Como aplicar preços em serviços de aferição de glicemia em farmácias e drogarias

Segundo dados da International Diabetes Federation (IDF) existem cerca de 12 milhões de brasileiros diabéticos e o Brasil se encontra na quarta colocação em número de diabéticos no mundo, perdendo somente para China, Índia e EUA. O diabetes é um sério problema de saúde pública em todo o mundo e mesmo com o surgimento de novas tecnologias, como o pâncreas artificial, medidores de glicose que não precisam de picadas e insulina inalada, que dispensa o uso de agulhas, sem educação (conhecimento) o tratamento fica comprometido, podendo levar ao surgimento das comorbidades inerentes do descontrole glicêmico, como retinopatia, neuropatia, nefropatia, doenças cardiovasculares, amputação e disfunção erétil.

Mediante essa realidade, o varejo farmacêutico busca oferecer serviços associados a produtos específicos para melhorar o atendimento a essa parcela da população que necessita de atenção diariamente. Então, além da dispensação de medicamentos para diabéticos, as farmácias podem prestar serviços a pacientes que convivem com essa patologia. Para prevenção ou monitoramento, no caso de diabetes, os farmacêuticos podem prestar o serviço de aferir a glicemia, orientar sobre o uso racional dos medicamentos e realizar o acompanhamento farmacoterapêutico.

Uma pesquisa realizada e publicada pelo Instituto de Pesquisa e Pós-graduação para o Mercado Farmacêutico (ICTQ) aponta que 30% dos brasileiros pagariam até mesmos pelo serviço de aferição de glicemia, considerado básico. A pesquisa traz dados por região: no Nordeste, 33% das pessoas pagariam para aferir a glicemia; no Norte e no Centro-Oeste, 31%; no Sudeste, 29%; no Sul, 22%.

O que chamou atenção para reflexão na pesquisa foi que muitos estabelecimentos realizam esse serviço de forma gratuita e promocional para atração de clientes, por vezes de maneira precária, na porta da rua, sob uma barraca de lona. O fato surpreendente é que os 30% dos brasileiros que buscam aferição de glicemia nas farmácias estão dispostos a pagar ao farmacêutico pela prestação do serviço um valor médio de até R$ 13,00. No geral, 64% pagariam até R$ 10,00, 30% de R$ 11,00 a R$ 30,00 e apenas 6% pagariam valores acima de R$ 30,00.

A pesquisa mostra o preço médio que o cliente da farmácia está disposto a pagar pela aferição de glicemia por região: Nordeste, até R$ 17,00; Norte, Centro-Oeste e Sudeste, até R$ 12,00; e Sul, R$ 11,00.

Outro dado interessante é que os homens estão dispostos a pagar mais caro pelo serviço do que as mulheres. Eles disseram que pagariam até R$ 15,00 e elas pagariam R$ 12,00 pela aferição de glicemia.

Os números da pesquisa também revelam o preço médio que o cliente da farmácia está disposto a pagar pela aferição de glicemia, por faixa etária: os jovens de 16 a 24 anos disseram que pagariam R$ 22,00; as pessoas de 25 a 34 anos disseram que pagariam até R$ 16,00; já as de 35 a 44 anos, R$ 13,00; as de 45 a 59 anos, R$ 10,00; e as pessoas com idade acima de 60 anos pagariam R$ 11,00 pelo serviço na farmácia.

O estudo procurou saber também o preço médio que o cliente da farmácia está disposto a pagar pela aferição de glicemia, por classificação econômica: os das classes A e B revelaram que pagariam R$ 14,00; os da classe C pagariam R$ 12,00; os das classes D e E também pagariam R$ 14,00 pelo serviço ofertado no varejo farmacêutico.

Metodologia do estudo

A pesquisa qualitativa foi realizada com homens e mulheres, com idade a partir dos 16 anos. As entrevistas foram feitas de forma pessoal e individual, com abordagem em pontos de fluxo populacional, com 2.090 pessoas de todas as regiões do país, em 120 municípios.

