Produção nacional de IFAs avança e reacende esperança de autonomia para o Brasil

Mais um sinal concreto da possível retomada da soberania farmacêutica nacional com a produção de Insumo Farmacêutico Ativo (IFA). Oo anúncio recente da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) trouxe um novo fôlego ao Complexo Econômico-Industrial da Saúde (CEIS) com o lançamento do biofármaco infliximabe, utilizado para tratar doenças autoimunes como artrite reumatoide e doença de Crohn, cujo IFA passará a ser produzido no Brasil pela Bionovis.

Há poucas décadas, o país chegou a produzir cerca de 50% dos seus IFAs. Atualmente, esse número gira em torno de 5%. A dependência de importações, principalmente da China e da Índia, escancarou sua fragilidade durante a pandemia de Covid-19, quando cadeias logísticas foram interrompidas, medicamentos faltaram e o alerta soou para além do setor farmacêutico. Para o Brasil, recuperar a capacidade de produzir seus próprios insumos tornou-se questão de saúde pública, desenvolvimento tecnológico e autonomia geopolítica.

“O incremento da produção de IFAs no Brasil é urgente. Estamos estagnados há mais de 20 anos, o que nos tornou dependentes de mercados asiáticos, europeus e norte-americanos”, afirma o professor do ICTQ – Instituto de Pesquisa e Pós-Graduação para o Mercado Farmacêutico e diretor industrial da Eget Global, Azi Mauricio Guerra Ceccopieri. “Essa retomada é essencial para fortalecer o CEIS e, consequentemente, o próprio sistema de saúde”.

Para o farmacêutico e gerente da Qualidade na Fagron, João Paulo Sartin Mendes, a raiz do problema remonta à globalização dos anos 1980, quando o mercado passou a privilegiar países com mão de obra barata e investimentos maciços em tecnologia, como China e Índia.

“A China é responsável hoje por mais de 40% da produção global de IFAs. E com o advento dos genéricos no Brasil, nossa indústria cresceu, mas optou por importar de países com mais tecnologia e menor custo. A ausência de incentivos à pesquisa e à inovação aqui no Brasil aprofundou essa dependência”, explica Mendes.

Segundo ele, há um componente estratégico nessa discussão: “Durante a pandemia, o mundo todo entendeu que depender de fornecedores externos para insumos críticos é um risco imenso. Ter uma indústria nacional de IFAs é vital para a soberania sanitária e econômica do Brasil”.

Um retrato atual do setor

De acordo com o Censo 2025, conduzido pela Fiocruz em parceria com Abiquifi e Abifina, o Brasil possui atualmente 37 fabricantes de IFAs, a maioria (62%) concentrada na Região Sudeste. O Sul abriga 30% dessas indústrias. Em 2024, a produção nacional foi de 1.436 toneladas — um aumento de 8,9% em dez anos, ainda tímido frente às necessidades da demanda interna.

“O cenário atual ainda é modesto. A maioria das indústrias nacionais opera com processos manuais ou semiautomáticos. Precisamos de investimentos em automação, controle de contaminação e modernização, como fazem os países dos quais dependemos”, reforça Ceccopieri.

Ele destaca ainda a liderança das multinacionais em parques produtivos de ponta e a falta de incentivo à inovação nas empresas brasileiras. “Temos que investir em formação técnica, automação e pesquisa. Sem isso, nossa capacidade de competir será sempre limitada”.

Falta gente qualificada

A lacuna no capital humano é outro obstáculo. Para desenvolver e fabricar IFAs, são necessárias equipes multidisciplinares altamente qualificadas — algo que o Brasil ainda não tem em escala.

“Atualmente, o desenvolvimento humano voltado à produção de IFAs é extremamente carente. Nossos cursos de ensino técnico, graduação e até centros de pesquisa estão concentrados no Sudeste e no Sul, dificultando o acesso de profissionais de outras regiões”, observa Ceccopieri. “Os profissionais que querem atuar nessa área enfrentam competição intensa por poucas vagas”.

Mendes concorda: “Há carência de profissionais especializados porque não existe demanda. Precisamos de políticas públicas para criar essa demanda e, consequentemente, formar mais gente qualificada. Isso vale para engenheiros, farmacêuticos, técnicos de produção, profissionais de qualidade, entre outros”.

