A carreira farmacêutica especializada em oncologia é bastante valorizada no mercado e permite ao profissional atuar em hospitais públicos, privados e filantrópicos. Devido à complexidade dos procedimentos envolvidos nessa carreira, a maioria das oportunidades profissionais está em cidades de médio e grande portes, que possuem uma estrutura hospitalar capaz de receber pacientes acometidos pelos mais diversos tipos de câncer.
Segundo a Sociedade Brasileira de Farmacêuticos em Oncologia (Sobrafo), a atuação do farmacêutico em oncologia começou a ser delineada a partir dos anos 1990, com base em normativas internacionais e trabalhos implementados em grandes centros hospitalares que passaram a identificar desde os riscos trabalhistas e ambientais até a exigência de rigorosa técnica asséptica para a manipulação de medicamentos complexos.
“Essas terapias são consideradas críticas por utilizarem doses terapêuticas muito próximas das doses tóxicas e se destinar a pacientes imunossuprimidos pela doença ou pelo próprio tratamento. A tarefa da manipulação criteriosa dessas doses gerou a necessidade do estabelecimento de rotinas e adequação de áreas físicas específicas, demandando ao farmacêutico um intenso aperfeiçoamento técnico”, destaca a Sobrafo.
Em 1996, o Conselho Federal de Farmácia (CFF) editou a Resolução 288/96, que estabelece como atribuição exclusiva do farmacêutico a manipulação de quimioterápicos ou citotóxicos. A partir dessa norma, os conselhos regionais de farmácia passaram a fiscalizar os estabelecimentos hospitalares e, segundo o CFF, os farmacêuticos sentiram-se valorizados e a Farmácia em Oncologia deu sinais de crescimento.
Dois anos depois, a Portaria 3535/ 98, do Ministério da Saúde, trouxe um novo impulso para a o segmento farmacêutico oncológico. A norma diz que todo serviço de alta complexidade no tratamento do câncer cadastrado pelo Sistema Único de Saúde (SUS) deve ter um farmacêutico manipulando quimioterápicos.
Perfil do farmacêutico oncológico
Ser especialista em Farmácia Oncológica exige que o profissional tenha um perfil multidisciplinar, com conhecimentos básicos de administração e habilidade para coordenação e liderança. É imprescindível possuir competência para implantação da farmácia clínica e programas de atenção farmacêutica. É importante ressaltar que todo serviço de alta complexidade no tratamento do câncer, cadastrado pelo SUS, deve contar com um farmacêutico para a realização de manipulação de quimioterápicos.
Onde ele atua
- Farmácias hospitalares de hospitais públicos, por exemplo, SUS, Hospital das Clínicas etc.
- Farmácias hospitalares de hospitais privados, por exemplo, Albert Einstein, Edmundo Vasconcelos, Hospital Cliom (AL) etc.
- Farmácias hospitalares de hospitais filantrópicos, por exemplo, Santas Casas de Misericórdia, entre outros.
O que faz
- Integra a equipe multiprofissional que assiste aos pacientes oncológicos;
- Normatiza, desenvolve ou instaura procedimentos de recebimento, armazenamento, conservação e transporte de insumos farmacêuticos e medicamentos;
- É responsável pela garantia da qualidade e pelo controle da qualidade;
- Avalia a prescrição médica, quanto à dose e à via de administração;
- Elabora manuais para padronização de procedimentos técnicos;
- Analisa os cálculos realizados para se chegar à dose escolhida;
- Analisa os diluentes e embalagens escolhidos para determinado medicamento, quanto à compatibilidade química e física;
- É responsável pela obtenção e pelo controle de qualidade de insumos farmacêuticos e medicamentos;
- Manipula e prepara os medicamentos para serem administrados aos pacientes;
- Atua como responsável pela farmácia clínica, voltada para a oncologia;
- Gerencia o descarte de resíduos de risco;
- Coordena a organização da área física, contemplando os EPIs e EPCs;
- É responsável pela notificação e registro de acidentes, sejam eles pessoais ou ambientais;
- É responsável pela garantia da qualidade e controle da qualidade;
- Estabelece e aplica técnicas de biossegurança;
- Constitui tratamento paliativo em pacientes oncológicos;
- É responsável pelo registro de horas de exposição, devido à manipulação de medicamentos antineoplásicos;
- Realiza treinamento para os farmacêuticos e auxiliares que atuam no estabelecimento;
- Garante o uso racional de opioides;
- Faz parte das diferentes comissões hospitalares, em que esse profissional é imprescindível, como as comissões: Farmácia e Terapêutica, Infecção Hospitalar e Biossegurança;
- Prepara radiofármacos; e
- Realiza atenção farmacêutica.
Faixa salarial
Segundo o site de pesquisa de salários (salário.com.br), com base em dados oficiais do Novo Caged, eSocial e Empregador Web, a remuneração média de um farmacêutico clínico em oncologia é de R$ 3.770,49, para uma jornada de 39 horas semanais. Entretanto, os ganhos podem variar de R$ 3.226,57 a R$ 7.232,25. Essa estimativa salarial é baseada na tabela atualizada de 2020 do site especializado, mas podem ser encontrados no mercado rendimentos maiores, dependendo do porte da instituição.
