Pesquisadores da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (FMRP-USP) desenvolveram um exame que permite diagnosticar o Alzheimer por meio da saliva do paciente, 30 anos antes dos primeiros sintomas da doença aparecerem. O método foi descoberto por meio do projeto de doutorado do farmacêutico e professor do ICTQ – Instituto de Pesquisa e Pós-Graduação para o Mercado Farmacêutico, Gustavo Alves.
Com exclusividade à equipe de jornalismo do ICTQ, Alves, que também é pós-dourando em anatomia e cirurgia pela USP, explicou como foi o processo de pesquisa: “Nós desenvolvemos o exame para o diagnóstico de Alzheimer no meu doutorado, entre 2012 e 2013. O teste é feito a partir da saliva, que é um elemento de fácil obtenção, sendo indolor. Por meio do teste, descobrimos duas proteínas, a tau e a beta amiloide, que estão relacionadas com ao surgimento da doença nos pacientes”, disse. Ele completa: “Com isso, nós conseguimos comprovar a viabilidade do teste de saliva como preditivo para pessoas com Alzheimer”.
Inicialmente, os testes foram realizados em 54 idosos. Em indivíduos com Alzheimer, os resultados foram positivos. Agora, em 2020, o farmacêutico e sua equipe realizarão o exame em 180 pacientes, entre eles, 60 idosos com a doença, 60 idosos sem a doença e 60 adultos (não idosos) sem a doença.
Alves explica que o principal intuito do exame é facilitar o diagnóstico da enfermidade, principalmente, porque essas proteínas começam a se acumular no cérebro dos pacientes a partir dos 30 anos: “A ciência já comprovou que a doença de Alzheimer começa a se desenvolver por volta de 30 a 35 anos, antes de apresentar os primeiros sinais. Então, uma pessoa com 65 anos, por exemplo, começou a ter o acúmulo dessas proteínas no cérebro a partir dos 30 anos”.
O pesquisador ainda ressalta de que maneira a implementação do exame poderá contribuir para o tratamento do Alzheimer: “A partir do momento em que o paciente sabe que tem propensão a desenvolver a doença - ou que está nos estágios iniciais ou antes, período que chamamos de fase prodrômica - ele pode tomar medidas em relação à alimentação, e à dieta”.
Segundo o professor, o exame poderá ser um aliado da indústria farmacêutica no surgimento de novos fármacos: “Até mesmo em relação aos medicamentos, embora hoje não tenha cura, acredita-se que, nos próximos anos, devido à grande quantidade de drogas em estudo, possa surgir alguma novidade. Nesse caso, esse exame seria bastante interessante para a pessoa não desenvolver a doença”, explica.
Por fim, ele enfatiza que o próximo passo é transformar a pesquisa em um produto com patente, para então conseguir utilizar o exame assim que o método for desenvolvido, medida que ele está trabalhando neste ano. Vale ressaltar que os testes ainda estão em fase inicial, por isso, o método ainda deverá passar por mais avaliações.
O farmacêutico e o Alzheimer
Para Alves, a presença do farmacêutico é fundamental no tratamento de pacientes com Alzheimer. Ele ressalta que o profissional de farmácia é a pessoa mais adequada para auxiliar na orientação sobre a medicação e na monitoria da terapia do paciente.
Além disso, ele lembra que não só os idosos com a doença que necessitam desses cuidados, mas ressalta que os cuidadores também devem ser orientados pelos farmacêuticos. “Não são apenas as pessoas da terceira idade, mas quem cuida delas também precisa ser orientado quanto ao uso [de medicamentos] de forma correta. Os horários são muito complexos, porque é uma grande quantidade de fármacos na terapia”, explica.
Ele pontua sobre os efeitos colaterais que as drogas podem causar nos pacientes: “As reações adversas são cruzadas, então, ao mesmo tempo que um medicamento traz um benefício para certa questão da doença, ele pode resultar em outros problemas e sistemas. O produto pode interferir no processo digestivo, em ganho de peso, dores abdominais e constipação. O farmacêutico é muito importante para monitorar, orientar e evitar que transtornos maiores aconteçam com esses idosos”.
Por fim, o pesquisador destaca: “No geral, a atenção farmacêutica é muito importante no tratamento de pacientes com demência, porque os medicamentos que eles usam impactam em vários sistemas, inclusive, fisiológicos, então é preciso fazer monitoramento de dose e de reação adversa. Além disso, a eficácia e a segurança desses fármacos podem variar muito de um idoso para o outro”.
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