A farmacêutica Valdeiza Avelino Ozanaezokero, indígena do povo Paresi-Haliti, desenvolveu um projeto para fomentar o uso de plantas medicinais no território Paresi, em Mato Grosso. O objetivo dela é incentivar a comunidade a utilizar as plantas como remédio, assim como era feito na aldeia antigamente.
Receba nossas notícias por e-mail:Cadastre aqui seu endereço eletrônico para receber nossas matérias
Valdeiza se formou em 2017 em farmácia e contou que o conhecimento do uso medicinal veio primeiramente dos avós.
“Morei com os meus avós maternos e esse aprendizado, essa curiosidade de saber sobre as plantas medicinais e como agem no organismo veio deles. Naquela época era muito difícil ter acesso a farmácia ou até ter condições de comprar medicamento, e sempre que eles ficavam doentes, a única cura que eles buscavam era através das plantas medicinais. Eles iam até a mata, coletavam e faziam os medicamentos”.
Na faculdade, Valdeiza adquiriu conhecimento científico e pôde unir ao tradicional. No trabalho de conclusão de curso, fez um levantamento étnico-farmacológico das plantas medicinais utilizadas em algumas aldeias do território Paresi.
“Levantei vários tipos de plantas que a população usa, se usa mais o caule, as folhas, de que forma fazem os remédios, se faz o chá, banho, ou xarope, a quantidade que é usado, quantas vezes no dia”, disse.
O projeto de conclusão de curso foi um pontapé para o trabalho mais amplo que sonha em desenvolver no território. Mas, aos poucos e com apoio das associações e cooperativas, ela está conseguindo executar as atividades.
“Atuo com palestras, repassando para comunidade a importância do fortalecimento do uso das plantas medicinais, porque pra cada doença, tem uma planta no Cerrado, que a gente pode fazer um chá, pomada, um xarope para fazer o tratamento”.
Atualmente Valdeiza trabalha no polo base de atendimento à saúde indígena em Tangará da Serra, a 242 km de Cuiabá, sob o comando do Distrito Sanitário Especial Indígena (Dsei) da capital, e presta assistência farmacêutica para sete equipes de saúde entre o território Paresi.
“Penso que falta muita orientação para as equipes não indígenas que entram em área na questão do fortalecimento das plantas medicinais. Os profissionais que tenham interesse em trabalhar com indígena é muito importante que busquem fortalecer o uso das plantas medicinais. Eles podem ser um dos prescritores dos fitoterápicos, que já existem regulamentados pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa)”.
A TV Centro América entrou em contato com a Sesai e questionou como o órgão atua para fomentar o uso da medicina tradicional nos territórios indígenas de Mato Grosso, mas até a publicação da matéria não obteve retorno.
No próximo ano, as atividades de Valdeiza serão ampliadas. No início do ano, a jovem espera inaugurar o consultório farmacêutico e o jardim medicinal, na Aldeia Wazare, a cerca de 70 km de Campo Novo do Parecis. O local já está na fase final da construção.
“Vai ser um espaço aberto, para quem deseja fazer o tratamento com plantas medicinais, consultar e até mesmo ir só para conhecer”.
A Aldeia Wazaré é uma aldeia turística, que já recebe visitantes que desejam vivenciar a cultural Paresi. Segundo Valdeiza, dentro das atrações no próximo ano estará incluso o tratamento com plantas medicinais.
Participe também: Grupo de WhatsApp e telegram para receber notícias farmacêuticas