Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), estima-se que em 2025, 2,3 bilhões de adultos ao redor do mundo estejam acima do peso. No Brasil essa patologia teve um aumento de 72% nos últimos treze anos, atingindo 26,8%. Dados do Ministério da Saúde (MS), apontam que a obesidade acomete 6,7 milhões de pessoas no País. O número de pessoas com obesidade mórbida, ou IMC grau III, acima de 40 kg/m², atingiu 863.086 pessoas no ano passado.
Para combater essa epidemia, medicamentos como a semaglutida (comercializada como Ozempic e Wegovy) e a tirzepatida (Mounjaro) têm sido utilizados devido à sua eficácia na promoção da perda de peso. No entanto, surgem preocupações, durante o uso desses medicamentos, com relação à sarcopenia e à osteoporose, e na possibilidade de perda de massa magra e de todas as estruturas musculoesqueléticas, causando fraqueza muscular, perda do equilíbrio, fraturas e do desempenho físico geral. Nesse contexto, o papel do farmacêutico é crucial na orientação dos pacientes para a manutenção da massa magra e na prevenção dos problemas associados à obesidade e ao uso desses medicamentos.
Mecanismos de ação da semaglutida e tirzepatida
A semaglutida é um agonista do receptor de GLP-1 (glucagon-like peptide-1), inicialmente aprovado para o tratamento do diabetes tipo 2, mas indicado para obesidade por uso offlabel. Estudos demonstraram que a semaglutida também é eficaz na redução do peso corporal em indivíduos com obesidade. Por exemplo, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) aprovou a ampliação de uso do Wegovy (semaglutida) para adolescentes, após estudos mostrarem uma perda de peso significativa e clinicamente relevante nessa população.
A tirzepatida, por sua vez, é um agonista dual dos receptores de GIP (polipeptídeo insulinotrópico dependente de glicose) e GLP-1. Ela foi aprovada pela Anvisa em 2023 como adjuvante à dieta e exercícios para melhorar o controle glicêmico em adultos com diabetes mellitus tipo 2. Embora seu uso principal seja para o controle glicêmico, estudos têm mostrado que a tirzepatida também promove perda de peso significativa.
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De acordo com a professora do ICTQ - Instituto de Pesquisa e Pós-Graduação para o Mercado Farmacêutico e diretora tesoureira no Conselho Regional de Farmácia do Estado de São Paulo (CRF-SP), Danyelle Marini, pesquisas indicam que entre 25% e 40% da perda total de peso com esses medicamentos decorre da redução da massa magra: “Isso pode resultar em perda de força, diminuição da mobilidade e menor taxa metabólica basal, tornando mais difícil a manutenção do peso a longo prazo. Indivíduos idosos ou com menor reserva muscular inicial estão particularmente vulneráveis ao desenvolvimento de sarcopenia, condição associada ao aumento da mortalidade”.
Apesar dessas preocupações, ela afirma que revisões sistemáticas demonstram que esses fármacos são eficazes, levando a uma perda de peso de aproximadamente 11,85% em comparação ao placebo.
Perdas significativas de massa magra aumentam o risco de quedas e o prejuízo à qualidade de vida. Além disso, a perda da massa muscular e a variação de peso também influem negativamente no agravamento da osteoporose.
Para mitigar esses efeitos, é essencial que os pacientes mantenham uma dieta equilibrada rica em proteínas e que pratiquem exercícios de força, realizados de duas a três vezes por semana. O Ministério da Saúde fala na ingestão diária de 0,8 grama de proteína por quilo de peso da pessoa. Então, quem tem 70 kg, por exemplo, deve ingerir 56 gramas de proteína todos os dias. No entanto, há especialistas que defendem um aporte maior de proteína diária na alimentação, como cerca de 1,5g por quilo de peso corporal, que seria fundamental para a construção e manutenção dos músculos.
A Novo Nordisk, fabricante do Ozempic, esclarece que a semaglutida, por si só, não causa perda de massa magra. O que o princípio ativo faz é proporcionar uma sensação de saciedade. O risco de perda de massa magra ocorre quando não se mantém uma dieta equilibrada. Por isso, a Novo Nordisk sempre recomenda o acompanhamento de um profissional de saúde durante o uso do Ozempic, garantindo uma perda de peso saudável e evitando carências nutricionais.
Um dos primeiros estudos sobre o uso da semaglutida, feito com quase 2 mil pessoas, segundo o G1, apontou uma perda média de 14,9% do peso corporal em até 68 semanas de tratamento. Dessa perda, 35% foram de massa magra e 65% de massa gorda. Já outros estudos apontam que as reduções na massa magra variam entre 40% e 50% do peso total perdido com o medicamento.
O papel do farmacêutico no monitoramento e prevenção
“O acompanhamento farmacoterapêutico é essencial para garantir a segurança do tratamento. O farmacêutico desempenha um papel crucial nesse contexto, monitorando a perda de massa magra e orientando os pacientes sobre estratégias para minimizá-la. Métodos como a bioimpedância elétrica (BIA), exames laboratoriais (albumina, creatinina urinária, índice creatinina-altura, vitamina D e testosterona) e testes funcionais ajudam a avaliar o impacto do medicamento no organismo”, ressalta Danyelle.
Segundo ela, além do monitoramento, o farmacêutico pode auxiliar na prescrição de suplementos, como proteína em pó, creatina (3-5g/dia) e aminoácidos essenciais, para manter a integridade muscular. A orientação sobre práticas alimentares e exercícios físicos deve ser reforçada continuamente, garantindo que a perda de peso ocorra de maneira saudável e sustentável.
“Com a popularização desses medicamentos, é fundamental que os farmacêuticos estejam preparados para mitigar seus possíveis efeitos colaterais. A combinação entre farmacoterapia, nutrição adequada e atividade física estruturada é a chave para um emagrecimento eficaz e seguro” defende Danyelle.
Prescrição de tarjados por farmacêuticos
Para dar suporte aos pacientes nesse tema, o farmacêutico está autorizado a prescrever medicamentos, incluindo aqueles de venda sob prescrição; a renovar prescrições previamente emitidas por outros profissionais de saúde legalmente habilitados; e a prescrever medicamentos em atendimento à pessoa sob risco de morte iminente, de acordo com a Resolução 5/2025, em 20 de fevereiro de 2025.
O que não pode sair da mira é que os medicamentos categorizados sob prescrição somente poderão ser prescritos pelo farmacêutico que possua o Registro de Qualificação de Especialista (RQE) em Farmácia Clínica, estabelecido pela Resolução 4, de 20 de fevereiro de 2025, do CFF. Dessa forma, os mais de 30 mil alunos que cursaram pós-graduação em Farmácia Clínica no ICTQ já estão habilitados a requerer o RQE em Farmácia Clínica diretamente no Conselho Regional de Farmácia de sua jurisdição, podendo atuar, de forma mais ampla e segura, junto aos pacientes em acompanhamento farmacoterapêutico.
Capacitação farmacêutica
Para quem deseja se capacitar e se habilitar a requerer seu RQE em Farmácia Clínica, o ICTQ oferece alguns cursos de pós-graduação que devem interessar:
- Farmácia Clínica e Prescrição Farmacêutica
- Farmácia Clínica em Unidade de Terapia Intensiva
- Farmácia Clínica em Cardiologia
- Farmácia Clínica e Atenção Farmacêutica
- Farmácia Clínica de Endocrinologia e Metabologia
Saiba mais sobre os cursos de pós-graduação do ICTQ AQUI.
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