Biofármacos e impacto no SUS

A recente produção nacional do IFA do infliximabe é um marco não apenas tecnológico, mas também econômico. Produzido por engenharia genética, esse tipo de medicamento exige altíssimo controle de qualidade e estrutura fabril moderna, justamente o que o Brasil precisa para subir um degrau na cadeia produtiva.

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“A produção local de biofármacos tem impacto direto no acesso da população aos tratamentos pelo Sistema Único de Saúde (SUS) e também representa economia para o Estado, que pode deixar de importar e incentivar a indústria nacional”, afirma Mendes.

Além do infliximabe, o professor Ceccopieri destaca exemplos de fabricantes nacionais que vêm se destacando nesse cenário. A Nortec Química, por exemplo, é líder na América Latina em IFAs como benznidazol e antirretrovirais, enquanto a Prati-Donaduzzi tem apostado na produção de canabidiol (CBD) e cabergolina. Ambas adotam o modelo de verticalização, produzindo tanto o IFA quanto o medicamento final.

Um jogo desigual

A retomada da produção nacional de IFAs, no entanto, ainda esbarra em desigualdades estruturais. Ceccopieri cita como exemplo os custos tributários: “Enquanto países como China e Índia não têm encargos sociais elevados, nem impostos como os nossos, aqui no Brasil enfrentamos uma carga tributária que sufoca o setor”.

Segundo dados da Câmara de Comércio da China para Importação e Exportação de Medicamentos e Produtos de Saúde, em 2019 a China exportou 10 milhões de toneladas de IFAs, com receita de US$ 33,7 bilhões. Empresas como Shenzhen Hepalink e Zhejiang Huahai Pharmaceutical tiveram crescimento de até 37% em receita — algo impensável no Brasil sob as regras atuais.

“A competição é desleal. O Brasil não tem como brigar com esses números se não repensar sua política industrial e seus incentivos à inovação”, defende Ceccopieri. “Investimos em setores como o automotivo, agrícola e aeroespacial, mas relegamos o setor farmacêutico — que é estratégico, ainda mais com uma população cada vez mais envelhecida”.

PDPs e futuro possível

As Parcerias para o Desenvolvimento Produtivo (PDPs) são apontadas como um dos instrumentos mais eficazes para mudar esse cenário. Ao promoverem a transferência de tecnologia entre empresas privadas e laboratórios públicos, elas permitiram avanços importantes, especialmente no fornecimento de medicamentos ao SUS.

Ainda há muito a melhorar nesse modelo. As PDPs precisam ser mais ágeis, menos burocráticas e mais bem acompanhadas em termos de cronograma, metas e resultados. É possível fazer mais com menos se houver comprometimento e fiscalização.

Para Mendes, uma alternativa viável no curto e médio prazo seria o investimento em moléculas específicas. “Não dá para competir com todo o portfólio internacional. Mas dá, sim, para apostar em nichos, onde temos demanda e know-how. Isso pode ser o começo de uma nova etapa”.

Caminhos possíveis

A reconstrução da indústria nacional de IFAs exige uma combinação de estratégias, que passam por investimentos públicos e privados, incentivo à pesquisa e inovação, formação técnica, segurança jurídica e incentivos fiscais.

“Temos maquinário, temos empresas competentes, temos vontade. Mas falta articulação institucional e visão estratégica de longo prazo”, diz Ceccopieri. “O Brasil não pode mais ficar à margem da produção de insumos farmacêuticos. Está em jogo nossa capacidade de cuidar da própria população”.

A produção do infliximabe no país é importante, mas não deve ser vista como ponto de chegada, e sim como ponto de partida. O Complexo Econômico-Industrial da Saúde precisa se fortalecer agora — antes que outra crise global mostre, mais uma vez, o preço da dependência.

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Essa formação é ideal para quem deseja se destacar no controle da qualidade e na auditoria, áreas estratégicas que garantem o sucesso e a competitividade das empresas farmacêuticas, especialmente em mercados altamente exigentes.

A pós-graduação em P&D Analítico e Controle de Qualidade na Indústria Farmacêutica e em Gestão e Tecnologia Industrial Farmacêutica também são oportunidades de aprimoramento, focadas em pesquisa e desenvolvimento, e na aplicação das mais recentes inovações tecnológicas no setor farmacêutico.

Com esses cursos, os profissionais adquirem um diferencial competitivo, projetando-se como líderes capazes de promover inovações e avanços tecnológicos dentro da indústria farmacêutica.

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