Garantir a segurança de um medicamento é uma condição fundamental em todo o processo de fabricação. As indústrias farmacêuticas necessitam manter rígidos padrões de controle de umidade, por exemplo, na produção, estocagem e distribuição. Assim, a melhor forma de manter a umidade sob controle é com tecnologia especializada, principalmente com os desumidificadores, que são capazes de manter os níveis ideais de umidade conforme a necessidade de cada caso.
A RDC 17/10, que dispõe sobre as boas práticas de fabricação de medicamentos, esclarece os requisitos mínimos a serem seguidos na fabricação desses produtos, entre eles a qualificação de ambientes e equipamentos.
O local de armazenamento, seja matéria-prima ou produto acabado, é essencial para manter a qualidade. O artigo 109, por exemplo, trata sobre o controle da umidade no ambiente. O excesso de umidade nos ambientes de manipulação e estocagem dos medicamentos pode prejudicar a aparência e, principalmente, comprometer a sua eficácia.
As indústrias farmacêuticas que desejam fazer um controle extremamente efetivo da umidade, principalmente quando se vai trabalhar com produtos destinados à glaucoma ou penicilínicos, por exemplo, precisam investir em tecnologia e equipamentos destinados a esse fim.
“Há disponíveis no mercado vários desumidificadores de ambiente, inclusive que utilizam de sílica gel. Um desses capta o ar da sala por uma série de tubos e o leva para um sistema de compressão construído em sílica. A umidade é retirada e o ar devolvido para o ambiente. Um sistema de ultrassom associado a um sistema de temperatura elevada, na faixa dos 100ºC faz com que a água evapore e seja recolhida em um recipiente que depois é descartado”, conta o professor do ICTQ – Instituto de Pesquisa e Pós-Graduação para o Mercado Farmacêutico, Azi Maurício Ceccopieri.
A indústria também pode contar com a tecnologia de desumidificação do ar por meio do Desidrat Dessecante, equipamento que controla rigorosamente a umidade do ar de forma contínua nos níveis necessários para evitar danos aos produtos. De acordo com o diretor comercial da Thermomatic, Sven von Borries, ele funciona até em baixas temperaturas, ajudando a conservar o sistema de refrigeração e acelerando os processos. A capacidade de desumidificação e o desempenho do equipamento são alguns dos fatores levados em conta no momento da escolha.
“A umidade deve ser minuciosamente controlada em todas as etapas da cadeia produtiva da indústria farmacêutica, desde o recebimento das matérias-primas, até a produção, embalagem, transporte e armazenamento dos produtos finais. Essa é uma questão que trata da segurança dos medicamentos, já que a umidade pode causar instabilidade nas fórmulas e a contaminação por fungos e bactérias, representando riscos à saúde”, ressalta Borries.
A umidade acima dos níveis recomendados pode ser extremamente danosa, podendo comprometer lotes inteiros. Além dos prejuízos que podem causar à qualidade e integridade dos medicamentos, pode ainda deteriorar máquinas e equipamentos, ocasionando ferrugem. Inúmeras substâncias dos medicamentos são higroscópicas, o que os torna ainda mais suscetíveis à ação da umidade.
Prejuízos
“Algumas indústrias farmacêuticas exigem uma extrema necessidade do controle da umidade, que pode ser feito por equipamentos locais ou centrais. Por exemplo, o sistema de ar-condicionado central, os famosos HVAC, possuem processos de controle de umidade. Outras empresas adotam unidades remotas de controladores de umidade – exemplo de controles locais”, fala Ceccopieri.
No Estado do Rio de Janeiro, onde a umidade relativa varia de 90% a 95%, produzir um medicamento efervescente requer que a umidade dentro da fábrica esteja em 40%, caso contrário o produto irá absorver a umidade ambiente e, quando for encapsulado ou embalado, ele certamente explodirá.
Dentre os inúmeros prejuízos que pode causar à indústria farmacêutica, a umidade alta favorece a proliferação de microrganismos, como bactérias e fungos que podem desencadear sérios processos de contaminação. Os fungos, por exemplo, são responsáveis pelo surgimento do bolor e do mofo, que destroem o material orgânico.
