Segundo levantamento do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 11.425.644 de pessoas, 6% da população brasileira, moram em favelas. Com isso, uma pesquisa divulgada pelos institutos Data Favela e Locomotiva conseguiu identificar que as comunidades reúnem um ótimo poder de compra no Brasil, em virtude da grande massa que mora nos locais, podendo ser, inclusive, um mercado promissor para o setor farmacêutico.
Os dados divulgados por meio da pesquisa Economia das Favelas – Renda e Consumo nas Favelas Brasileiras mostraram que os moradores das comunidades movimentam R$ 119,8 bilhões por ano. O levantamento ainda constatou que 89% das pessoas moram em favelas situadas em capitais e regiões metropolitanas. Apenas no Rio de Janeiro (RJ) , mais de 10% da população reside nesse segmento habitacional.
No entanto, mesmo com uma enorme população que reside nessas áreas habitacionais, a insegurança, que quase sempre é gerada pelo tráfico de drogas e as milícias, faz com que grandes nomes do varejo farmacêutico se afastem das comunidades. Na contramão desse cenário, microempreendedores investem em seus negócios e, muitas vezes, traçam uma história de sucesso.
Esse é o caso do empresário Milton Ferreira, que depois de muitos anos trabalhando em farmácias resolveu abrir seu próprio estabelecimento na comunidade de Paraisópolis, em São Paulo. Incialmente, ele planejava trabalhar com os dois filhos e aplicar apenas R$ 15 mil por mês de um valor que tinha guardado na poupança.
Contúdo o plano inicial não saiu como Ferreira esperava, em vez de trabalhar apenas com os dois filhos, em menos de sete anos, o empresário viu seu negócio expandir ao ponto de ter que abrir mais duas farmácias na comunidade, tornando-se a primeira rede da favela, intitulada MTN Drogaria & Farmácia.
“As pessoas pensam que na favela ou nas comunidades carentes em geral só existe bandido. Esses são minoria. A maioria é de trabalhador honesto, que tem vontades e necessidades de comprar como qualquer morador de outros bairros. Quando você é parceiro da comunidade, passa a ser reconhecido como alguém que não quer explorar, mas ajudar a melhorar a vida coletiva. Isso ajuda muito nos negócios”, revelou o empresário, em entrevista publicada no Guia de Farmácia.
O trabalho do farmacêutico nas favelas
Em entrevista exclusiva à equipe de jornalismo do Portal do ICTQ – Instituto de Pesquisa e Pós-Graduação para o Mercado Farmacêutico, o farmacêutico, Joel de Souza Lima, que trabalha em uma farmácia localizada na comunidade Chácara Três Meninas, no bairro Jardim Helena, zona leste de São Paulo, falou sobre a importância da assistência à saúde das pessoas que moram nessas comunidades.
“Prestamos serviços diários de aplicação de injetáveis, orientação farmacêutica sobre o uso correto e racional de medicamentos, entre outros. A figura do farmacêutico, sem dúvida, é muito importante e ajuda bastante no atendimento de pacientes moradores desses locais”, explica ele.
Para Lima, o trabalho exercido pelos farmacêuticos nas favelas é diferenciado. “Na comunidade, o foco do farmacêutico é atender. Quando o paciente chega com algum problema de saúde à farmácia, ele tem um atendimento diferenciado, a gente explica, orienta e cria um vínculo grande com as pessoas”.
O farmacêutico também enfatiza que ter inteligência emocional é um requisito importante para o profissional que atua em farmácias de comunidades. “A população [que mora nos locais] é muito carente. Às vezes, o paciente chega com um problema e quer um resultado rápido. Como profissional, eu dou um direcionamento para ele, inclusive, nos casos em que ele precisa de encaminhamento médico”.
Ele conta que costuma examinar os pacientes com frequência e encaminhá-los para uma unidade médica de saúde: “Muitas vezes, eu vejo os sinais vitais, faço aferição de temperatura, preparo um relatório, e encaminho a pessoa para que ela passe com o médico, mas sempre dou uma assistência, mesmo em casos em que eu não possa orientar sobre medicação”, exemplifica.
Por fim, Lima destaca que o paciente de comunidade ainda sofre com a questão da desigualdade social: “No posto de saúde, apesar de ter aqui na região, quase sempre a pessoa tem que pegar uma fila enorme, demora o atendimento, por isso, muitas vezes procura o farmacêutico. Por isso, eu avalio cada situação, são casos e casos. Para alguns pacientes eu até indico algum medicamento, dentro dos meus limites permitidos em atuação, mas em muitas situações eu peço para a pessoa procurar um médico”, finaliza.
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