Depois de três meses seguidos de alta, a produção industrial brasileira caiu 1,2% em novembro, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). No acumulado no ano de 2019, o setor teve queda de 1,1%. Em 12 meses, a produção manteve recuo de 1,3%, repetindo os resultados de setembro e outubro.
Na contramão da maioria dos setores no Brasil, a indústria farmacêutica apresenta imponente crescimento nos últimos dois anos. Nem mesmo a instabilidade econômica que o País vivencia tem impedido o impulsionamento desse mercado. As expectativas são altas. Nos próximos quatro anos a tendência é de que o Brasil assuma a quinta posição do ranking mundial da indústria farmacêutica, liderado, atualmente, pelos Estados Unidos.
O País deve subir duas posições até 2023. A informação é do Guia 2019 da Associação da Indústria Farmacêutica de Pesquisa (Interfarma). De um lado, as dimensões continentais favorecem o destaque do Brasil, justamente por haver um mercado expressivo. De outro, as dificuldades de acesso existentes o impedem de ocupar uma posição ainda mais elevada no ranking mundial.
A publicação informa que o gasto global com medicamentos atingiu US$ 1,2 trilhão em 2018 (pouco mais de R$ 5 trilhões) e estima-se que ele ultrapasse US$ 1,5 trilhão em 2023 (R$ 6,2 trilhões). Já o mercado farmacêutico brasileiro deve movimentar entre US$ 39 bilhões (R$ 162 bilhões) e US$ 43 bilhões (R$ 179 bilhões) em 2023, comercializando algo em torno de 238 milhões de doses.
Em termos de faturamento, o mercado nacional deve estar bem equilibrado, considerando os medicamentos de referência, os similares, os Medicamentos Isentos de Prescrição (MIPs) e os genéricos.
Segundo o Guia, entre as 10 empresas com o maior faturamento no Brasil, seis são indústrias nacionais e o faturamento das cinco empresas líderes equivale a 82,5% do faturamento das demais 15 empresas. Encabeçam a lista a Aché, EMS Pharma, Eurofarma, Sanofi e Novartis.
Panorama 2019
De acordo com a IQVIA, empresa global associada a soluções de auditoria, tecnologia e consultoria para o mercado de saúde, presente no Brasil há 46 anos, o mercado farmacêutico brasileiro alcançou, em 2019, R$ 215,6 bilhões em vendas. O Instituto mostrou ainda crescimento do varejo abaixo dos canais institucionais, porém ainda acima da inflação.
O mercado farmacêutico está em mudança devido à nova onda de lançamentos das indústrias farmacêuticas, que buscam soluções, principalmente, para oncologia, depressão, Alzheimer e doenças raras. Essas doenças, na maioria dos casos, são tratadas em ambiente hospitalar e não na farmácia tradicional.
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“O mercado farmacêutico apresentou crescimento próximo a 10% em 2019, acima do verificado nos últimos anos, que ficou em torno de 4% a 8%. Se descontarmos a inflação, 2019 foi o melhor período dos últimos cinco anos em termos de crescimento real”, avaliou o diretor associado de Relacionamento com Parceiros Estratégicos da IQVIA, Alexandre Santos.
Em nota ao Anuário do ICTQ – Instituto de Pesquisa e Pós-Graduação para o Mercado Farmacêutico, a Interfarma foi mais otimista e disse que o mercado farmacêutico nacional tem crescido em torno de 10% ao ano. Estimava-se um incremento de 9% em 2019, com manutenção do ritmo de crescimento em 2020.
“É importante ressaltar que a indústria farmacêutica, diferentemente de outros setores, tende a ser menos vulnerável às oscilações da economia, por conta da essencialidade do produto farmacêutico. Essa é uma característica mundial, que se reflete também no Brasil”, explicava a nota.
Segundo a Interfarma, no mercado brasileiro, cerca de 75% das vendas é out-of-pocket, ou seja, o paciente brasileiro paga pelas terapias que precisa. As compras do governo, dessa forma, se tornam especialmente relevantes no caso de medicamentos de alto custo, como tratamentos para doenças raras, câncer, doenças degenerativas e neurológicas, entre outras. Portanto, a incorporação de terapias modernas, pelo Sistema Único de Saúde (SUS), pode ter impacto positivo no setor.
Indústria
Também em nota, o Sindicato da Indústria de Produtos Farmacêuticos no Estado de São Paulo (Sindusfarma) anunciou que as vendas da indústria farmacêutica no País somaram, aproximadamente, R$ 68 bilhões, no canal Farmácia, em 2019, o que representou um crescimento de cerca de 10% na comparação com 2018. A gradual recuperação do consumo das famílias, ainda que lenta, contribuiu para esse resultado.
“O cenário de 2020 é de crescimento, o que alavancaria os negócios da indústria farmacêutica no Brasil. Esperamos, também, uma postura liberal da parte do governo, a fim de que possamos trazer novas tecnologias para o País, melhorando a saúde da população brasileira”, ressaltou o Sindusfarma.
