A cada dia a inovação tecnológica está se transformando em ferramenta estratégica para a garantia das boas práticas na farmácia hospitalar. Assim como ocorre em várias áreas do conhecimento, ela pode contribuir para a gestão inteligente dos procedimentos clínicos e dos processos logísticos desse setor no hospital.
Segundo a Sociedade Brasileira de Farmácia Hospitalar e Serviços da Saúde, a farmácia hospitalar tem como atribuições essenciais atividades de gestão, logística e preparo de medicamentos, otimização de terapia medicamentosa e segurança do paciente. Seu funcionamento é regulamentado por legislação federal.
De acordo com Portaria 4.283/10, que aprova as diretrizes e estratégias para organização, fortalecimento e aprimoramento das ações e serviços de farmácia no âmbito dos hospitais, são objetivos principais da gestão da farmácia hospitalar: garantir o abastecimento, dispensação, acesso, controle, rastreabilidade e uso racional de medicamentos e de outras tecnologias em saúde e assegurar o desenvolvimento de práticas clínico-assistenciais que permitam monitorar a utilização de medicamentos e outras tecnologias em saúde.
Ao longo dos anos, a farmácia hospitalar vem evoluindo e incorporando novas tecnologias de processos, informação e automação. Essa evolução – por muitos chamada de hospital 4.0 (em alusão à indústria 4.0) – inclui a integração de diferentes tecnologias como big data, inteligência artificial e internet das coisas, com o objetivo de melhorar os serviços prestados e as decisões gerenciais tomadas nas instituições de saúde.
“A revolução industrial 4.0 está chegando em todas as áreas da sociedade, e é preciso estar preparado para ela” destaca o farmacêutico e professor da pós-graduação em Farmácia Clínica em Terapia Intensiva no ICTQ – Instituto de Pesquisa e Pós-Graduação para o Mercado Farmacêutico, Bruno Gedeon de Araújo.
A integração das novas tecnologias faz com que as informações dentro do hospital sejam repassadas entre setores de maneira mais ágil e precisa, possibilitando melhor eficácia na operação e alterando a relação da instituição com o paciente. Assim, não se considera apenas o tratamento, mas a jornada completa do paciente, desde a prevenção de doenças até a manutenção da saúde.
Para se adequar ao hospital 4.0, a instituição precisa adaptar sua estrutura e investir na capacitação de seus profissionais, e a farmácia hospitalar está inserida nessa mudança. A automação e a tecnologia nesse setor podem melhorar significativamente a logística, controle, estoque e a distribuição dos medicamentos, reduzindo desperdícios e aumentando a segurança do paciente, conforme revelou o site Sensorweb.
“A automação é usada historicamente para a otimização de processos e redução de erros. Não há motivo, portanto, para não a utilizar no setor de saúde com o objetivo de reduzir os erros do processo”, afirma a professora da pós-graduação de Sistemas de Dispensação de Medicamentos em Farmácia Hospitalar do ICTQ, Mônica Maria Henrique dos Santos, citando Werlang. “O enfoque será na automação da medicação, desde o momento da prescrição médica até a ingestão do medicamento pelo paciente. Existem hoje no mercado diversos produtos utilizados para esse propósito”, conclui.
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Para os pacientes, as novidades trazem mais confiabilidade. “Diversos são os benefícios das novas tecnologias, principalmente na agilidade da comunicação e prestação da assistência ao paciente, melhoria nos processos assistenciais que impactam diretamente no aumento da sua segurança e produção e análise de indicadores de qualidade da assistência”, salienta Araújo.
O uso das novas ferramentas da tecnologia minimiza ou evita erros que comprometem a assistência e podem trazer custos extras, como o aumento da estadia do paciente ou reinternação. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), são registrados 43 milhões de incidentes relacionados à segurança do paciente por ano, e parte deles está relacionada a erros de procedimentos farmacêuticos.
“O processo de dispensação deve ser ágil, eficaz e seguro. Essa etapa do ciclo da assistência farmacêutica é um dos que mais produzem eventos relacionados a medicamentos. Isso porque os processos são basicamente humanos e, principalmente, feitos de forma manual. Devido ao grande volume de informações, prescrições, apresentações de medicamentos, são passíveis de erros”, revela Araújo.
“Assim, ao implementar ferramentas que possam auxiliar nesse processo, atuando como barreiras, podemos melhorar os processos e diminuir a incidência de erros e consequentemente diminuir perdas financeiras e melhorar a assistência prestada ao paciente”, completa o professor.
De acordo com dados da Associação Nacional de Hospitais Privados (Anahp), a dispensação de medicamentos representa cerca de 11% dos custos de internação de um hospital. “Um grande desafio para os hospitais está no aumento da eficiência e da segurança em seus processos relacionados à gestão de medicamentos. Além de ocupar o centro de polêmicas relacionadas a erros hospitalares, a cadeia de medicamentos representa um dos maiores custos e também uma das maiores oportunidades do cenário interno para a sustentabilidade financeira das instituições”, frisa Mônica.
