A farmacêutica Alícia Krüger, do Ministério da Saúde, destaca a importância do farmacêutico clínico, nas políticas públicas para a saúde da mulher

A Farmacêutica Alícia Krüger, do Ministério da Saúde, destaca a importância do farmacêutico clínico, nas Políticas públicas para a saúde da mulher

A farmacêutica, sanitarista e epidemiologista, Alícia Krüger, assumiu a Assessoria de Políticas de Inclusão, Diversidade e Equidade em Saúde do Ministério da Saúde (MS), em janeiro de 2023. A nova pasta do Ministério trabalha em conjunto com a Secretaria de Vigilância em Saúde e Ambiente, e seu o objetivo é equiparar o acesso e o atendimento dentro dos sistemas de saúde. Alícia se tornou a primeira farmacêutica trans a atuar no Ministério da Saúde, trazendo consigo uma sólida formação acadêmica e experiência em políticas de saúde.

Alícia Krüger é graduada em Farmácia pela Universidade Estadual de Ponta Grossa. Possui especialização em Farmácia Clínica e Hospitalar pela UNINTER e Gestão das Políticas de DST/aids, hepatites virais e tuberculose pela UFRN. É mestre em Saúde Coletiva, na área de farmacoepidemiologia pela UnB e doutoranda em Medicina - Endocrinologia e Metabologia pela Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de São Paulo (EPM/UNIFESP).

Além de sua bagagem educacional, Alícia atua no Conselho Federal de Farmácia (CFF) como coordenadora das pautas de cuidado farmacêutico e, também, é interlocutora do VigiAR-SUS, do Ministério da Saúde, no âmbito da Secretaria de Estado de Saúde do Paraná. Foi também consultora nacional da OPAS/OMS, pelo MS, e trabalhou como farmacêutica Clínica no Governo do Distrito Federal.

Em virtude do Dia Internacional de Luta pela Saúde da Mulher, em 28 de maio, Alícia concedeu uma entrevista exclusiva ao ICTQ - Instituto de Pesquisa de Pós-Graduação para o Mercado Farmacêutico, em que discutiu a sua atuação no Ministério da Saúde e destacou a importância da Política Nacional de Atenção Integral à Saúde da Mulher como um direcionamento governamental para promover a saúde das mulheres em todas as fases de suas vidas. Ao longo da entrevista, Alícia fala sobre as ações e desafios enfrentados à frente de sua Assessoria, bem como a importância do farmacêutico no cuidado à saúde das mulheres e na redução da vulnerabilidade feminina.

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ICTQ - Você acaba de assumir a recém-criada Assessoria de Políticas de Inclusão, Diversidade e Equidade em Saúde, no Ministério da Saúde. Quais são os seus principais desafios à frente do cargo?

Alícia Krüger - Essa assessoria é inédita em âmbito do gabinete da Secretaria de Vigilância em Saúde e Ambiente do Ministério da Saúde. É uma assessoria que trata de inclusão, diversidade e equidade. Nós trabalhamos, também, com a diversificação do público interno e com políticas públicas ligadas à vigilância em saúde.

Eu sempre digo que a vigilância é uma ferramenta maravilhosa para a promoção da equidade, desde na produção dos dados até mesmo na atuação da vigilância em saúde. Eu estou muito feliz em poder assumir essa função, a convite da secretária de Vigilância em Saúde e Ambiente, Ethel Maciel, que é uma pessoa que eu admiro e tenho como espelho há muitos anos.

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ICTQ - Qual é o órgão do Ministério da Saúde encarregado da coordenação geral da saúde integral das mulheres?

Alícia Krüger - Existe uma coordenação geral em uma área específica no Ministério da Saúde que está na SAPS, que é a Secretaria de Atenção Primária à Saúde, que cuida da saúde integral das mulheres. Nós, dentro da SVSA - Secretaria de Vigilância e Saúde e Ambiente, temos várias ações que visam à saúde da mulher em nossos departamentos no que tange às imunizações, ao cuidado do HIV-Aids, das hepatites virais, outras ISTs, doenças transmissíveis, como chagas, malária, tracoma, e, também, as emergências em saúde pública, como tantas outras coisas que são inerentes à vigilância e saúde e ambiente.

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ICTQ - Em 28 de maio é comemorado o Dia Internacional de Luta pela Saúde da Mulher. Qual é o papel desempenhado pela assessoria em nível de gabinete da SVSA em relação à saúde das mulheres?

Alícia Krüger - Essa assessoria, que a doutora Ethel Maciel montou e da qual eu faço parte, atua em nível de gabinete da SVSA. É, justamente, um dos meus grandes temas de trabalho. Então, eu coordeno todas as ações da secretaria que são vetorizadas às mulheres. Nós estamos fazendo parte do grupo de trabalho interno do Ministério da Saúde sobre a equidade de gênero e raça e a valorização das trabalhadoras do SUS. Assim, SVSA está tendo um papel bem importante nesse grupo interno, que é coordenado pela SGETS - Secretaria de Gestão no Trabalho na Educação e Saúde. 

