O uso de esteroides anabolizantes tem se tornado uma preocupação crescente no Brasil, especialmente entre jovens e frequentadores de academias que buscam aprimoramento estético ou desempenho atlético. Embora esses compostos tenham indicações de saúde legítimas, seu uso indiscriminado e sem supervisão profissional pode acarretar sérios riscos à saúde.
Nesse contexto, o farmacêutico desempenha um papel crucial na orientação e prevenção do uso inadequado dessas substâncias. Como profissional de saúde acessível e capacitado, atua na orientação, prevenção e controle do uso inadequado dessas substâncias. É imperativo que esse profissional esteja atento às legislações vigentes e engajado na promoção da saúde e bem-estar da população.
“As pessoas arriscam muito com anabolizantes, mesmo sabendo dos efeitos colaterais, mesmo sabendo que podem estar atrapalhando a sua saúde, porque, literalmente, elas querem um atalho. Os anabolizantes são vendidos como uma promessa de resultado rápido e esteticamente mais bonito, só que, na verdade, isso acontece se a pessoa tiver uma boa dieta e uma boa atividade física”, fala o professor do ICTQ – Instituto de Pesquisa e Pós-Graduação para o Mercado Farmacêutico, farmacêutico clínico e empreendedor no digital e na área magistral, Mario Rezende.
Ele afirma que muitas pessoas acham que somente usar o anabolizante vai trazer, para elas, o corpo que buscam, quando não é verdade. “O anabolizante acaba se tornando uma ferramenta para atingir o corpo ideal, que muitas vezes a gente chama isso de shape emprestado, porque na hora que você para de usar o hormônio (e todo mundo uma hora para, porque ninguém consegue se manter por conta dos colaterais), você perde muito, e isso é um problema seríssimo”, alerta.
O que são esteroides anabolizantes?
Os esteroides anabólicos androgênicos (EAA), comumente conhecidos como anabolizantes, são substâncias sintéticas derivadas da testosterona, o principal hormônio sexual masculino. Eles foram desenvolvidos para imitar os efeitos anabólicos (de construção de tecidos) e androgênicos (desenvolvimento de características sexuais masculinas) da testosterona.
Após a administração, os EAA entram na corrente sanguínea e se distribuem pelos tecidos do corpo, especialmente os músculos esqueléticos. Dentro das células musculares, esses compostos atravessam a membrana celular e se ligam a receptores específicos de androgênio no citoplasma. Essa ligação forma um complexo hormônio-receptor que é transportado para o núcleo celular, onde se liga a sequências específicas de DNA, chamadas elementos de resposta a andrógenos. Essa interação modula a transcrição de genes responsáveis pela síntese de proteínas, resultando em aumento da produção de proteínas musculares e, consequentemente, no crescimento da massa muscular.
Efeitos fisiológicos
Os principais efeitos anabólicos dos EAA incluem:
- Aumento da síntese proteica: promove o crescimento muscular e a recuperação após exercícios intensos.
- Aumento da retenção de nitrogênio: melhora o balanço nitrogenado, favorecendo o ambiente anabólico para o crescimento muscular.
- Estimulação da produção de glóbulos vermelhos: pode melhorar a capacidade de transporte de oxigênio no sangue.
Além dos efeitos anabólicos, os EAA possuem efeitos androgênicos, como o desenvolvimento de características sexuais secundárias masculinas (por exemplo, crescimento de pelos faciais e aprofundamento da voz).
Uso Terapêutico e Abusivo
Medicinalmente, os EAA são utilizados para tratar condições como hipogonadismo, certas anemias e perda muscular severa devido a doenças como câncer e AIDS. No entanto, o uso não médico desses compostos, especialmente para melhorar o desempenho atlético ou a aparência física, é considerado abuso e pode levar a efeitos adversos significativos.
O Panorama Setorial Fitness Brasil 2021 mostrou que mais de 30% dos frequentadores de academias já consideraram o uso de anabolizantes para potencializar os resultados, sendo que uma parcela significativa desses indivíduos não buscou orientação profissional.
Segundo a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), houve um aumento de 45% na venda dos três principais anabolizantes industrializados (testosterona, cipionato de testosterona e undecilato de testosterona), entre 2012 e 2019.
Entre os anabolizantes mais conhecidos estão:
- Androxon
- Boldenona
- Deca Durabolin (nandrolona)
- Deposteron
- Dianabol (metandrostenolona)
- Durateston
- Hemogenin (oximetolona)
- Metenolona
- Oxandrolona
- Testosterona
- Trembolona
- Winstrol (estanozolol)
Riscos e Efeitos Adversos
“Os riscos reais do uso abusivo de anabolizantes vão desde riscos fisiológicos, com alteração da produção hormonal, principalmente androgênica, em que se pode ter uma diminuição na produção de testosterona de forma natural e uma diminuição na espermatogênese dos homens. Nas mulheres, pode haver alguns efeitos relacionados à queda de cabelo, aumento do clitóris e alterações de voz. Além de tudo, o uso excessivo e contínuo de anabolizantes pode levar a problemas cardiovasculares”, fala Rezende.
Adicionalmente, o uso sem critério de EAA está associado a uma variedade de efeitos colaterais, incluindo:
- Alterações hepáticas: como hepatotoxicidade e, em casos graves, carcinoma hepatocelular.
