A hipertensão arterial, frequentemente chamada de assassina silenciosa, é uma condição traiçoeira. Sem sintomas aparentes em suas fases iniciais, a doença costuma ser descoberta apenas quando já causou danos significativos ao organismo — e muitas vezes irreversíveis. Um dos alvos mais atingidos é o rim: a hipertensão não controlada é uma das principais causas de insuficiência renal crônica e, por consequência, de necessidade de hemodiálise ou até mesmo transplante renal no Brasil e em diversos países.
Considerada um dos principais fatores de risco para doenças cardiovasculares, como infarto do miocárdio e acidente vascular cerebral (AVC), a hipertensão representa um desafio significativo para a saúde pública no Brasil.
De acordo com dados do Ministério da Saúde (MS), a hipertensão afeta aproximadamente 24% da população brasileira com mais de 18 anos. Essa prevalência aumenta com a idade, atingindo cerca de 47% entre indivíduos com mais de 60 anos e chegando a 60% em pessoas com mais de 75 anos. Segundo a Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC), apenas 30% dos pacientes seguem corretamente o tratamento.
Mas o quadro pode ser ainda mais alarmante. Um relatório divulgado durante a 78ª Assembleia Geral das Nações Unidas (ONU) revelou que o Brasil possui uma taxa de pacientes hipertensos superior à média global, que varia entre 30% e 40%. No entanto, essa prevalência pode ser ainda maior, considerando que o índice considerado normal anteriormente – 120/80 mmHg (ou 12 por 8) – está sendo revisado pelas novas diretrizes da Sociedade Europeia de Cardiologia. Com isso, a pressão ideal passa a ser de 120/70 mmHg (ou 12 por 7), o que aumenta a quantidade de pessoas que devem ser consideradas hipertensas.
Os rins são órgãos especialmente vulneráveis à hipertensão. Isso porque eles dependem de uma rede capilar delicada e sensível para filtrar o sangue. A pressão elevada por longos períodos compromete essa função, causando danos estruturais ao néfron (unidade funcional dos rins), o que pode evoluir para doença renal crônica (DRC).
Dados da Sociedade Brasileira de Nefrologia (SBN) reforçam essa realidade: cerca de 35% dos pacientes em hemodiálise no Brasil têm a hipertensão como causa primária da insuficiência renal, ficando atrás apenas do diabetes mellitus. A SBN ainda destaca que, em muitos casos, hipertensão e diabetes coexistem, potencializando os danos vasculares e renais.
Papel do farmacêutico no controle da doença
O farmacêutico pode — e deve — ter um papel central na contenção desse problema silencioso. Além de orientar sobre o uso correto dos medicamentos anti-hipertensivos, o profissional atua na educação em saúde, triagem de pressão arterial e acompanhamento farmacoterapêutico, ações fundamentais na prevenção de complicações.
Segundo o professor do ICTQ - Instituto de Pesquisa e Pós-Graduação para o Mercado Farmacêutico, especialista em Farmacologia Clínica e mestre em Gestão, Pesquisa e Desenvolvimento em Tecnologia Farmacêutica, Daniel Jesus de Paula, a hipertensão arterial sistêmica é chamada de inimiga silenciosa por um bom motivo: “A maioria dos pacientes não sente absolutamente nada, mesmo com níveis pressóricos elevados. É aí que entra o papel do farmacêutico: monitorar a pressão arterial regularmente (inclusive com estratégias como cadastro de pacientes de risco), identificar sinais indiretos como tonturas frequentes, dor de cabeça e uso crônico de medicamentos que elevam a PA (anti-inflamatórios, descongestionantes nasais etc.) e atuar de forma preventiva. Basta um ‘vamos aferir rapidinho sua pressão?’ para evitar um AVC mais adiante”, afirma.
Ele destaca ainda que a farmácia comunitária pode ser o primeiro lugar onde esse diagnóstico é suspeitado.
