Após recentes pesquisas indicarem que a hidroxicloroquina não apresenta eficácia no tratamento contra o novo coronavírus (Covid-19), os pesquisadores do Hospital Raymond Poincare, na França, solicitaram a retirada do ar de um estudo que apontava benefícios na terapia combinada desse medicamento ao antibiótico azitromicina em pacientes infectados. O artigo estava sendo utilizado para rebater as novas análises.
A pesquisa intitulada ‘hidroxicloroquina mais azitromicina’ ganhou popularidade após ser difundida pela Fox News, nos Estados Unidos. No entanto, o estudo foi bastante questionado pela comunidade científica, devido ao fato de que a terapia foi realizada com um pequeno número de pacientes (cerca de 30 pessoas). Além disso, o trabalho não foi aceito em periódico científico e nem certificado pela revisão de pares, o que significa que não passou por uma avaliação de cientistas.
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Após o artigo ser retirado do ar, um texto substituiu a pré-publicação: "Os autores retiraram esse manuscrito e não desejam que ele seja citado. Devido à controvérsia sobre a hidroxicloroquina e à natureza retrospectiva de seu estudo, os cientistas pretendem revisar o manuscrito após a revisão por pares".
Ampla divulgação
No Brasil, o estudo foi amplamente difundido nas redes sociais, inclusive, a tese ganhou apoio do presidente, Jair Bolsonaro, que defendeu o uso da hidroxicloroquina no tratamento da Covid-19. A pressão para liberar o uso da substância, mesmo sem comprovação científica, foi tão grande, que foi responsável pela saída do então ministro da saúde, Nelson Teich, do seu cargo.
Estudos recentes
Contudo, no último dia 22 maio, um estudo publicado na conceituada revista médica The Lancet não constatou benefícios positivos em relação ao uso da hidroxicloroquina. Na pesquisa, que avaliou mais de 96 mil pacientes, 14.888 receberam o medicamento (com ou sem o antibiótico) e 81.144 pessoas não passaram por nenhum dos tratamentos. A conclusão foi que o uso dessas duas substâncias não combateu o coronavírus e ainda aumentou o risco de morte por problemas cardíacos.
Sobre os possíveis problemas cardíacos, o farmacêutico e professor em farmacologia do ICTQ, Thiago Melo, explica quais são os principais riscos: “Recentemente, a literatura tem apresentado os problemas de arritmia cardíaca pela associação [de medicamentos]. Então, quando se fala em hidroxicloroquina é importante lembrar que esses indivíduos não estão somente tomando essa substância. Esse que é o verdadeiro problema que, inclusive, tem sido pouco comentado na mídia. A hidroxicloroquina é um medicamento arritmogênico, mas o problema principal é a sua associação com a azitromicina que também é”, afirma.
Ele finaliza: “Essas duas [drogas] juntas representam uma outra conversa. Nesse caso, estamos diante de uma interação medicamentosa. E detalhe, há pouca discussão sobre isso, como não é uma associação comum, ao longo da história, muitas pessoas que apresentam quadro de parada cardíaca devido a essa associação podem cair na conta das mortes por Covid-19”, encerra.
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