- Distúrbios cardiovasculares: incluindo hipertensão arterial, dislipidemia e aumento do risco de eventos cardiovasculares.
- Alterações psiquiátricas: agressividade aumentada, alterações de humor e dependência psicológica.
- Disfunções endócrinas: nos homens, pode ocorrer atrofia testicular e ginecomastia; nas mulheres, irregularidades menstruais e virilização.
Além disso, o compartilhamento de agulhas para administração dessas substâncias aumenta o risco de infecções como HIV e hepatites B e C. Por isso, devido aos riscos associados, o uso de esteroides anabólicos deve ser restrito a indicações médicas legítimas e sob supervisão profissional adequada.
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A Anvisa classifica os esteroides anabolizantes como medicamentos de controle especial, cuja venda só é permitida em farmácias e drogarias mediante retenção de receita médica.
Em abril de 2023, o Conselho Federal de Medicina (CFM) proibiu médicos de prescreverem esteroides anabolizantes para finalidades estéticas, ganho de massa muscular ou melhora do desempenho esportivo.
O Papel do Farmacêutico
“Nós, como farmacêuticos, podemos fazer exatamente o que o meu trabalho faz: fornecer, para as pessoas que estão buscando mais performance e um melhor resultado, alternativas com os fitoterápicos. Esses fitoterápicos são muito importantes para ajudar as pessoas a atingir também os seus resultados, só que sem os efeitos colaterais que os hormônios proporcionam”, sugere Rezende.
Além disso, o farmacêutico tem um papel essencial na prevenção do uso inadequado de anabolizantes. Suas responsabilidades incluem:
- Orientação e educação: informar pacientes sobre os riscos associados ao uso indevido de esteroides anabolizantes.
- Dispensação responsável: assegurar que a venda dessas substâncias ocorra apenas mediante prescrição médica válida e para indicações aprovadas.
- Notificação de eventos adversos: reportar suspeitas de reações adversas ao sistema VigiMed da Anvisa, contribuindo para a farmacovigilância.
Casos de comércio ilegal e falsificação
A falsificação de anabolizantes é uma preocupação crescente no Brasil, representando sérios riscos à saúde pública. Produtos falsificados podem conter substâncias desconhecidas ou nocivas, e sua produção ocorre sem controle de qualidade ou supervisão sanitária.
Infelizmente, há registros de farmácias envolvidas na comercialização ilegal de anabolizantes. Em novembro de 2019, a Polícia Civil investigou farmácias em Sapucaia do Sul, Rio de Janeiro, por tráfico dessas substâncias, resultando na prisão de um farmacêutico e apreensão de produtos ilegais. Tais incidentes ressaltam a importância da atuação ética dos profissionais e da necessidade de fiscalização rigorosa por parte dos conselhos regionais de farmácia.
Em março de 2023, a Anvisa determinou a apreensão e proibição da comercialização de unidades falsificadas dos medicamentos Deca-Durabolin e Durateston. Esses produtos estavam sendo vendidos com o nome da empresa Schering-Plough, que não possuía autorização para comercializá-los desde 2017.
Em abril de 2023, a Polícia Civil desmantelou uma fábrica clandestina em Anápolis, Goiás, considerada o maior esquema de falsificação de anabolizantes do país. A organização criminosa utilizava temperos de cozinha e colorau para simular a cor da testosterona sintética, vendendo os produtos falsificados em todo o território nacional.
O consumo de anabolizantes falsificados pode levar a graves problemas de saúde, pois esses produtos podem conter substâncias desconhecidas ou serem administrados em dosagens inadequadas. Além dos riscos já associados ao uso de anabolizantes legítimos, os produtos falsificados aumentam a probabilidade de reações adversas imprevisíveis.
Medidas de prevenção
Para minimizar os riscos associados à falsificação de anabolizantes, é fundamental:
- Adquirir medicamentos apenas em estabelecimentos autorizados: evite compras em academias, sites não confiáveis ou por meio de redes sociais.
- Verificar a procedência dos produtos: confirme se o medicamento possui registro na Anvisa e se a embalagem apresenta os selos de autenticidade.
- Consultar um profissional de saúde: antes de iniciar qualquer tratamento com anabolizantes, busque orientação especializada, como a de um farmacêutico.
Educação e capacitação farmacêutica
A formação contínua e a capacitação dos farmacêuticos são essenciais para a prestação de serviços clínicos de qualidade. Programas de pós-graduação, como o oferecido pelo ICTQ, focam na prestação de serviços clínicos considerando diversos contextos de atenção farmacêutica, com o objetivo de promover o uso racional de medicamentos.
Para quem deseja se capacitar e se habilitar a requerer seu RQE em Farmácia Clínica, o ICTQ oferece alguns cursos de pós-graduação que devem interessar:
- Farmácia Clínica e Prescrição Farmacêutica
- Farmácia Clínica em Unidade de Terapia Intensiva
- Farmácia Clínica em Cardiologia
- Farmácia Clínica e Atenção Farmacêutica
- Farmácia Clínica de Endocrinologia e Metabologia
Saiba mais sobre os cursos de pós-graduação do ICTQ AQUI.
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