As entrevistas de campo foram realizadas entre 9 e 18 de maio de 2018. O desenho amostral foi elaborado com base em informações do Censo 2010/Estimativa 2018 (fonte IBGE) e contemplou os seguintes estágios:

1. Estratificação por unidade federativa e porte dos municípios;

2. Sorteio dos municípios;

3. Sorteio do ponto onde foi realizada a pesquisa;

4. Seleção do entrevistado utilizando cota de sexo e idade.

Para controle do perfil foram utilizadas cotas de sexo e idade de acordo com o Censo 2010/Estimativa 2018. A margem de erro máxima para a amostra é de 2 pontos percentuais, para mais ou para menos, dentro de um nível de confiança de 95%.

Como precificar esse serviço na farmácia?

A aferição de glicemia, assim como outros serviços farmacêuticos, deve ser cobrada. Segundo o farmacêutico Ismael Rosa, esse é um dos caminhos percorridos na busca do maior reconhecimento profissional do farmacêutico clínico: “Todo serviço de saúde de qualidade, prestado com base na ética, deve ser devidamente remunerado e isso inclui o serviço farmacêutico. É muito importante que o farmacêutico possa visualizar quanto custa seu serviço, para que ele possa torná-lo sustentável. O principal objetivo é poder dar ao profissional farmacêutico ferramentas para visualização da sustentabilidade necessária para que os serviços farmacêuticos possam se manter nos estabelecimentos de saúde”.

A determinação dos valores a serem cobrados deve ser o resultado de um estudo de formação de preços e para precificar o serviço você precisa considerar:

1. A natureza e a complexidade do seu serviço;

2. As condições socioeconômicas do seu público-alvo;

3. Os custos operacionais do seu consultório;

4 A expectativa de lucro do seu empreendimento.

Para auxiliar os profissionais a compreender essas variáveis, a Comissão Assessora de Farmácia Clínica do CRF-RS desenvolveu uma tabela para orientar os farmacêuticos, levando em consideração os custos associados aos serviços farmacêuticos, que vão desde a infraestrutura do estabelecimento ao tempo dispensado pelo profissional; a tabela serve de base de cálculo para a precificação dos serviços clínicos.

Considera-se que a definição final do preço de um serviço depende mais do mercado do que propriamente da sua planilha de custos. Uma consulta médica, por exemplo, custa em média, R$ 90,00, não porque esse foi o preço final calculado, aplicando-se um markup exato sobre os custos calculados, mas porque parece ser o preço viável para que as pessoas acessem e paguem. Os custos precisam se adaptar a essa realidade.

Portanto, calcular os custos é obrigatório e lembre-se que custo não é igual a preço. Para a precificação do serviço é necessário fazer uma planilha dos custos fixos e variáveis, calcular o custo médio de uma consulta, conhecer os valores dos impostos, definir um markup e calcular um preço final a ser cobrado do cliente.

Diabetes com educação e orientação não tem complicação

A farmacêutica Mônica Lenzi explica que para tratar o paciente diabético é necessário o acompanhamento de uma equipe multidisciplinar constituída por médico, nutricionista, educador físico, psicólogo, enfermeiro e também farmacêutico, pois este último profissional está apto a fazer muito mais do que simplesmente dispensar medicamentos.

A Lei Federal 13.0213, que transforma a farmácia em estabelecimento de saúde, e as Resoluções 5854 e 5865 do Conselho Federal de Farmácia (CFF), que regulamentam as atribuições clínicas do farmacêutico e a prescrição farmacêutica, respectivamente, vieram para resgatar e normatizar o que já acontecia, de maneira informal, nos balcões das farmácias em todo o Brasil.

Farmácia clínica é a área da farmácia preocupada com a ciência e a prática de uso de medicação racional. O farmacêutico clínico deve garantir o uso racional dos medicamentos e cuidar dos pacientes, promovendo saúde e qualidade de vida. “O consultório farmacêutico é o local apropriado para realizar o atendimento dos pacientes. Ali, o farmacêutico é o maestro que rege essa fantástica experiência, usando todo o seu conhecimento farmacoterapêutico para educar e orientar o paciente, assim como recomendar ao médico os ajustes necessários ao tratamento”, afirma Mônica.