De acordo com a pesquisa do Salario.com.br, o salário inicial para um farmacêutico clínico em oncologia recém-formado na faculdade é de R$ 2.797,64 mensais para uma jornada de trabalho de 38h semanais, em média. Já o salário médio do profissional concursado é de R$ 4.236,97 para uma jornada de 43 horas semanais, segundo a mesma pesquisa.
Ainda segundo o site, o perfil profissional mais recorrente nesse segmento é o de um trabalhador com 30 anos, formação superior em Farmácia, do sexo feminino que trabalha 44h semanais em empresas do segmento de atividades de atendimento hospitalar.
Formação exigida
Conforme determina a Resolução do CFF 640/17, o farmacêutico que deseja trabalhar na área de oncologia precisa possuir titulação mínima, além de atender a um dos critérios abaixo:
- Ser egresso de programa de pós-graduação latu sensu reconhecido pelo MEC relacionado à Farmácia Oncológica
- Ter feito residência na área de oncologia
- Ter atuado por três anos ou mais na área de oncologia
- Ser portador de título de especialista emitido pela Sobrafo
O curso de graduação em Farmácia é imprescindível para profissionais que desejam seguir carreira em farmácia oncológica. Especialização em farmácia hospitalar ou assistência farmacêutica é muito importante para quem pretende se destacar na profissão. Existe também a opção de cursar uma pós-graduação em farmácia clínica.
O ICTQ é pioneiro no curso de especialização em Farmácia Hospitalar e Oncologia, além de ser o único que possui em seu quadro professores renomados.
Caso de sucesso
A carreira do farmacêutico oncológico envolve muitas responsabilidades. Para isso, é necessário adquirir experiência e conhecimento. Essa bagagem pode ajudar bastante, não só na ascensão profissional do especialista, mas também no tratamento do paciente.
Exemplo disso pode ser visto na trajetória de sucesso do farmacêutico, professor do ICTQ – Instituto de Pesquisa e Pós-Graduação para o Mercado Farmacêutico, Nelson Belarmino, que, desde 2006 também atua como coordenador de pesquisa clínica de estudos multicêntricos oncológicos, onde é responsável por coordenar e executar estudos no Instituto do Câncer do Ceará (ICC).
Já no início da carreira, Belarmino deparou um grande desafio: assumir a gestão de saúde em um município do Ceará, função que exerceu durante quatro anos. "Essa atividade não é tão comum para os recém-formados, mas, mesmo com certo grau de dificuldade e desafios elevados, consegui obter êxito na gestão", explica ele. Posteriormente, o farmacêutico atuou em farmácia comercial, além de assumir a Secretária de Saúde responsável por todo o Estado Cearense.
Quanto ao desejo de se especializar em farmácia oncológica, Belarmino conta que surgiu ainda na vida acadêmica. “Desde o segundo ano de faculdade já atuava na pesquisa experimental, avaliando e procurando entender várias toxicidades inerentes ao tratamento dos pacientes oncológicos, ou seja, tratamento à base de quimioterápicos antineoplásicos", explica o professor.
Ao longo dos seus 19 anos de carreira, o especialista comenta que foram muitos os desafios encontrados. Segundo ele, o primeiro obstáculo que enfrentou foi a necessidade de entrar em um serviço que promovesse pesquisas clínicas. "Alcancei o primeiro objetivo quando assumi o cargo de coordenador de pesquisa do Instituto do Câncer do Ceará e, a partir de então, o próximo desafio era o de buscar por mais qualificação e avançar no conhecimento”, lembra Belarmino.
Para ele, um momento de grande esforço foi durante a conclusão do mestrado, pois foi necessário conciliar as tarefas de pós-graduação, com a clínica, devido ao tempo de dedicação nas atividades realizadas. “Sempre busquei conciliar a atuação profissional no tripé pesquisa-oncologia-farmácia”, enfatiza.
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Entretanto, o farmacêutico oncológico ressalta que o desejo de aprender para que o conhecimento fosse aplicado na prática, em prol de ter a qualificação necessária para acompanhar os pacientes, foi sua maior motivação. "Uma vez que, nas pesquisas experimentais, as toxicidades ocasionadas pelo uso de quimioterápicos eram muito bem monitoradas, a ponto de reverter e melhorar a qualidade de vida dos pacientes, o que me impulsionava para vencer as barreiras e levar uma melhora para os inúmeros pacientes oncológicos", lembra o especialista.
De acordo com o farmacêutico, sucesso não está relacionado ao status e aos bens de consumo, mas ao fato de ter reconhecimento por ser um profissional que exerce suas funções com qualidade e foco no paciente. "Sucesso é algo que se conquista. A simplicidade é de fundamental importância para essa conquista", orienta o profissional.
Entre seus próximos objetivos, Belarmino afirma que deseja continuar investindo em sua capacitação contínua. Já em relação à área de farmácia oncológica, ele frisa a necessidade de sensibilizar profissionais para criar centros de pesquisa, a fim de que tratamentos inovadores possam chegar a regiões carentes, dando a possibilidade de que muitos pacientes tenham acesso às inovações da indústria farmacêutica em oncologia.
“Atuar em oncologia é algo fascinante. E quando essa atuação é unida à pesquisa, o casamento é perfeito. Trabalhar com oncologia é ter a certeza de que você está ali para dar o melhor de si. É saber escutar e resolver ao máximo a situação do seu paciente. Enfim, atuar em oncologia é se envolver com seus pacientes e, junto deles, lutar para que uma melhor qualidade de vida seja alcançada”, finaliza.
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