Pague Menos pode lucrar até R$ 18 mi com testes rápidos

Pague Menos pode lucrar até R$ 18 milhões com testes rápidos em farmácias

Com a liberação da comercialização dos testes rápidos em farmácia para a Covid-19, pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), no final de abril, muitas redes saíram na frente e, em poucas horas, já estavam disponibilizando o serviço. Uma delas é a Pague Menos, que já iniciou a atividade em algumas farmácias de Fortaleza. Seus lucros podem chegar a 95% do valor pago para os fabricantes e importadores dos testes. Para entender melhor, em uma conta rápida, considerando mais de 200 mil testes por mês, esse lucro pode ser de mais de R$ 18 milhões. Sem dúvida, é um negócio mais que rentável.

Um dos fornecedores da Pague Menos – rede que detém mais de 1.100 unidades no País - é a Hi Tecnologies, cujo teste se chama Hilab. A empresa já divulgou os preços praticados para a venda em atacado para as redes. E o valor dos testes varia de acordo com a quantidade adquirida, podendo ser de R$ 99,00 a R$ 150,00. Já a Pague menos revelou que o valor de cada teste praticado na farmácia em sistema de drive-thru (sem sair do carro) é de R$ 193,00. Já se o serviço for prestado em domicílio o valor sobe para R$ 273,00.

É provável que outras redes pratiquem preços semelhantes. Na ponta do lápis, pode-se intuir que cada unidade vendida promoveria um lucro em torno de R$ 94,00 na farmácia e R$ 174,00 em domicílio, como ocorreria na Pague Menos.

Se forem somados os números das duas maiores associações de redes farmacêuticas nacionais, os montantes serão surpreendentes. Por exemplo, Associação Brasileira Redes Farmácias Drogaria (Abrafarma) reúne as 28 maiores redes de farmácias do País, com 5.600 lojas (que representam cerca de 44,5% das vendas de medicamentos). Já a Federação Brasileira das Redes Associativistas e Independentes de Farmácias (Febrafar) possui 57 redes de farmácias, com mais de 10 mil lojas integradas.

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Somando as farmácias das duas associações, há cerca de 15.600 unidades de rede. Se cada uma fizer apenas seis testes por dia, o lucro do setor com essa atividade será de quase R$ 264 milhões ao mês. Voltando ao exemplo da Pague Menos, caso ela venha a aplicar os testes rápidos em todas as suas unidades, seis por dia, seu lucro será de mais de R$ 18,6 milhões ao mês.

Anamnese

Em nota, a Rede Pague Menos afirmou que disponibiliza o teste rápido sorológico de Covid-19 aos seus clientes, com o agendamento dos exames desde 30 de abril. “Uma entrevista prévia (anamnese) é feita com o cliente para saber sobre o tempo de aparecimento dos sintomas e informar local, data e hora da aplicação do exame, e os procedimentos de segurança. De início, os exames são administrados apenas em Fortaleza, na Loja Pague Menos 01 (R. Senador Pompeu, 1520) e na Loja 1000 (Av. Santos Dumont, 2284), com expansão para outras unidades nas próximas semanas”.

O documento afirma, ainda que o exame é capaz de detectar a presença de anticorpos (IgG e IgM), que são produzidos pelas células de defesa pelo corpo humano contra a Covid-19 após o contato com vírus, por meio da coleta de uma gota de sangue. Os anticorpos podem ser detectados com melhor sensibilidade após o 7º dia de início dos principais sintomas, que são febre, tosse e dificuldade para respirar, de acordo com as indicações do Ministério da Saúde.

“Apenas exames com agendamentos prévios são realizados. No dia e horário marcados, o cliente que optar pelo exame em uma das unidades da rede de farmácias por drive-thru, permanecendo em seu carro, no estacionamento, onde o farmacêutico responsável irá até o seu encontro protegido para realizar a coleta do material; também há a opção do procedimento ser realizado em domicílio, com uma equipe de farmacêuticos indo até a casa do paciente, se assim for agendado. O resultado do laudo, atestado por clínicas especializadas e notificado ao Ministério da Saúde, sai dentro de 30 minutos e será compartilhado no e-mail do paciente. O valor do exame é R$ 193,00 caso seja feito nas farmácias ou R$ 273,00, quando a opção solicitada for em domicílio”, afirmou a nota enviada pela Rede ao jornalismo do ICTQ - Instituto de Pesquisa e Pós-Graduação para o Mercado Farmacêutico.

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Muito cuidado

A Febrafar enviou nota ao Portal do ICTQ informando que é favorável a toda ação que vise a saúde da população e que amplie o acesso dos consumidores a produtos que possam auxiliar nesse objetivo. Contudo, também tem uma preocupação muito grande com a preservação da saúde dos profissionais das farmácias associadas e de todos os consumidores que circulam em seus estabelecimentos farmacêuticos.

“A aplicação dos testes rápidos para detecção do novo coronavírus é um procedimento que exige das farmácias e dos profissionais envolvidos um cuidado muito grande. Para garantir a segurança na aplicação do teste é preciso a utilização de equipamentos de proteção individual (EPIs) específicos – avental, óculos de proteção, touca, luvas descartáveis e máscara cirúrgica – esses produtos são de uso hospitalar e estão escassos no mercado no momento”, disse o documento.

Outros pontos relevantes apontados pela Febrafar são que a aplicação pode estimular uma maior circulação de pessoas com alta probabilidade de contaminação nos estabelecimentos e que haverá a necessidade da desinfecção e higienização específicas no ambiente de teste, sempre que ocorrer um novo atendimento, além de o teste ter que ser realizado em um local apropriado e isolado, conforme a determinação da Anvisa.

