Um dos assuntos mais populares do momento, sem dúvidas, é o ChatGPT, desenvolvido pela startup americana OpenAI, uma inteligência artificial (IA) conhecida como chatbot, que traduzido para o português seria algo como “robô de bate-papo”. A boa capacidade de manter a coerência das respostas, uma conversa sem perder o nexo por mais tempo e a formulação de textos muito similares aos dos humanos chama a atenção, sendo o seu principal diferencial.
É impressionante o quanto ele pode formular sobre qualquer assunto, de poesia a lição de casa, resumos de artigos a código Python. Praticamente tudo, senão tudo mesmo! E o farmacêutico, será que pode se apropriar dessa tecnologia a seu favor?
O questionamento sobre a possível relação dos farmas com tecnologia, especialmente o ChatGPT, é grande porque de fato a IA pode ser empregada na área da saúde, desde o ensino até contribuindo à prática do profissional para melhores condutas visando o bem-estar do paciente. Que fique claro, estamos falando de apoio e não substituição do homem pela máquina.
Receba nossas notícias por e-mail: Cadastre aqui seu endereço eletrônico para receber nossas matérias
De bate pronto, é fácil perceber a utilidade do ChatGPT para descobrir efeitos colaterais e uso de medicamentos, fornecendo orientações básicas para farmacêuticos, mas também para pacientes.
Leia também: Inteligência artificial estima frequência de efeito colateral de medicamento
A ferramenta fornece informações com base em pesquisas reais e em diferentes fontes. As funcionalidades do ChatGPT permitem ainda receber assistência rápida e precisa em linguagem natural. Isso ajudaria a acessar informações emergentes atualizadas de uma maneira fácil de entender.
Diferente dos mecanismos de IA utilizados pelas operadoras de telefonia móvel, talvez os exemplos mais específicos, o ChatGPT tem uma certa sofisticação na formulação de textos, o que em vez de afastar pode aproximar do ser humano. Contudo, do lado de cá, confiar totalmente no que diz a máquina não é o mais adequado.
“Entendo que a IA é uma ferramenta que veio para ficar na área de saúde. Precisamente na área farmacêutica, ela pode auxiliar muito o profissional nas respostas técnicas do dia a dia, porém como toda tecnologia, ainda mais o ChatGPT que ainda está em período de testes, muito se carece de testes de vida real e as informações que essas soluções originam devem sempre ser conferidas e nunca levadas como certeza absoluta”, fala o presidente do Conselho Regional de Farmácia do Estado de São Paulo (CRF-SP), Marcelo Polacow.
Em 2022, Polacow esteve no 26º Congresso da Associação Europeia de Farmacêuticos Hospitalares, na Áustria, onde acompanhou as principais tendências dos próximos anos para a profissão, entre elas a automação, o uso e domínio das tecnologias de informação para aproximar o atendimento dos pacientes.
“O farmacêutico pode buscar no ChatGPT informações sobre interações medicamentosas, indicações de uso e contraindicações relacionadas a medicamentos, pode cruzar doenças com medicamentos, qual a dosagem apropriada. A ferramenta também pode fornecer protocolos clínicos prontos para o uso de medicamentos para determinadas doenças. A inteligência artificial utiliza toda a base de dados de conhecimento do mundo e modula de acordo com as especificidades da pergunta feita por quem está em contato”, explica Polacow.
Contudo, ele reforça que o ChatGPT ainda está em desenvolvimento, em fase de testes, a própria OpenAI já destacou essa questão. O mecanismo ainda está em aperfeiçoamento, isto é, não está totalmente finalizada. Em caso de utilização, esta deve ser feita com parcimônia.
“Eu já fiz algumas simulações usando o ChatGPT e diria que grande parte das vezes as informações são confiáveis, mas não 100%, especialmente na área de Farmácia. Há algumas inconsistências, mesmo poucas, elas existem. Não se trata de uma ferramenta que podemos confiar totalmente, por isso que digo que o programa não substitui o ser humano. Aliás, compreendo que nada substitui o homem, principalmente na área de serviço farmacêutico”, garante o presidente do CRF-SP.
Por outro lado, Polacow atesta que o ChatGPT deverá revolucionar áreas como o Serviço de Atendimento ao Consumidor (SAC) da indústria farmacêutica, assim como dúvidas técnicas e o trabalho de consultoria. Segundo ele, a eficiência da informação em alguns casos é muito grande, o que pode impactar diretamente quem atua com atendimento ao cliente ou que faz um serviço de orientação. Ainda assim, não se poderá levá-la em consideração, no mercado farmacêutico sem o acompanhamento humano.
“Enquanto farmacêuticos, nós podemos utilizar o ChatGPT, mas a IA não irá substituir o nosso trabalho. Toda tecnologia tem suas falhas, mas em Farmácia ainda que essas falhas representem apenas 0,001%, se considerarmos um universo de um milhão de pessoas, será um número absurdo de pessoas que poderão sofrer as consequências”, ressalta o presidente do CRF-SP.
Para ele, muitas profissões devem desaparecer no futuro, principalmente pelas atividades que devem se tornar automatizadas, mas o limite sempre será a segurança do processo e a necessidade do ser humano. Polacow lembra que a pandemia de covid-19 trouxe essa percepção de que nada substitui o contato humano, ainda que se tenha robôs e uso de IA, o contato físico é fundamental para o desenvolvimento da humanidade.
“As tecnologias estarão mais presentes e facilitando a nossa vida, mas não podemos eliminar o homem dessa cadeia correndo o risco até da extinção da espécie humana. O farmacêutico deve pesquisar, se inteirar e testar as ferramentas que têm à disposição, no entanto sempre com o cuidado de não confiar totalmente, ainda mais naquelas que não estão totalmente finalizadas, como o ChatGPT”, finaliza Polacow.
Participe também: Grupo de WhatsApp e Telegram para receber notícias farmacêuticas