Ela conta que uma das maiores dúvidas que acomete o farmacêutico clínico atualmente é cobrar ou não cobrar pelos seus serviços. E a pergunta que devemos fazer é por que não cobrar? Quando vamos ao médico, pagamos pela consulta direta ou indiretamente (pelo SUS, pelo plano de saúde ou em consultas particulares), mas pagamos o quê? O que “compramos” do médico? Compramos seu conhecimento, é esse o produto que o médico nos entrega. Dessa maneira, os farmacêuticos também devem cobrar por suas orientações, pois, foi feito um investimento para adquirir esse conhecimento.

Segundo a farmacêutica, o paciente diabético é o maior ticket médio do varejo farmacêutico, ele gasta em média R$ 350,00 por mês na farmácia; isso acontece porque ele é um paciente que normalmente é polimedicamentado, devido às comorbidades que se instalam ao logo de anos devido aos níveis de glicose alterados.

Para Mônica, o farmacêutico pode fazer a diferença, pois se encontra bem posicionado para aconselhar e educar seus pacientes sobre o controle do diabetes e a prevenção. Ele é o primeiro a ver uma pessoa com, ou em risco de desenvolver, diabetes, identificando os pacientes de alto risco (histórico familiar, obesidade, sedentarismo, tabagismo, hipertensão) e orientando-os a buscar o médico para um diagnóstico precoce. “O farmacêutico, ao avaliar o estado de saúde do paciente, tem como incentivá-lo a aderir ao tratamento prescrito pelo seu médico, além de detectar possíveis interações medicamentosas. Existem muitos pacientes que não informam ao médico sua condição de diabético e por algum motivo recebem uma prescrição de corticoide para algum tipo de tratamento temporário, droga está hiperglicemiante, que vai levar a um descontrole glicêmico, mesmo que o paciente esteja seguindo à risca todas as determinações de seu médico para o tratamento do diabetes”, relata a farmacêutica.

Mônica afirma que o farmacêutico pode também, por meio de planilhas ou programas específicos, acompanhar e monitorar os parâmetros bioquímicos do paciente, encaminhando-o a outros profissionais de saúde que fazem parte da equipe multidisciplinar, quando necessário. “Exercendo o papel de educador em diabetes, esse profissional poderá capacitar o paciente diabético a gerir melhor o seu controle, por meio do autocuidado, orientando-o nas melhores práticas de uso correto das medicações e equipamentos, como glicosímetros e dispositivos para aplicação de insulina, como canetas e seringas. O simples fato de fazer um teste de glicose capilar sem que tenha feito uma higienização correta das mãos pode levar a resultados irreais, que consequentemente levam a doses de insulina não adequadas para o momento, gerando um descontrole glicêmico”, revela.

Mônica informa que, mesmo não sendo um profissional da área de nutrição, o farmacêutico pode dar as orientações dietéticas básicas, fazendo com que o paciente tenha uma alimentação mais saudável e balanceada: “Na mesma linha, pode-se também orientar e incentivar o paciente à prática de atividade física, que, aliada à alimentação equilibrada e ao tratamento medicamentoso prescrito pelo médico, é um dos pilares para uma vida saudável mesmo com diabetes”.

Ela lembra que o farmacêutico pode atuar também até na conscientização da sustentabilidade do planeta, orientando ao paciente diabético sobre o descarte consciente de todo o lixo produzido com as medições de glicose e aplicações de insulina, evitando assim a contaminação dos trabalhadores que manuseiam esse descarte e do solo onde ele é depositado. “Toda essa prestação de serviços na gestão do diabetes requer conhecimento sobre o mercado (produtos, medicamentos e insumos disponíveis), habilidades de comunicação e um compromisso de tempo, esforço e recursos. Os farmacêuticos que se dedicam à formação em gestão de diabetes colhem recompensas em termos de satisfação profissional”, ressalta a profissional.

Assista mais sobre os serviços farmacêuticos para pacientes diabéticos.

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