Força-tarefa reduz desvio de medicamento e empodera farmacêutico em hospital federal

Força-tarefa reduz desvio de medicamento e empodera farmacêutico em hospital federal

Em um processo de investigação, correção e planejamento estratégico, um dos seis hospitais federais do Rio de Janeiro (RJ), o Bonsucesso, recebeu uma força-tarefa da Secretaria Geral da Presidência da República, que reverteu em 100% o alto número de desvios de medicamentos no local, ocasionados por roubos de funcionários. Além disso, também provocará a contratação de mais 31 farmacêuticos e já economizou R$ 3,2 milhões ao firmar um contrato para a compra de medicamentos oncológicos diretamente do Laboratório Químico-Farmacêutico da Aeronáutica (LAQFA).

O tenente farmacêutico, Adriano Almeida (foto), é membro dessa força-tarefa e diz que, geralmente, o farmacêutico é muito distante desse processo de gestão dos hospitais: “Antes de enviar a força-tarefa, a Consultoria Falconi mapeou as áreas que poderiam colocar em risco a gestão do hospital. Esse levantamento sinalizou problemas nas seguintes áreas: Almoxarifado, Farmácia, Suprimentos, Administrativo, Informática, Contratos e Licitações”.

Almeida afirma que começou a propor ações de controle de medicamentos e de farmacoeconomia. “Minha missão é identificar todo e qualquer foco de desperdício de medicamentos ou desvios. Depois de identificados os problemas propusemos as soluções para equacionar os que foram encontrados. E nós já produzimos soluções fundamentais com resultados muito positivos”, explica.

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Ele conta que a farmácia satélite de emergênca do Bonsucesso era aberta, e não havia farmacêutico. Qualquer funcionário da unidade, sejam médicos, enfermeiros ou técnicos, podia entrar no local e pegar os medicamentos, controlados ou não. Nada impedia que uma pessoa entrasse na farmácia, pegasse o medicamento e que o levasse embora.

“Comecei a colocar as soluções em prática de forma isolada. Depois de conhecer esse fluxo, precisávamos acabar com os desvios de medicamentos, além de melhorar o controle de qualidade e melhorar a rastreabilidade para estancar o restante dessa sangria”.

Processos mais eficientes

Ele lembra que, no hospital de Bonsucesso, não existia a figura do chefe da divisão farmacêutica. Quando os problemas chegavam ao gabinete da diretora, Cristiane Jourdan, já havia muito pouco a ser feito. “Com o envio da força-tarefa, os processos ficaram mais eficientes, por exemplo, antigamente quem decidia o que comprar e em que quantidade era o setor de compras e não a farmácia. Essa prática provocava o constante desabastecimento de medicamentos. Agora os medicamentos são comprados por indicação direta da chefia da farmácia. Isso antigamente não acontecia”.

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Atualmente, a farmácia satélite fica protegida, e o controle é feito por uma farmacêutica e duas profissionais da farmácia, que prestam contas dos medicamentos. Após toda essa análise, foi feita a solicitação de contratação de 31 farmacêuticos para repor o RH que foi perdido durante os anos e implantar novos serviços e atividades, além da retomada da residência farmacêutica.

“O mesmo deverá acontecer, posteriormente, nos outros hospitais federais, que terão a perda de RH recomposta por contratação de novos farmacêuticos pelo Núcleo Estadual do Rio de Janeiro (NERJ), por meio do 6º certame, o que também significa uma nova e importante frente de trabalho a se considerar, já que são seis hospitais no Rio de Janeiro, gerando novas vagas de trabalho e, consequentemente, mais economia, pois esses profissionais implementarão ações para aumentar o controle e a rastreabilidade dos medicamentos, evitando, assim, a perda de medicamentos por validade, desvio e roubo. Esses profissionais contratados serão, provavelmente, farmacêuticos hospitalares e clínicos”, ressalta Almeida.

Melhoria no Laboratório

Outro colaborador dessa força-tarefa é o tenente coronel farmacêutico, Cleber Araújo, que cuida da parte de bioquímica: “Atualmente, temos carência de profissionais de nível superior dentro de laboratório, e isso já vem sendo reportado há vários anos. São três frentes que iremos atacar no laboratório do Hospital: ter uma boa equipe, modernizar os equipamentos e otimizar a infraestrutura. Há, apenas, uma farmacêutica além de mim, o que é insuficiente para um hospital que funciona 24 horas por dia, sete dias por semana. O ideal seria que, em cada plantão, houvesse, ao menos, mais dois profissionais”, comenta ele.

Araújo acredita que um dos problemas do setor farmacêutico brasileiro é a falta de formação consistente em nível de graduação e pós-graduação. “A formação desses profissionais é muito importante. Nós não vamos conseguir montar grandes equipes se os farmacêuticos não tiverem uma boa formação técnica. Só a universidade não oferece essa formação. É preciso do ICTQ e de outras instituições, como o Einstein e o Sírio Libanês, para qualificar os farmacêuticos”.

O mais importante disso tudo é antes de esta força-tarefa sair do hospital de Bonsucesso, ela deverá deixar toda a equipe montada e o processo funcionando perfeitamente.

Havia um caos

“Inicialmente é necessário contextualizar. Antes de eu assumir a direção do Hospital Federal de Bonsucesso, há sete meses, havia uma situação crítica. Este hospital é de média e alta complexidades, e é o maior da rede federal. O hospital vinha sendo sucateado há duas décadas e estava com déficit de pessoal e com uma situação crítica de corrupção. Nós estamos promovendo ações imediatas para que possamos superar essas dificuldades”, relata a diretora do hospital, Cristiane.

