A participação global do Brasil em estudos clínicos oscilou negativamente de 3%, em 2011, para 1,9% em 2019, pior resultado da década. Em termos de ranking de países, o País caiu da 17ª posição para a 25ª, conforme o Guia 2020 da Associação da Indústria Farmacêutica de Pesquisa (Interfarma).
Outro dado nada promissor para a 9ª maior economia do mundo, segundo o Fundo Monetário Internacional (FMI), diz respeito à inovação. Dentre 169 países, o Brasil ocupa apenas a 66ª posição no ranking mundial, segundo o Global Innovation Index 2019 (GII), um dos mais importantes relatórios do segmento. Comparado a 2018, o País ainda caiu duas posições.
Um dos fatores determinantes para a queda foi a piora na avaliação de ações que estimulam a inovação no Brasil, como o incentivo à pesquisa, praticamente abortada pelo Governo Federal. Na economia moderna, investimentos realizados em pesquisa e desenvolvimento (P&D) pelos setores privado ou público são uma forma de mensurar o potencial de uma nação. Quanto mais o Estado incentiva a produção de inovação e a descoberta de novos conhecimentos, mais atrativo o país se torna para receber investimentos. Maior desenvolvimento representa melhores condições de vida à população.
Segundo a Interfarma, o desempenho do Brasil é tímido nas participações de pesquisa clínica. Dos 3.170 estudos clínicos iniciados em 2019, na área de Oncologia, o País participa de 68, ou seja, 2,1% do total global (mesma participação que tinha em 2014). Em Sistema Nervoso Central, os números são ainda menores: participação de 1% do total global, com uma perda de 0,7 ponto percentual na comparação com 2014.
Apesar do enorme potencial que possui, o Brasil tem representado um papel secundário em termos de estímulo a pesquisas. “O momento de pandemia reforçou a importância da pesquisa clínica. Estima-se que o Brasil tenha potencial para passar para a 10ª posição no ranking mundial de pesquisa clínica”, revelou a presidente da Interfarma, Elizabeth de Carvalhaes.
Caso tal crescimento ocorra, continua Elizabeth, calcula-se que o País tenha um ganho anual de R$ 2 bilhões em investimentos e beneficie mais de 55 mil pacientes. “Essa capacidade se dará via uma mudança do cenário político e regulatório. Por isso trabalhamos muito junto à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e ao Congresso Nacional para mudar o contexto atual”, completou Elizabeth.
Mas, por enquanto, o cenário não é esse. Atualmente, o maior volume de gastos com medicamentos comercializados no Brasil é referente a produtos com mais de 11 anos de presença no mercado nacional. A demora na atualização do mercado significa, segundo a Interfarma, que o paciente brasileiro está sem acesso às maiores inovações em saúde disponíveis em outros países.
São tratamentos que poderiam dar mais qualidade de vida ou até mesmo curar doenças. Portanto, apesar de todo o potencial do País, estamos ainda na contramão do mercado global, pois o volume de pesquisas clínicas e de lançamentos de novos tratamentos tem crescido mundialmente, mas não na mesma velocidade aqui no Brasil, diz a Interfarma.
Ainda de acordo com a entidade, o déficit na balança comercial de medicamentos no Brasil tem registrado constante aumento nos últimos anos, chegando a mais de R$ 6 bilhões em 2019. Segundo ela, uma das principais medidas para reverter esse cenário seria a criação de um ambiente favorável à pesquisa clínica, com celeridade para avaliação de pedidos de estudos, integração entre governos, universidades e iniciativa privada, fomento à inovação e ao empreendedorismo.
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Um dos dados positivos da pesquisa da Interfarma diz respeito ao tamanho do mercado farmacêutico no País, que tem oscilado entre a 6ª e a 7ª posições no ranking global. Segundo a Interfarma, nesse ritmo de crescimento, estima-se que o Brasil alcance a 5ª posição em 2023. O mercado farmacêutico brasileiro, que engloba as vendas de todos os laboratórios instalados no Brasil, chegou a R$ 102,8 bilhões em 2019. O valor representa crescimento de 11,4% em comparação ao ano anterior.
O aumento mais significativo ocorreu no chamado mercado institucional, formado por governos, clínicas e hospitais, correspondendo a R$ 33,7 bilhões – crescimento de 57,5% desde 2015, impulsionado principalmente por medicamentos inovadores, indicados para o tratamento de doenças complexas como câncer, problemas degenerativos e doenças raras. Já o varejo farmacêutico, em que 75% das compras são realizadas pelo público final, respondeu por R$ 69 bilhões das vendas em 2019. Seu aumento foi de 53% nos últimos quatro anos.
Esse bom desempenho do Brasil acontece por algumas razões, avalia a Interfarma. A primeira delas é o potencial de mercado tendo em vista o tamanho da população (210 milhões de habitantes, 6ª do mundo, conforme o IBGE). A segunda diz respeito ao acesso universal aos serviços de saúde por meio do Sistema Único de Saúde (SUS). Já o terceiro fator envolve a longevidade, que tem crescido entre os brasileiros. Com o envelhecimento da população aumentam as chances de uma pessoa ficar doente e precisar de medicamentos.
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