Desafios do farmacêutico na atuação em UTI

Desafios do farmacêutico na atuação em UTI

A presença do farmacêutico no âmbito das unidades de terapia intensiva (UTI) é relativamente nova. No entanto, em pouco tempo, sua atuação se mostrou fundamental, sobretudo na prevenção de eventos adversos relacionados ao uso de medicamentos. Apesar disso, há ainda desafios a serem enfrentados, como afirmam especialistas consultados pela equipe de reportagem do ICTQ – Instituto de Pesquisa e Pós-Graduação para o Mercado Farmacêutico.

“A importância do farmacêutico clínico incorporado à equipe multiprofissional de UTI vem se mostrando de excelente eficácia, uma vez que tende a diminuir os riscos relacionados ao uso de medicamentos (paciente polimedicado)”, salienta o farmacêutico especialista em farmacologia e professor de Farmácia Hospitalar e Clínica do ICTQ, Nelson Belarmino.

De acordo com Belarmino, isso se dá pelo fato de o profissional promover “uma melhor e mais precisa assistência farmacêutica, tomando por base critérios técnico-científicos que, como consequência, acarretam em maior segurança ao paciente, tendo em vista a administração eficaz e racional dos medicamentos prescritos e avaliados por esse profissional”.

A resolução 585/13, do Conselho Federal de Farmácia (CFF), estabeleceu as atribuições clínicas do farmacêutico e os diversos segmentos de sua atuação. Segundo a diretriz, essas atribuições “visam à promoção, proteção e recuperação da saúde, além da prevenção de doenças e de outros problemas de saúde”.

Conforme a resolução, são atribuições clínicas do farmacêutico relativas ao cuidado à saúde, nos âmbitos individual e coletivo:

  • Estabelecer e conduzir uma relação de cuidado centrada no paciente;
  • Desenvolver em colaboração com os demais membros da equipe de saúde ações para a promoção, proteção e recuperação da saúde, e a prevenção de doenças e de outros problemas de saúde;
  • Participar do planejamento e da avaliação da farmacoterapia, para que o paciente utilize de forma segura os medicamentos de que necessita, nas doses, frequência, horários, vias de administração e duração adequados, contribuindo para que tenha condições de realizar o tratamento e alcançar os objetivos terapêuticos;
  • Realizar intervenções farmacêuticas e emitir parecer farmacêutico a outros membros da equipe de saúde, com o propósito de auxiliar na seleção, adição, substituição, ajuste ou interrupção da farmacoterapia do paciente;
  • Prevenir, identificar, avaliar e intervir nos incidentes relacionados aos medicamentos e a outros problemas de farmacoterapia;
  • Identificar, avaliar e intervir nas interações medicamentosas indesejadas e clinicamente significantes;
  • Avaliar, periodicamente, os resultados das intervenções farmacêuticas realizadas, construindo indicadores de qualidade dos serviços clínicos prestados; e
  • Elaborar uma lista atualizada e conciliada de medicamentos em uso pelo paciente durante os processos de admissão, transferência e alta entre os serviços e níveis de atenção à saúde.

Ainda segundo a resolução, o farmacêutico “presta cuidados à saúde em todos os lugares e níveis de atenção, em serviços públicos ou privados. Ele exerce sua atividade com autonomia, baseado em princípios e valores bioéticos e profissionais, por meio de processos de trabalho, com padrões estabelecidos e modelos de gestão da prática”.

Dentre os locais em que o farmacêutico clínico pode atuar estão os hospitais, onde os eventos adversos relacionados ao uso de medicamento são os mais prevalentes, aumentando, consideravelmente, o número de óbitos e gastos hospitalares.

“Nesse ambiente, a atuação do farmacêutico torna-se fundamental na prevenção de tais eventos, sobretudo nas unidades de terapia intensiva, uma vez que, frequentemente, os pacientes estão sob uso de polifarmácia, aumentando substancialmente o risco de interações medicamentosas”, explica o farmacêutico e professor da pós-graduação em Farmácia Clínica em Terapia Intensiva no ICTQ, Bruno Gedeon de Araújo.

“É sabido que o farmacêutico, quando incluído na equipe multidisciplinar, contribui para a redução do tempo de hospitalização, melhora do uso racional de medicamentos, diminuição dos cursos hospitalares, redução da resistência microbiana, entre outras vantagens”, ressalta Araújo.

A UTI é um setor extremamente dinâmico dentro do hospital, lembra o farmacêutico e professor da pós-graduação em Farmácia Hospitalar e Acompanhamento Oncológico no ICTQ, Leonardo Daniel Mendes. “Os pacientes apresentam mudança na conduta médica em tempo real, sendo alterado o plano farmacoterapêutico com frequência, o que aumenta, e muito, a chance de interações medicamentosas”.

O farmacêutico tem um papel extremamente importante – continua Mendes –, devendo assumir a postura de detentor da base medicamentosa. “Outro agravante dentro de uma UTI é que a maioria dos pacientes está intubada ou sedada, o que torna mais difícil o relato de reações adversas medicamentosas. Então, o profissional tem que ter conhecimento para precaver o corpo clínico do que pode acontecer com o paciente”.

“Outro ponto muito importante é que as medicações administradas dentro da UTI são, em grande maioria, de alto risco. Qualquer dosagem, frequência e administração incorretas colocam a vida do paciente em risco. O farmacêutico tem um trabalho extremamente nobre: por meio do seu conhecimento garante a melhor terapia e a forma mais segura de tratar o paciente”, complementa Mendes.