Nesse contexto e dentro dessa crise, foram promovidas ações com relação à assistência farmacológica, em conjunto com a força-tarefa, junto à farmácia do hospital, que era um dos maiores problemas da instituição.

“Tínhamos um propósito de, diante daquela crise, nós não poderíamos deixar faltar nenhum medicamento oncológico, então, fizemos um grupo e buscamos soluções com relação ao que falta na farmácia. Também estamos resgatando a residência farmacêutica, porque nós acreditamos que a área acadêmica fomenta muito o crescimento e a superação de crises”.

Ela conta, ainda, que o hospital tem um projeto que vai representar uma economia bastante significativa, que é a manipulação dos medicamentos oncológicos, utilizando a estrutura do LAQFA para que, a partir de um contrato, passe a representar uma economia de R$ 3,2 milhões. “Todas essas ações visam uma melhor assistência, ou seja,  a ciência, a tecnologia e a qualidade, que são uma tríade indissociável no hospital”, afirma Cristiane.

Laboratórios oficiais

A Associação dos Laboratórios Oficiais do Brasil (Alfob) agrega os 18 laboratórios oficiais, que oferecem ao SUS um portfólio de produtos voltados às necessidades da população, entre vacinas, soros, medicamentos sintéticos e biológicos, e outros produtos para saúde. São 111 medicamentos registrados, 18 vacinas, 15 soros e outros 33 produtos para a saúde.

O desafio da produção e a oferta de medicamentos para doenças negligenciadas e drogas órfãs atingem o mundo inteiro. O setor privado farmacêutico não abrange essa categoria por conta da baixa demanda e rentabilidade. No Brasil, a oferta de drogas órfãs e o tratamento de doenças negligenciadas pelo SUS vêm por meio da rede de laboratórios oficiais.

A quase totalidade das drogas órfãs e o para o tratamento das doenças negligenciadas ofertadas pelo SUS é de responsabilidade do Ministério da Saúde.

Em estudo realizado pela Alfob, em 2019, quando avaliada a participação no fornecimento dos componentes básico, especializado e estratégico da assistência farmacêutica, ficou evidente o potencial de ampliação da oferta de produtos e medicamentos por parte dos laboratórios oficiais. “No tocante ao componente básico, considerada a aquisição descentralizada (exceção feita às insulinas humanas), os esforços de pactuação com os municípios sobre itens de interesse prioritário podem assegurar maiores escalas de produção, com preços melhores e garantia de fornecimento”.

Nos itens do componente especializado e estratégico, fica nítido que as Parcerias para Desenvolvimento Produtivo (PDPs) vêm sendo capazes de induzir o crescimento desses segmentos, os quais ainda oferecem espaço para expansão da oferta pelos laboratórios oficiais. Isso mostra que os laboratórios oficiais ainda tem capacidade de produção para atender a todas as demandas do SUS, fazendo frente aos laboratórios farmacêuticos e podendo, inclusive, competir com eles, o que, certamente, faria cair os preços dos medicamentos no Brasil.

LAQFA

Com a responsabilidade de produzir medicamentos oncológicos, inicialmente para o Hospital Federal de Bonsucesso, o LAQFA atende às necessidades do Brasil, por meio de demandas da FAB e do MS. Sendo a primeira mulher assumindo a direção do LAQFA, em fevereiro de 2020, a tenente coronel farmacêutica, Andreia Guerra, é responsável pela indústria, que é de médio porte, e conta com duas unidades fabris.

Possui um centro de manipulação farmacêutica, uma unidade que conta com uma linha de granulação via úmida e compressão direta, e outra unidade dedicada à produção de medicamentos oncológicos, que terá uma linha de alta contenção (high containment), o que tornará o processo produtivo mais seguro para o produto, o operador e para o meio ambiente.

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O portfólio do LAQFA possui o registro dos medicamentos: Captopril 25 mg, Pirazinamina 500 mg, Isoniazida 100 mg, Iodeto de Potássio 130 mg. Possui ainda registro clone do Mesilato de Imatinibe 100 e 400 mg e Tamoxifeno 10 e 20 mg. Para isso, emprega 86 funcionários, entre civis e militares. O quadro de farmacêuticos é composto por 11 militares de carreira e 11 militares temporários.

“Inauguramos em 2019 o Centro de Manipulação Farmacêutica – CEMFAR com o objetivo de manipular medicamentos oncológicos a serem administrados nos pacientes do Hospital de Aeronáutica do Galeão - HFAG. O CEMFAR está caminhando para atingir sua capacidade plena, fato que buscaremos ainda em 2020”, falou Andreia, com exclusividade ao jornalismo do ICTQ.

O LAQFA, assim como outros laboratórios públicos de produção de medicamentos, possui PDPs em andamento, além de projetos de transferência de tecnologia, ambos com o objetivo de fortalecer a produção nacional de medicamentos. São projetos de longo prazo, iniciados em anos anteriores. “Durante o período em que estiver na direção do LAQFA, daremos continuidade e esses projetos, pois temos a certeza de serem projetos importantes para o LAQFA, para a FAB, para o Ministério da Saúde e, principalmente, para o Brasil”, conclui ela.

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