Links para comunidades no Telegram e no WhatsApp que anunciavam falsas “curas” para o autismo saíram do ar após o Estadão Verifica publicar uma investigação a respeito de uma rede de desinformação na América Latina sobre o transtorno. Um site que vendia produtos indicados nesses espaços também saiu do ar no sábado, 6.
A investigação, produzida em parceria com veículos da Colômbia (Colombiacheck), do Chile (Mala Espina) e do México (Verificado), trouxe à tona trocas de mensagens que promoviam protocolos e “kits sanitizantes” para tratamento ou até cura de Transtorno do Espectro Autista (TEA).
O acesso a um dos grupos citados na reportagem, “Brasil Brasileo”, está indisponível. O grupo reunia 15 mil integrantes. A reportagem identificou que os administradores transferiram mais de 14 mil membros para uma comunidade em novo link, batizada com outro nome: “Plante uma moringa”.
Nesse espaço, os administradores divulgaram um posicionamento após a reportagem alegando que “não diagnosticamos, não prescrevemos e não orientamos abandono de tratamentos”. Mas isso não é verdade - como mostrado na reportagem, o “Brasil Brasileo” funcionava como vitrine de falsos remédios, principalmente o dióxido de cloro.
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Os administradores ofereciam inclusive cursos para fazer o próprio MMS – sigla em inglês de Miracle Mineral Solution, ou Solução Mineral Milagrosa na tradução em português. Trata-se de um “nome fantasia” para o dióxido de cloro, uma substância tóxica vendida nesses grupos como cura para o autismo.
Relatos de pessoas que passaram mal após ingerir o produto foram publicados mais de uma vez nesse grupo. Ainda assim, os pacientes eram incentivados pelos administradores da comunidade online a tentarem novas abordagens com o produto.
Os administradores do “Brasil Brasileo” foram procurados antes da publicação da investigação, mas não responderam.
O mesmo grupo recomendava um site para compra do produto, que tem no nome a fórmula do dióxido de cloro (ClO2). A página continua online, apesar de ter recebido notificação do governo brasileiro para interromper a venda irregular de substâncias no ano passado.
Uma das pessoas com presença constante no Brasileo, identificada como Pri Gavazzi, vende cursos e consultoria para administração de dióxido de cloro como tratamento de saúde. Ela mantinha dois grupos no WhatsApp que foram monitorados pela investigação. Os links de acesso para essas duas comunidades não estão mais funcionando.
Um dos sites denunciados, o “Purifica o Brasil”, foi retirado do ar. Ele estava na lista de páginas notificadas pelo governo brasileiro em 2024, mas continuava no ar até a publicação da investigação. O grupo que promovia essa página no Telegram havia sido removido por violar as leis brasileiras depois que o Estadão Verifica questionou o governo sobre a propagação de desinformação sobre saúde na plataforma.
A Advocacia-Geral da União (AGU) apresentou um pedido formal ao Telegram para remover grupos e canais que vendiam ilegalmente dióxido de cloro como cura para doenças, do câncer ao autismo. Segundo o governo, 30 comunidades foram removidas em 19 de setembro.
Procurado, o Telegram disse que atua na remoção de conteúdos nocivos.
A reportagem é uma investigação jornalística conjunta de veículos do Brasil (Estadão Verifica), da Colômbia (Colombiacheck), do Chile (Mala Espina) e do México (Verificado), todos integrantes do LatamChequea, rede de checadores de fatos da América Latina. O trabalho demonstrou a existência de um negócio lucrativo que prolifera graças à leniência de plataformas online e à baixa capacidade de fiscalização do poder público.
Esta investigação, realizada pela LatamChequea, a rede de verificadores latino-americanos, faz parte de “Os Desinformantes”, uma série de reportagens sobre grupos que espalham conteúdos enganosos na região. Foi realizada no âmbito do projeto “Promover informações confiáveis e combater a desinformação na América Latina”, coordenado pelo Chequeado e financiado pela União Europeia. Seu conteúdo é de responsabilidade exclusiva do Estadão Verifica, do ColombiaCheck, do Verificado e do Mala Espina, e não reflete necessariamente os pontos de vista da União Europeia.
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