Varejo
De acordo com números da IQVIA, o varejo farmacêutico cresceu 7,1% no último ano, com aumento da importância da cesta de não medicamentos nas vendas totais. Quase 75% do mercado farmacêutico brasileiro estão concentrados em oito Estados, cada um apresenta um perfil de crescimento diferente – São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Rio Grande do Sul, Paraná, Bahia, Santa Catarina e Goiás. Apesar do avanço do associativismo, as redes ainda têm o domínio de grande parte do mercado.
Com 16% das cerca de 79 mil farmácias do Brasil, as vendas médias das redes ainda são superiores às do canal associativismo. Ainda que o Brasil possua um número parecido aos dos países da Europa em termos de farmácias por habitantes, o consumo per capta é baixo em relação aos países desenvolvidos. Nos Estados, a média de habitantes por farmácia varia bastante - Norte e Nordeste têm uma média superior ao Brasil.
“Os medicamentos maduros com prescrição representam a maior parcela do mercado, com R$ 23,3 bilhões (crescimento de 5% entre 2017 e 2018). Contudo, o maior crescimento ante o ano anterior ocorreu entre os medicamentos novos (sob patente), que aumentaram 19,3%, chegando a R$ 8,2 bilhões”, diz a Interfarma.
Mais vendidos
O Guia da Associação destaca que o relaxante muscular Dorflex e o medicamento para tratar tromembolismo venoso profundo, Xarelto, têm as vendas significativamente mais expressivas que o terceiro colocado no ranking mundial, chegando a ser 95% maior.
Balança Comercial de Medicamentos para uso Humano
A balança comercial de produtos farmacêuticos apresenta um déficit de US$ 5,8 bilhões. A Interfarma informa que esse saldo negativo tem aumentado, gradualmente, nos últimos anos, com raras exceções. Entende-se que isso se deva aos entraves brasileiros para atrair investimentos em inovação e, uma vez que a inovação aconteça em outros países, o acesso aos brasileiros se dará pela importação. Apesar disso, o setor não defende restrições às importações, pois nenhum país é autossuficiente no setor, e sim em investimentos em inovação, em busca de incremento às exportações.
Pesquisa e desenvolvimento
“O setor farmacêutico é um dos que mais investe em pesquisa e desenvolvimento no mundo. Foram dedicados US$ 172 bilhões em 2018 (R$ 718 bilhões) – número que deve chegar a US$ 204 bilhões em 2024 (R$ 852 bilhões). Os elevados investimentos se justificam pelo risco da inovação e pela necessidade de novas terapias, uma vez que doenças crônicas e complexas estão se tornando mais frequentes com o envelhecimento da população”, diz a Interfarma.
Os investimentos em pesquisa e desenvolvimento do setor farmacêutico superam os dos setores automobilístico, de hardware e de software no mundo. Câncer e doenças neurológicas, com destaque para as degenerativas, lideram o pipeline mundial do setor farmacêutico. Essa é uma tendência que vem sendo identificada nos últimos anos, desde que as doenças crônicas e complexas têm se tornado mais frequentes no mundo.
Principais previsões de saúde ao redor do globo
De acordo com o relatório especial da The Economist Intelligence Unit, líder mundial em inteligência de negócios, após um ano sombrio, as principais economias do mundo estão buscando uma recuperação em 2020. O setor de saúde estará muito sensível às eleições presidenciais dos Estados Unidos. O foco estará sobre a reforma da saúde e os preços dos medicamentos. Com isso, outros países também diminuirão os preços, mas expandirão o acesso aos serviços de saúde. Dessa forma, os gastos globais em saúde irão se acelerar, enquanto os gastos com produtos farmacêuticos e medicamentos irão diminuir.
Entre os 60 países cobertos pelo relatório do The Economist Intelligence Unit, a expectativa é de que o investimento em saúde tenha crescimento de 6,2%, quase o dobro do registrado em 2019. O crescimento será mais rápido nas economias em transição do antigo bloco soviético, no Oriente Médio e na África, enquanto a Ásia verá os gastos acelerarem novamente. No entanto, o mercado crucial dos Estados Unidos verá o crescimento dos gastos lento antes das eleições presidenciais.
Os esforços para reduzir os preços dos produtos farmacêuticos, principalmente na China e nos Estados Unidos, levarão a uma forte desaceleração mundial no crescimento das vendas de medicamentos. Por outro lado, com os gastos globais em prevenção de saúde aumentando, espera-se que esse quesito chegue a US$ 8,7 bilhões (R$ 36 bilhões), ou cerca de 10,2% do PIB global em 2020.
As antigas economias em transição soviéticas verão os gastos aumentar em 10% em 2020, tornando-a a região que mais cresce. Na Europa, o crescimento dos gastos será mais lento. A desaceleração econômica da Alemanha restringirá sua capacidade de expandir os orçamentos, enquanto o Brexit pesará nos gastos do Reino Unido.
No entanto, a América Latina será a região de crescimento mais lento. Novos governos no Brasil, Chile e Argentina têm planos de revisar os sistemas de saúde pública existentes para melhorar a qualidade e a cobertura. A região como um todo, no entanto, será prejudicada pelos problemas econômicos contínuos na Argentina e Venezuela, bem como pela incerteza econômica e política no México.
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