“Por fim, muitas das lojas associadas estão se esforçando para se manter ativas e operantes mesmo com redução da equipe de atendimento, por necessidades específicas do período (como é o caso de funcionários em grupos de riscos) e o novo procedimento exigiria manter profissionais direcionados exclusivamente para esses serviços. Assim, diante deste cenário, nossa recomendação, a priori, é que as farmácias e drogarias de nossas redes associadas evitem a realização dos testes se não puderem assegurar a garantia absoluta de segurança para profissionais e consumidores”, avisou a Febrafar.

Fabricante dos exames

A empresa brasileira Hi Technologies lançou, na primeira quinzena de abril, o seu teste rápido para diagnosticar o novo coronavírus (Covid-19). O exame pode ser encontrado em outras nas farmácias no Brasil, segundo informação divulgada pelo hotsite da empresa.

Quanto aos preços disponibilizados às farmácias, a equipe de jornalismo do Portal do ICTQ entrou em contato com o departamento comercial da Hilab, que informou que o produto pode sair com um valor menor no atacado, de acordo com a quantidade:

- De 200 até 999 unidades, o teste fica no valor de R$ 150,00;

- de 1000 até 2999 unidades, o teste fica no valor de R$ 145,00;

- de 3000 até 4999 unidades, o teste fica no valor de R$ 140,00;

- de 5000 até 10.000 unidades, o teste fica no valor de R$ 130,00;

- de 10.000 até 100.000 unidades, o teste fica no valor de R$ 120,00; e

- a partir de 100.000 unidades, o teste fica no valor de R$ 99,00.

No entanto, a Hilab informa que esses valores são os preços disponibilizados pela empresa aos estabelecimentos que desejam comprar o teste na fábrica, não se responsabilizando pelo valor que será cobrado do consumidor final, ou seja, do paciente.

“O teste para a Covid-19 será realizado da mesma maneira que nossos outros exames. É um teste sorológico, ou seja, serve para identificar a presença de anticorpos no sangue”, explicou o CEO da companhia, Marcus Figueiredo, em entrevista publicada no portal Exame.

De acordo com a empresa, os testes já estão em produção de escala. Além das farmácias, a startup afirma que também deverá disponibilizar o produto para outras empresas que tiverem interesse. “O dispositivo Hilab é aprovado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). O teste para a Covid-19 é aprovado in house, significa que os processos de validação do método são realizados de acordo com procedimentos internos da própria empresa”, ressalta a companhia, em nota à imprensa.

Outras redes já oferecem o serviço

A rede de farmácias Vale Verde, de Londrina (PR), está vendendo testes rápidos para Covid-19. Por R$ 200, a coleta é feita no sistema drive-thru, em que o paciente é atendido no automóvel. Para isso, foram instalados contêineres adaptados em três lojas. A rede também faz o exame em domicílio, que custa R$ 250.

O teste rápido de Covid-19 IgG/IgM é um imunoensaio cromatográfico rápido para a detecção qualitativa de anticorpos IgG e IgM para 2019-nCoV em amostra de sangue total, soro ou plasma. A principal diferença desse teste rápido em relação a outros é que ele identifica a presença de anticorpos, ou seja, se a pessoa teve contato com o vírus. “Para isso, é preciso que o paciente esteja com sintomas por, pelo menos, sete dias, para que o teste seja efetivo”, afirma o gerente de operações da Vale Verde, Cristian Leonardi Portela.

Antes da realização do teste, é feita uma triagem para verificar se o paciente teve contato com alguém contaminado, se apresentou sintomas nos últimos dias (febre, falta de ar, dor de garganta). Depois disso, é realizado o agendamento com o cliente.

De acordo com a empresa, não é preciso entrar no estabelecimento, nem mesmo o paciente sair do carro, a coleta é realizada no interior do veículo. O farmacêutico, totalmente protegido, colhe o sangue por meio de um furo no dedo. É possível também agendar o teste na residência.

Feita a coleta, a amostra é colocada num equipamento para análise e leitura. Os dados capturados são enviados para o laboratório central, via internet, para serem analisados por biomédicos. “O resultado fica pronto em aproximadamente 20 minutos e o laudo chega direto no e-mail do cliente”, destaca Portela.

Caso o resultado dê positivo, a pessoa é orientada a procurar a vigilância epidemiológica, e o Ministério da Saúde é comunicado automaticamente.

Segundo o gerente da Vale Verde, foram encomendadas 530 unidades. “Iniciamos a aplicação do exame em 20 de abril. Das 100 unidades que recebemos, 35 foram utilizadas e já temos agendados o restante até a próxima semana, quando receberemos o segundo lote”. Como a matéria-prima é importada e a demanda global elevada, a quantidade de exames é limitada.

Inicialmente, a rede está trabalhando também com os testes do ‘farma móvel’, em que a pessoa liga e eles mandam uma van na residência coletar o material. Custa os mesmos R$ 250,00.

A Anvisa informou que registrou, até o momento, 41 testes rápidos. Desses, só oito foram analisados pela Fiocruz e, segundo a Agência, demonstraram resultados satisfatórios. A Anvisa afirmou ainda que a autorização só ocorre depois de comprovadas as boas práticas de fabricação e avaliações técnicas. E que qualquer desempenho não esperado deve ser notificado à Agência.

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