ICTQ - Quais são as ações realizadas pelo departamento de HIV-Aids, tuberculose, hepatites virais e IST do MS e como impactam diretamente na vida das mulheres?

Alícia Krüger - Como havia falado, nós temos, também, ações no departamento de HIV-Aids, tuberculose, hepatites virais e IST e estamos tocando uma agenda da eliminação da transmissão vertical dessas doenças como problema de saúde pública e que isso afeta diretamente a vida das mulheres que engravidam, as mulheres que têm esses agravos para que não transmitam para a criança na hora da gravidez, do parto ou mesmo do aleitamento. Isso envolve também os homens trans, em suma, todas as pessoas que engravidam. Nós temos todo o cuidado com as mulheres em várias ações do Ministério da Saúde, no que tange a esses agravos.

ICTQ - Quais ações o Departamento de Análise Epidemiológica e Vigilância de Doenças Não Transmissíveis (DAENT) realiza para promover a saúde das mulheres?

Alícia Krüger - Também cuidamos da saúde das mulheres, no DAENT. Nós soltamos o primeiro grande boletim da nossa gestão em março, falando sobre todo o ciclo de saúde da mulher no que tange a diferentes agravos não transmissíveis a violência, falamos das mulheres lésbicas, travestis e transsexuais em relação à violência, também das mulheres no processo de maternagem (vínculo afetivo do cuidado e acolhimento ao filho por uma mãe) e no processo também de infância, de meninas e mulheres no geral.

Por fim, são muitas as ações que a nossa secretaria toca em relação ao cuidado da saúde feminina, principalmente, no que se trata da vigilância em saúde ambiente.

ICTQ - Como os serviços de saúde podem se tornar espaços acolhedores para as mulheres?

Alícia Krüger - Nós precisamos sempre fazer espaços acolhedores, não é? Pois é muito importante que os serviços de saúde sejam de acalento para essas mulheres e que tenham espaços apropriados para as suas crianças e familiares estarem juntos. Ter ambientes mais amigáveis é muito importante para que elas se sintam bem, seja tanto espaço físico ou na abordagem dos profissionais de saúde.

ICTQ - Qual é o papel do farmacêutico no cuidado à saúde das mulheres?

Alícia Krüger - O papel do farmacêutico é crucial em vários momentos. O farmacêutico faz toda a performance da atenção farmacêutica, prestação de cuidado para essas mulheres que, muitas vezes, vão procurar um teste de gravidez ou teste para alguma IST, ou procuram por informações sobre o uso do anticoncepcional. No caso das mulheres trans e travestis, a procura do farmacêutico é para uma orientação no uso dos hormônios e o farmacêutico, com todo o seu rol de conhecimentos farmacológicos, de anamnese, de saúde coletiva, pode e deve prestar toda assistência pra essa mulher em todo o ciclo do medicamento, desde a da orientação das diferentes formas farmacêuticas, posologias e tirar as dúvidas suas dúvidas na hora da dispensação do medicamento ou no ambiente de análises clínicas ou em qualquer outro local que  farmacêutico esteja inserido.

ICTQ - Quais são os fatores que contribuem para o adoecimento diferenciado das mulheres em relação aos homens e por que é importante cuidar da saúde mental delas? Como o papel do profissional farmacêutico é relevante nesse cuidado?

Alícia Krüger - As mulheres vivem mais do que os homens estatística e epidemiologicamente falando, mas nós sabemos da sua vulnerabilidade, e não é tanto por fatores biológicos, pois, é muito difícil a gente ficar fazendo todas as inferências de causalidade sobre fatores biológicos sem considerar os determinantes sociais em saúde.

Nós sabemos que as mulheres adoecem num padrão diferente de homens, algumas vezes por alguns fatores biológicos, mas em grande maioria das vezes, é pelo machismo que a sociedade impõe para elas, que muitas vezes tem que cuidar muito mais da família do que de si mesma, além do estresse do dia a dia e das violências domésticas e local de trabalho.

Tudo isso faz com que o adoecimento ocorra, não só do ponto de vista físico, mas também do ponto de vista mental, e a gente precisa cuidar dessas mulheres. O profissional farmacêutico é muito importante nesse cuidado também da saúde mental.

ICTQ - De que forma o farmacêutico pode contribuir para reduzir essa vulnerabilidade das mulheres?

 Alícia Krüger - O farmacêutico pode atuar em diferentes frentes para diminuir a vulnerabilidade das mulheres, lembrando também daquele projeto do “X na Mão”, em que as mulheres, chegando na farmácia e mostrando para o farmacêutico ou para alguém da equipe esse X, estavam solicitando ajuda. É uma ação contra a violência. Eu acho que foi um projeto muito interessante e lembrando que nosso baluarte da Farmácia Brasileira, é a doutora Maria da Penha, que é uma farmacêutica, sendo assim, acho que é nela que nós precisamos nos espelhar para os enfrentamentos das violências contra as mulheres no Brasil.

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