O ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, chamou de “pífias” as propostas apresentadas por desenvolvedores de vacinas ao Brasil. A declaração neste mês, dezembro de 2020, durante audiência pública por videoconferência no Congresso Nacional. Para ele, poucas empresas têm fôlego para atender ao País.
“Ficou óbvio que são muito poucas as fabricantes que têm a quantidade e cronograma de entrega efetivo para nosso País. Quando a gente chega no fim das negociações e vai para cronograma de entrega, fabricação, os números são pífios. (Considerando) números em grande quantidade, se reduz (sic) a uma, duas, três ideias”, disse Pazuello, conforme o Estadão.
Pazuello criticou também a “campanha publicitária muito forte” para venda de vacina, e disse que as propostas não têm agradado. “Na hora que vai efetivar a compra, vai escolher, não tem bem aquilo que tu quer (sic), o preço não é bem aquele, e a qualidade não é aquela”, salientou.
O ministro afirmou ainda que o Brasil trabalha com “no máximo” três opções de vacina contra a Covid-19 no planejamento da imunização da população contra o novo coronavírus. A declaração ocorreu poucas horas após o anúncio da aprovação da vacina da Pfizer e da Biontech pelo Reino Unido. Contudo, o próprio governo federal reduziu a possibilidade de adquirir a vacina produzida pela Pfizer em razão da dificuldade de armazenamento.
Durante o encontro na Câmara dos Deputados, o ministro afirmou que o Brasil pode ter 300 milhões de doses em 2021, sendo cerca de 100 milhões entregues pela Astrazeneca até o fim do primeiro semestre, além de outras 160 milhões de unidades, do mesmo modelo, que serão fabricadas pela Fiocruz. Além disso, outras seriam compradas do consórcio Covax Facility, iniciativa internacional liderada pela Organização Mundial da Saúde (OMS), na qual o Brasil investe R$ 2,5 bilhões.
“O Brasil aderiu a esse consórcio desde o desenvolvimento das vacinas, já com opção de compra, (com) recebimento de 42 milhões de doses, que poderá ser de uma das dez fabricantes (que participam do Covax). Inclusive a própria Astrazeneca ou a Pfizer, por exemplo, estão no consórcio”, disse Pazuello, segundo o Estadão. A Pfizer ainda negocia a entrada na iniciativa internacional Covax, liderada pela Organização Mundial da Saúde (OMS).
Segundo cronograma apresentado na terça-feira (1/12) pelo Ministério da Saúde, em reunião com um comitê de especialistas, idosos com 75 anos ou mais, profissionais de saúde e indígenas serão os primeiros a ser vacinados contra a Covid-19 no País, revelou o Estadão. No encontro, a pasta informou que a perspectiva é começar a vacinação contra a doença em março de 2021 e finalizar a campanha somente em dezembro, quando há previsão de oferta de doses suficientes para imunizar a população-alvo.
Por enquanto, é isso que se sabe do plano – não foi dito nada como será a distribuição, compra de seringas, quem vai receber as vacinas depois do primeiro grupo, quanto tempo ela será disponibilizada após aprovação e quem vai efetivamente fazer esse trabalho (há países já mobilizando as Forças Armadas). E ele já recebe críticas pelo que apresentou.
O presidente do Hospital Albert Einstein, Sidney Klajner, criticou a proposta de vacinação do Ministério da Saúde. Em entrevista ao jornal O Globo, ele desaprovou, por exemplo, a escolha do grupo prioritário para vacinação. “Essa discussão tem que ser levada a uma profundidade maior. Grande parte da mortalidade não está nesses idosos acima de 75 anos e sim na população que sai mais de casa e se expõe, entre 60 e 75 anos. A mortalidade é maior na população mais ativa”, afirmou ao jornal.
Ele criticou também o uso político da vacina. “No momento em que existe a politização de uma ou outra vacina, corremos o risco de o apoiador desta ou daquela liderança tomar o imunizante que ela apoia. O risco é deixar de tomar a vacina por uma ideologia e não por uma questão sanitária. Em período de pandemia, toda vez que colocamos a nossa vida em risco, colocamos a do outro também”, alertou.
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Pazuello não citou na audiência no Congresso a compra da Coronavac, que está sendo desenvolvida pela empresa chinesa Sinovac e o Instituto Butantan, talvez com receio de levar outra reprimenda do presidente da República. Enquanto isso, São Paulo recebeu nesta quinta-feira (3/12) uma carga de insumos para a produção de 1 milhão de doses da vacina. O governo paulista trabalha com a previsão de que o imunizante tenha uma autorização de uso emergencial por parte da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) ainda em janeiro.
O diretor do Butantan, Dimas Covas disse hoje de manhã que, com ou sem financiamento do Ministério da Saúde, as 46 milhões de doses serão usadas no próximo ano. “Será a primeira vacina disponível no Brasil. Com o financiamento do ministério ou sem o financiamento do ministério, essas 46 milhões de doses serão utilizadas muito rapidamente no início do próximo ano. Nós já temos acordo com diversos estados e confederações de municípios, então será feito. Espero que com apoio do ministério”, afirmou, segundo o Uol.
Covas também criticou o cronograma do ministério. “Se a vacina estiver pronta para uso, nós temos que começar a vacinação. Simplesmente porque a vacina pode salvar um milhão de pessoas. Não faz sentido atrasar a distribuição de uma vacina já registrada na Anvisa”, argumentou Covas, em entrevista à Globonews.
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