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“Além da contaminação biológica dos medicamentos e da perda de eficácia das fórmulas, a umidade também é responsável por causar alterações nas características dos fármacos e o empedramento (e consequente descarte) dos insumos em pó, que são higroscópicos. Os equipamentos também são prejudicados pela ação da umidade em excesso, já que pode provocar problemas no sistema de refrigeração e no maquinário, interrompendo a produção e a lucratividade”, afirma Borries.
Alguns danos que a umidade pode provocar nos produtos farmacêuticos:
- Manchas e descoloração nos comprimidos;
- Rachaduras e manchas nas drágeas;
- Alteração de consistência e amolecimento em cápsulas;
- Endurecimento (empedramento) e mudança de cor em medicamentos em pó;
- Redução de volume, mudança da consistência e formação de cristais em cremes e pomadas; entre outros.
“Mesmo com controle de umidade para processos que trabalham com sólidos, pós ou até misturas de pós, como a penicilina, a possibilidade de se fazer uma absorção de umidade no frasco é muito grande. Água é vida, se você tiver contato, mesmo que diminuto, com ela, você pode contaminá-la. A água evapora e se transforma em umidade presente no ar e, caso não seja controlada, a produção de sólidos ou outros tipos de medicamentos que são suscetíveis à contaminação por umidade leva a um imenso problema de contaminação, fazendo crescer leveduras, fungos e bolores”, explica Ceccopieri.
Vivência
O professor contou que já trabalhou com a produção de um composto vitamínico que tinha em sua formulação cloreto de magnésio, porém se esse item estiver sendo manuseado em uma atmosfera de umidade de 30%, ele absorve a água e se transforma em uma solução pastosa. Para se trabalhar com ele, a umidade precisa estar de 21% a 22%, ou seja, se faz necessário enclausurar uma máquina e ter um sistema forte de controle de ar e umidade.
Uma alternativa é mudar a formulação e adicionar outros compostos à base de magnésio, mas que não são tão bons quanto o cloreto. Essa opção demanda uma estrutura envolvendo revalidação de registro, a necessidade de um pós-registro, de um novo dossiê para testar a estabilidade do produto, um trabalho de lançamento de produto sem diferença alguma. Será necessário ter todos os estudos farmacológicos e químicos para prever que o produto está adequado para uso.
O estudo de estabilidade é uma das fases que a indústria farmacêutica deve desenvolver para registrar um medicamento junto à Anvisa. É nele que se comprova o prazo de validade do produto. A estabilidade depende de fatores ambientais, como temperatura, umidade, luz, além de fatores relacionados ao próprio produto, como propriedades físicas e químicas, de substâncias ativas e excipientes farmacêuticos, forma farmacêutica e sua composição, processo de fabricação, tipo e propriedades dos materiais de embalagens.
Alguns exemplos de controles de umidade necessários:
- Menor que 50% para a fabricação de injetáveis e áreas de testes;
- Inferior a 35% para fabricação de pós das ampolas; e
- Inferior ou igual a 25% para processamento de mistura de pó, comprimidos compostos e fabricação de cápsulas gelatinosas.
Controle
Conforme pesquisa realizada pela Agência Reguladora de Medicamentos e Produtos para a Saúde (MHRA), cerca de 43% das perdas de medicamentos estão relacionadas com problemas nas condições de armazenamento, ou seja, aspectos relativos à falta de monitoramento de umidade e temperatura. Esses desperdícios de produtos representam grandes perdas financeiras para a indústria, mas podem ser evitados com o controle dessas variáveis.
“É importante ressaltar que, quando se trabalha com possibilidade de ocorrer uma contaminação com fármacos, existe outra probabilidade de contaminação tão perigosa quanto os próprios fármacos que estão sendo produzidos sem o ambiente estar com umidade controlada: as embalagens de papel”, garante Ceccopieri.
Geralmente, a embalagem secundária do produto é o papel cartão, e a última é uma caixa de papelão polionda. De acordo com o professor, essa última é um ‘meio de cultura ambulante’. Existem diversos casos de consumidores que tiveram problemas de contaminação de embalagem final, que foi percebido ao abrirem e encontrarem fungos, leveduras e bolor, porque havia umidade na área de estocagem.
“Se a umidade estiver controlada, os níveis aceitáveis de perda de material por excesso variam entre 0,5% e 01%. Eu já vi casos de perdas de 4% a 5% de produto porque a embalagem final estava molhada”, revelou Ceccopieri.
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