Barreiras no diagnóstico e tratamento
Um dos maiores obstáculos no enfrentamento da hipertensão silenciosa é o subdiagnóstico. De acordo com dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), mais da metade das pessoas com pressão alta no mundo desconhecem a condição. Isso se deve à falta de sintomas, mas também à ausência de acesso ou de rotina de cuidados primários.
Quando diagnosticada, outro desafio é o tratamento irregular. Estudo realizado pela Fiocruz mostra que apenas 30% dos pacientes hipertensos no Brasil mantêm a pressão arterial sob controle adequado. O restante convive com riscos elevados de complicações cardiovasculares, cerebrais e renais.
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Nesse ponto, Daniel de Paula ressalta que “o jogo é de longo prazo”. Ele afirma: “A gente precisa explicar de forma simples que o controle da hipertensão envolve constância. E constância não é fácil! Uso de lembretes visuais, aplicativo de monitoramento, acompanhamento mensal de pressão, e, acima de tudo, vínculo com o paciente. Nada supera o farmacêutico que conhece o histórico, escuta sem pressa e consegue identificar barreiras como efeitos adversos dos anti-hipertensivos ou dificuldades financeiras”.
Segundo o especialista, explicar o porquê da adesão, o risco de não seguir corretamente e mostrar alternativas seguras dentro do protocolo terapêutico fazem toda a diferença para que o paciente compreenda a seriedade em seguir o tratamento.
A importância da prevenção contínua
Para reverter esse cenário, é essencial investir em campanhas permanentes de conscientização, rastreamento em farmácias e unidades básicas de saúde, e acesso a medicamentos eficazes.
No Brasil, o Programa Farmácia Popular já facilita o acesso gratuito a anti-hipertensivos, como besilato de anlodipino, cloridrato de propranolol, captopril, enalapril, losartana, atenolol, hidroclorotiazida, espironolactona, furosemida e succinato de metoprolol, mas a adesão ainda precisa ser reforçada.
Além da medicação, o controle da hipertensão depende de mudanças no estilo de vida: alimentação com baixo teor de sódio, prática regular de atividade física, redução do consumo de álcool e abandono do tabagismo.
De acordo com Daniel de Paula, o farmacêutico também pode contribuir diretamente para evitar complicações como a insuficiência renal terminal: “A hipertensão mal controlada é uma das principais causas de doença renal crônica. E o pior: o paciente só descobre quando a função renal já está comprometida. O farmacêutico pode orientar a monitorização de exames como creatinina e taxa de filtração glomerular (TFG), alertar sobre o uso indiscriminado de substâncias nefrotóxicas (especialmente AINEs), reforçar a importância da hidratação, do controle da pressão e do acompanhamento multidisciplinar. Evitar a progressão para estágios terminais de DRC, que podem exigir hemodiálise ou até transplante renal, é uma missão compartilhada — e o farmacêutico tem papel-chave nisso”.
Assim, a hipertensão silenciosa é uma ameaça invisível, mas que pode ser combatida com vigilância ativa e atuação multiprofissional. O farmacêutico, como elo entre o paciente e o sistema de saúde, tem papel decisivo na prevenção de complicações graves. Com mais acesso à informação e à assistência farmacêutica, é possível mudar o destino de milhões de brasileiros.
Capacitação farmacêutica
A formação contínua e a capacitação dos farmacêuticos são essenciais para a prestação de serviços clínicos de qualidade. Programas de pós-graduação, como o oferecido pelo ICTQ, focam na prestação de serviços clínicos considerando diversos contextos de atenção farmacêutica, com o objetivo de promover o uso racional de medicamentos.
Para quem deseja se capacitar para atuar em Farmácia Clínica, o ICTQ oferece alguns cursos de pós-graduação que devem interessar:
- Farmácia Clínica e Prescrição Farmacêutica
- Farmácia Clínica em Unidade de Terapia Intensiva
- Farmácia Clínica em Cardiologia
- Farmácia Clínica e Atenção Farmacêutica
- Farmácia Clínica de Endocrinologia e Metabologia
Saiba mais sobre os cursos de pós-graduação do ICTQ AQUI.
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