O farmacêutico tem sua atuação voltada para a farmacovigilância, na conciliação de medicamentos, no seguimento farmacoterapêutico e na avaliação da prescrição, frisa Araújo. “Além disso, as orientações prestadas no momento da alta contribuem para a cultura da segurança do paciente, de suma importância na qualificação da assistência prestada ao usuário”.

Principais desafios

De acordo com Mendes, a presença do farmacêutico dentro da UTI é relativamente nova, “com o passar do tempo foi visto a necessidade desse profissional integrando a equipe multidisciplinar”. Sendo assim, o grande e principal desafio é fazer com que o profissional farmacêutico se instale na equipe.

“Trazendo minha experiência, no começo há uma certa barreira, mas nada incapacitante perante a equipe. Porém, quando começamos as atividades é muito perceptível o ganho na qualidade do tratamento. O farmacêutico se torna essencial, sendo, de fato, detentor das informações medicamentosas. Vale a pena arriscar, vale a pena mostrar nosso conhecimento, pois quem ganha com tudo isso é o paciente”, salienta Mendes.

“É importante quantificar os resultados obtidos pela equipe de farmácia clínica, para mostrar não apenas a importância do farmacêutico na obtenção de bons resultados terapêuticos, mas também para sensibilizar os gestores de que investir no farmacêutico clínico, além de melhorar a condição terapêutica do paciente, reduz os custos e diminui desperdícios”, acrescenta Araújo.

Nelson Belarmino pontua que um dos grandes desafios do farmacêutico clínico é o alinhamento para a tomada de decisão com o profissional prescritor, “além da necessidade de escolha de uma segunda opção terapêutica, a depender da situação e quando aplicável”. Outro desafio seria a falta de conhecimento a fundo da fisiopatologia por parte do farmacêutico, “o que pode limitar a tomada de decisão do profissional”.

Com a pandemia do novo coronavírus, os desafios para o farmacêutico clínico se tornaram ainda maiores, sobretudo por conta da gravidade dos casos dos pacientes internados. No estágio mais grave, a doença pode provocar lesão tecidual capaz de desencadear falência orgânica em sucessivos sistemas fisiológicos.

Essa condição promove a utilização de inúmeros fármacos simultaneamente (muitos de alta vigilância), fato que pode resultar em consequentes interações e incompatibilidades medicamentosas. Além disso, há muitos riscos de reações adversas e a necessidade de individualizar a posologia das substâncias com o objetivo de otimizar o tratamento farmacológico.

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“A pandemia foi um desafio muito grande na UTI devido à capacidade sempre lotada, com pacientes intubados e em uso de polifarmácia endovenosa. Não sabíamos o que esperar das complicações clínicas, quais medicamentos iríamos usar e o que esses medicamentos causariam de efeitos colaterais diante do quadro infeccioso da Covid-19”, revela Mendes.

“Foi muito desafiador, perdemos muitos pacientes, mas salvamos inúmeros também. Fomos aprendendo com o passar do tempo. A profissão farmacêutica foi, de fato, colocada à prova, pois todas as discussões envolviam novos medicamentos ou medicamentos utilizados experimentalmente”, conta o professor, destacando o resultado desse trabalho.

“Houve uma mudança imensa na rotina da UTI, cada vez mais prescrições para análise, mais medicamentos para investigação de possíveis RAMs e novos protocolos para seguirmos. Porém, acredito que houve uma maturidade profissional adquirida também, com inúmeros aprendizados e valorização aos nossos pacientes”, conclui Mendes.

Belarmino destaca o outro lado dessa história. “A principal mudança durante o período de pandemia foi o fator exaustão de trabalho, com redução do intervalo de descanso e o consequente aumento da probabilidade de erros, o que pode ter acarretado o aumento do custo de medicamentos utilizados por esses pacientes em UTI”.

Para evitar ou minimizar a ocorrência de problemas relacionados à farmacoterapia, reduzir o desperdício de recursos e melhorar os resultados terapêutico, bem como a adesão ao tratamento, no caso dos pacientes de alta, o professor Araújo destaca o procedimento de revisão de prontuários de medicamentos.

“Aqui é quando se observam diversos problemas que acontecem na farmacoterapia, como: dose acima do recomendado, dose inefetiva, interações medicamentosas, necessidades de ajustes para função renal e hepática, se o regime posológico pode ou não estar adequado ou não é cômodo para o paciente (o que piora a adesão). Tudo isso é feito pela simples análise da prescrição. Às vezes é possível utilizar um medicamento menos potente, com um custo menor, mas que atenderá plenamente às necessidades do paciente. O farmacêutico pode fazer as sugestões de manejo para a equipe médica”, aponta Araújo.

Saiba mais sobre a atuação do farmacêutico em UTI

Como desenvolver nos profissionais farmacêuticos as habilidades para a revisão das prescrições médicas, item extremamente importante na área hospitalar e de UTI, entre outros assuntos, são temas abordados pelo professor Bruno de Araújo em sua aula na pós-graduação em Farmácia Clínica em Terapia Intensiva no ICTQ.

Araújo é formado em Farmácia pela Universidade de Brasília, com mestrado e doutorado em Gerontologia pela Universidade Católica de Brasília. É especialista em Segurança do Paciente e Saúde do Idoso. Tem experiência como professor e coordenador de estágio para curso superior de Farmácia e especialização em Farmacologia Clínica.

Confira abaixo um trecho de uma vídeo-aula, entre as diversas outras que fazem parte do curso oferecido pelo ICTQ.

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