Em 29/01 foi comemorado o Dia Nacional da Visibilidade Trans no Brasil. A data celebra o respeito e a inclusão de transexuais e travestis que, infelizmente, ainda enfrentam muitos obstáculos na sociedade. Um deles, sem dúvida, é a inserção no mercado de trabalho. Nesse sentido, o setor farmacêutico é uma das áreas que tem acolhido e dado oportunidades para as pessoas trans.
Esse é o caso da farmacêutica, Jackeline dos Santos (foto), que em entrevista exclusiva à equipe de jornalismo do Portal do ICTQ – Instituto de Pesquisa e Pós-Graduação para o Mercado Farmacêutico contou que trabalha na Prefeitura Municipal de Jaboatão dos Guararapes (PE), e que, no passado, era técnica de enfermagem, mas trocou sua antiga profissão e se formou em Farmácia.
“Acho muito gratificante ser farmacêutica, me sinto acolhida pelo setor. Antes, eu era da enfermagem, eu até pensei que poderia encontrar alguma resistência ao ir para a área de farmácia, mas não, não encontrei. Inclusive, me acho mais acolhida no setor farmacêutico do que eu era na enfermagem”, conta.
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A farmacêutica explica de que maneira se interessou pela profissão: “Como fui durante 19 anos técnica de enfermagem surgiu meu interesse pela área de Farmácia Hospitalar, eu gostei tanto que decidi fazer o curso de Farmácia, depois que me formei, eu me apaixonei e não quero deixar essa área nunca mais”.
Ela também explica que tenta usar seu exemplo de vida como um espelho para que outras mulheres trans possam se inspirar e lutar pela dignidade: “Tento dar o exemplo para que elas lutem, tentem terminar o ensino médio e fazer um curso superior. Mas, infelizmente, a sociedade exclui muito pessoas trans, elas são sempre rotuladas, isso faz com que elas percam o estímulo de estudar. No Brasil é tudo muito difícil nesse sentido”.
Jackeline continua: “Está muito enraizada na sociedade a ideia de que a pessoas trans ou vão ser cabeleireiros ou esteticistas, ou terão uma ‘vida fácil’, que de fácil não tem nada, então, a gente tenta plantar uma sementinha para que as pessoas amadureçam e vejam que todos somos capazes”.
Em um trecho no Facebook, a farmacêutica falou dos obstáculos que enfrentou para concluir sua graduação: “Só Deus e meus amigos sabem o quanto ralei, sofri e chorei para chegar até aqui. Por várias vezes, eu ia de casa para a faculdade a pé, ou ficava o dia inteiro com fome para ter o dinheiro da passagem de volta”.
Para a equipe de jornalismo do ICTQ, ela completou a história: “Para a gente se formar, precisa ter um estágio [em farmácia], mas eu tinha três empregos como técnica de enfermagem. Então, ou eu trabalhava, ou eu estudava. Mas, eu consegui terminar. Foi uma luta, quando fui fazer o estágio era R$ 515,00 que eu tinha para passar o mês inteiro, para comer, pagar o aluguel, às vezes, nem pagar o aluguel eu conseguia. Então, eu fazia até limpeza na casa de conhecidas para ter um teto. Não tenho vergonha nenhuma, mas venci, me formei e estou trabalhando”.
Superação
No entanto, nem tudo são rosas. Para exercer a profissão, o farmacêutico, Pietro Ribeiro, teve que enfrentar alguns obstáculos. “Eu encontrei algumas dificuldades, não vou citar o nome da empresa, mas teve uma situação em que eu estava pronto para trabalhar, fiz a entrevista, passei no processo seletivo, entretanto, quando fui levar a documentação, na época que eu ainda não tinha alterado minha identidade, eles viram que eu era um homem trans [pessoa que fez a transição do feminino para o masculino] e me deram mil desculpas, justificações, não me contrataram. Eu me senti muito mal, pensei, ‘poxa, estudei tanto, me dediquei tanto, mas será que vou ter que viver para agradar aos outros e não a mim mesmo?”’.
No entanto, o farmacêutico conta que seguiu em frente: “Superei! Hoje, trabalho no ramo do varejo, encontrei uma farmácia que me aceita, que cuida de mim, aliás, dos funcionários como um todo, por isso consigo trabalhar dando o meu melhor. Isso é muito importante”.
Ele também fala sobre a importância da representatividade: “Eu vejo que a inclusão de pessoas trans no setor farmacêutico está evoluindo, aos poucos, mas está. Apesar de existirem, ainda, alguns lugares que não estão prontos para lidar com a diversidade, em contrapartida, existem muitos que abrem as portas e nos dão uma oportunidade. Mas, eu gostaria de ver pessoas trans em outras áreas, como psicólogos, por exemplo. Enfim, as coisas estão andando, devagar, mas estão. Isso é muito bom”, afirma.
Por fim, Ribeiro declara seu amor pela profissão: “Eu escolhi ser farmacêutico porque gosto de dar o meu melhor para as pessoas, para o paciente, gosto de usar o meu conhecimento para cuidar deles. Quando decidi cursar Farmácia, quem me incentivou bastante foi meu pai, ele me disse, ‘faz Farmácia’, quando comecei o curso, eu me apaixonei”, encerra.
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