O Brasil atingiu, em janeiro de 2025, um marco inédito na luta contra o HIV: a razão de 3,1 pessoas usando a profilaxia pré-exposição (PrEP) para cada novo caso detectado do vírus. Segundo o diretor do Departamento de HIV/Aids do Ministério da Saúde, Draurio Barreira, quando essa proporção é alcançada — em qualquer unidade de saúde, município, estado ou país — os estudos mostram uma tendência de queda sustentada na incidência da infecção. A previsão do Ministério é de que os dados consolidados de 2025 demonstrem uma redução importante e duradoura nas novas infecções.
“A gente espera, e já está conseguindo demonstrar, que irá ter uma queda importante este ano. Os dados parciais já mostram isso, e acredito que ela será robusta”, declarou Barreira ao Metrópoles. Segundo ele, mais de 185 mil brasileiros utilizam atualmente a PrEP, administrada por via oral e de uso diário. Mas novas tecnologias estão em pauta, como o lenacapavir, uma injeção semestral com potencial para revolucionar a prevenção.
Diante desse novo cenário, o farmacêutico é convocado a ocupar um papel estratégico na ampliação do acesso, na orientação da população e no acompanhamento do tratamento, como reforça o professor do ICTQ – Instituto de Pesquisa e Pós-Graduação para o Mercado Farmacêutico e coordenador do curso de Farmácia da UNIFIPMoc – Afya, Flavio Figueiredo.
Segundo ele, as farmácias comunitárias são espaços de saúde com grande capilaridade, especialmente em regiões onde há menor acesso à informação e aos serviços especializados. “O número de farmácias é maior que o de unidades básicas de saúde. São a primeira porta que o indivíduo procura. E o farmacêutico, nesse contexto, pode fazer a diferença”, afirma.
Esse protagonismo vai além da dispensação. Para o professor, o farmacêutico pode atuar na educação da população, explicando, de forma clara, o que é a PrEP, como ela funciona e quem pode se beneficiar dela. A comunicação acessível, respeitosa e acolhedora, especialmente com comunidades mais vulneráveis, é fundamental para vencer o estigma e promover o autocuidado.
Um dos maiores desafios da PrEP oral é a adesão: o medicamento deve ser tomado todos os dias, sem falhas. Nesse aspecto, o cuidado farmacêutico individualizado pode garantir o sucesso do tratamento.
“Quando o farmacêutico orienta o paciente de maneira personalizada e contínua, ele se torna mais que um profissional: torna-se um cuidador, um parceiro, alguém em quem o paciente confia”, defende Figueiredo. A adesão se fortalece quando há vínculo, reforçado por consultas regulares, lembretes e acompanhamento farmacoterapêutico.
Lenacapavir: a nova geração da PrEP
O lenacapavir é uma injeção de longa duração, administrada a cada seis meses, e representa uma alternativa promissora para pacientes com dificuldades de manter a PrEP oral. Para Figueiredo, surgem novas oportunidades e responsabilidades.
“A chegada dessas tecnologias exige preparo. É preciso buscar capacitação, entender aspectos da farmacocinética, das interações medicamentosas e dos protocolos clínicos. Isso vai desde o armazenamento adequado (possivelmente com cadeia de frio) até a aplicação e o rastreamento ativo dos pacientes para garantir que retornem no tempo certo”, explica o professor.
Testagem e encaminhamento ampliam o papel clínico
A testagem prévia é essencial antes do início da PrEP. Nesse ponto, Figueiredo ressalta que o farmacêutico deve ser capacitado para realizar testes rápidos, sempre respeitando os protocolos e a legislação vigente.
“O papel do farmacêutico vai desde o acolhimento com escuta ativa até a educação sobre a importância da testagem regular. A partir de uma entrevista clínica bem conduzida, ele pode identificar oportunidades para sugerir testagens e fazer o encaminhamento adequado dentro da rede de saúde”, comenta.
Os testes rápidos realizados em farmácia têm caráter de triagem e precisam ser confirmados por exames laboratoriais de referência. Ainda assim, a farmácia pode ser o primeiro ponto de contato com o cuidado, desde que o profissional esteja preparado e comprometido com boas práticas clínicas e éticas.
Desafios estruturais e capacitação contínua
Para que o farmacêutico esteja preparado para integrar essas estratégias de prevenção, Figueiredo destaca a necessidade de educação continuada. “Temos que estar ligados ao que há de novo, por meio de cursos de pós-graduação e capacitações. A prevenção do HIV exige conhecimento técnico, empatia e ética”, pontua.
Ele também alerta para desafios logísticos com os novos medicamentos, como o lenacapavir. “A administração especializada, a manutenção da cadeia de frio e o registro dos pacientes exigem uma nova estrutura de trabalho nas farmácias. Mas tudo isso pode ser vencido com treinamento e organização”.
Conexão com populações vulneráveis
O papel social do farmacêutico ganha ainda mais relevância quando se trata de grupos vulneráveis. “Populações LGBTQIA+, pessoas em situação de rua, profissionais do sexo, todas essas comunidades enfrentam barreiras sociais e institucionais. O farmacêutico pode ajudar a romper essas barreiras com acolhimento, escuta e informação segura”, afirma.
Nesse sentido, o trabalho em rede com organizações sociais e equipes multiprofissionais é essencial. “O farmacêutico pode sair do balcão e ir aos territórios, estabelecendo vínculo com essas comunidades. É uma atuação humanizada e transformadora”.
Para Figueiredo, o avanço das tecnologias preventivas exige um reposicionamento da farmácia como espaço clínico de cuidado. “Devemos abandonar a ideia da farmácia apenas como comércio. Ela precisa ser reconhecida como espaço de saúde, com consultórios, sigilo e privacidade para acolher o paciente com respeito e segurança”.
A atuação nesse novo modelo demanda comprometimento com a ciência, com o SUS e com o protagonismo profissional. “A prevenção do HIV não depende só de medicamentos, mas de vínculos, de educação e de uma escuta ativa. O farmacêutico é essencial nessa jornada”.
Uma nova era no combate ao HIV
Com o avanço da PrEP oral, a chegada do lenacapavir e a participação crescente dos farmacêuticos, o Brasil se aproxima de um novo capítulo no combate ao HIV. Como destaca Barreira, a meta é continuar expandindo a prevenção, a testagem e o cuidado.
E como reforça Flavio Figueiredo, o farmacêutico é um agente de transformação: “Nós somos comprometidos com uma saúde mais humana, inclusiva e baseada em evidências. A PrEP pode mudar vidas, mas só fará diferença se houver acesso, acolhimento e empoderamento. E nisso, nós farmacêuticos temos um papel decisivo”.
Capacitação farmacêutica
A formação contínua e a capacitação dos farmacêuticos são essenciais para a prestação de serviços clínicos de qualidade. Os cursos de pós-graduação oferecidos pelo ICTQ focam na prestação de serviços clínicos considerando diversos contextos de atenção farmacêutica, com o objetivo de promover o uso racional de medicamentos. Conheça:
- Farmácia Clínica e Prescrição Farmacêutica
- Farmácia Clínica em Unidade de Terapia Intensiva
- Farmácia Clínica em Cardiologia
- Farmácia Clínica e Atenção Farmacêutica
- Farmácia Clínica de Endocrinologia e Metabologia
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