um teste de má qualidade você pode ter um falso positivo”, disse Fiss ao Uol.
Para Evaldo Stanislau, um dos grandes problemas do falso negativo ou do falso positivo é a pessoa achar que está imune à doença. “Quem compra esses testes quer uma informação: se já teve contato com o vírus e, por isso, estaria imune. Mas muitos desses testes dão falso negativo e falso positivo, ou seja, pode dar muitos erros. A informação que a pessoa vai ter não vai ajudar”, afirmou.
De acordo com Stanislau, um erro na avaliação pode fazer com que a pessoa quebre o isolamento e espalhe ainda mais a doença. “Isso é um desrespeito, porque se ela achar que está imune e quebrar as barreiras sanitárias, ela pode contrair a doença e levar para outras pessoas de seu convívio”, disse ao Uol.
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