Ferramentas tecnológicas para a farmácia hospitalar
Inovações como prontuário eletrônico do paciente, prescrição eletrônica, checagem de medicamentos beira-leito por código de barras, softwares de logística de farmácia, já estão à disposição da farmácia hospitalar, levando mais eficiência e confiabilidade à distribuição e dispensação de medicamentos nos hospitais.
“De fato, rastreamento de medicamentos por meio de código de barras, desde o fracionamento, dispensação e administração, prontuários eletrônicos com evolução multiprofissionais, software de análises de prescrições com alertas de interações medicamentosas, ajustes de doses em situações especiais (disfunção renal e hepática), doses máximas, vias de administração e outros problemas relacionados a medicamentos, tudo isso está disponível e pode ser utilizado pelo farmacêutico hospitalar”, confirma Araújo.
“Alguns hospitais já implementaram essas tecnologias, principalmente os privados, por se tratar de altos investimentos. A gestão dessas ferramentas normalmente não fica a cargo do farmacêutico, mas esse profissional participa dos processos de implementação e de gestão de indicadores que estão atrelados à sua área de atuação, como indicadores de dispensação de medicamentos”, complementa o professor.
A evolução tecnológica do setor vem acompanhada com uma valorização do papel da farmácia hospitalar, lembra a professora Mônica. “Antes a farmácia ficava no subsolo dos hospitais. Atualmemte isso mudou e acompanha o reconhecimento do profissional farmacêutico”.
Nos sistemas de distribuição e dispensação dos medicamentos na farmácia hospitalar, o farmacêutico como membro da equipe de saúde tem um papel fundamental. A farmácia é um setor estratégico nesse ambiente. “Onde tiver medicamento dentro da cadeia logística o farmacêutico tem que estar acompanhando”, diz Mônica.
“Antes se falava que na farmácia hospitalar se distribuía medicamentos, não dispensava. Contudo, dentro do enfoque do cuidado farmacêutico, pode-se dizer que o profissional faz a dispensação, pois ele tem o papel de promover a saúde, o cuidado no âmbito das práticas farmacêuticas”, explica Mônica.
Segundo a professora, o cuidado farmacêutico começa desde o processo de escolha do fármaco. “O farmacêutico participa de toda etapa da logística do medicamento (seleção, aquisição, programação, armazenamento, distribuição). Sua atividade não é meramente administrativa, mas técnica assistencial e prioritária para garantir a segurança do paciente dentro de uma unidade de saúde. O medicamento tem que estar a serviço do paciente, e o farmacêutico é quem vai garantir isso”, destaca.
A dispensação e os sistemas de distribuição de medicamentos, como componentes essenciais da cadeia logística assistencial, requerem cada vez mais a qualificação dos profissionais. “Sob essas práticas convergem a responsabilidade, junto com a gestão do serviço e a farmácia clínica, da promoção do uso racional de medicamentos em todos os seus segmentos, minimizando os erros de medicação e garantindo, assim, a segurança dos pacientes assistidos pela instituição hospitalar”, acrescenta Mônica.
Ao passo que ganha reconhecimento, o profissional farmacêutico precisa estar qualificado para as novas demandas, em sintonia com as novidades na dispensação e nos sistemas de distribuição de medicamentos. Com a rápida evolução do setor, “os profissionais precisam se atualizar para poderem estar bem posicionados no mercado de trabalho”, destaca Araújo.
“Inicialmente, as inovações são vistas como diferenciais. Em um segundo momento, aquele que não segue as inovações é visto como atrasado ou defasado, e isso, em um mercado de trabalho competitivo como o farmacêutico, pode representar a perda de oportunidades profissionais”, adiciona o professor.
“As novas tecnologias servem para auxiliar o profissional no controle das ações, seja produzindo relatórios ou mesmo como forma de barreira para mitigar eventos adversos. Qualquer ferramenta, desde que validada e supervisionada por um profissional, é bem-vinda. Nesse sentido, o profissional continua sendo o agente principal de todas as ações”, ressalta Araújo.
Saiba mais sobre inovações para farmácia hospitalar
Aos interessados em desenvolver habilidades críticas sobre dispensação e distribuição de medicamentos no ambiente hospitalar, considerando as boas práticas e uso seguro ao paciente, o ICTQ oferece o curso Sistemas de Dispensação de Medicamentos em Farmácia Hospitalar, ministrado pela professora Mônica Maria Henrique dos Santos.
Graduada em Farmácia e Bioquímica (UFPE), Mônica é doutora em Inovação Terapêutica (UFPE), mestre em Gestão de Assistência Farmacêutica (UFRGS) e concluinte em especialização em Direito Sanitário (UNYLEYA), além de especialista em Saúde Pública (São Camilo) e com MBA em Gestão de Hospitais (FCAP-UPE). É especialista em Administração Hospitalar (FCAP-UPE) e em Farmácia Hospitalar (UFRGS).
Confira abaixo um trecho de umas das vídeo-aulas que fazem parte do curso oferecido pelo ICTQ.
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