Estudo da Universidade de Manchester, no Reino Unido, concluiu que pessoas que trabalham à noite, como profissionais de saúde (farmacêuticos, enfermeiros, médicos), têm até três vezes mais chances de ter Covid-19, revelou o Correio Braziliense. Desequilíbrio no relógio biológico pode comprometer o sistema imunológico e favorecer o aparecimento da infecção.
A pesquisa, que contou com pesquisadores da Universidade de Oxford e da Universidade das Índias Ocidentais, envolveu dados do UK Biobank – um dos maiores bancos de dados biomédicos do mundo. Foram observados 6.442 britânicos com turnos de trabalho fora do horário convencional (entre 9h e 17h) e relacionaram se eles haviam sido internados com Covid-19.
Os pesquisadores concluíram que quem trabalha à noite e em turnos irregulares tem mais chances de testar positivo para a infecção pelo novo coronavírus do que indivíduos que atuam em horário comercial. “Nossos resultados mostraram que uma pessoa que trabalha em turnos irregulares noturnos tem até três vezes mais probabilidade de testar positivo para a Covid-19 do que alguém que não trabalha por turnos flutuantes”, afirmaram eles no estudo. No caso daquelas que alternam expedientes diurnos e noturnos, esse risco caiu para duas vezes mais.
De acordo com os cientistas, o tipo de trabalho ou ocupação por turnos não parece afetar a associação, uma vez que a exposição ocupacional à Covid-19 foi controlada de formas diferentes. “Em todos casos avaliados, o trabalho por turnos estava significativamente associado a um maior risco de ter Covid-19, o que nos mostra que essa diferença está presente independentemente da profissão do indivíduo”, disse, em comunicado um dos autores do estudo, o pesquisador da Universidade de Manchester John Blaikley.
A pesquisa foi apresentada na última edição da revista especializada Thorax, e os autores destacam que ainda não sabem as causas dessa relação, mas suspeitam que um desequilíbrio no relógio biológico, comum em pessoas com expedientes pouco convencionais, pode comprometer o sistema de defesa do corpo e favorecer o desenvolvimento de infecções.
“Segundo os estudiosos, com horários irregulares há um maior risco de infecção porque o sono é interrompido, o que prejudica o sistema imunológico e sua capacidade de combater infecções. Pesquisas anteriores já apontaram que trabalhadores noturnos podem ter risco mais alto de sofrer com diabetes tipo 2 e asma, entre outras condições”, afirmou o médico Jairo Bauer em seu blog no UOL.
Conforme os cientistas britânicos, o trabalho por turnos interrompe o ciclo natural de 24 horas do corpo. “Dado que o sistema imunológico é regulado pelo relógio circadiano, é possível que o trabalho por turnos possa causar um ‘desalinhamento circadiano’ e aumentando a suscetibilidade de uma pessoa à infecção por Covid-19”.
“Temos uma espécie de tour hormonal diário. Todo dia, um hormônio importante para o nosso corpo, o cortisol, é liberado. E isso acontece logo de manhã e às 17h. Em pessoas que não dormem à noite, isso fica desregulado e gera problemas na produção de outros hormônios importantes. Precisamos deles regulares para que aconteça a homeostase, que é o equilíbrio do corpo”, explicou ao Correio Braziliense o chefe da Emergência do Hospital Santa Lúcia, de Brasília, Luciano Lourenço.
O médico destacou ainda que, entre profissionais da saúde, essa é uma preocupação constante. “Trabalhamos 12 horas por dia, e isso faz com que o cansaço seja grande, que a alimentação seja mal feita. Também faz com que percamos um tipo de proteção que temos no organismo, que serve para nos defender de qualquer agente invasor, a chamada defesa inata do corpo”, explicou. “O estudo não avaliou essa questão, mas é bem provável que, na pesquisa, as pessoas infectadas pelo novo coronavírus e que trabalhavam à noite apresentaram casos moderados e graves da doença justamente por essa queda de defesa. É bem possível que ela influencie no desenvolvimento da Covid-19 no organismo”, concluiu.
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Outra hipótese levantada pelos pesquisadores britânicos é de que o risco maior de contrair Covid-19 em pessoas com trabalhos noturnos e irregulares está relacionado a limitações da rotina, como tempo reduzido para limpar o ambiente durante a troca de turnos, e também ao cansaço, que se reflete em um cuidado menor com medidas de segurança para se proteger do coronavírus.
O farmacêutico e professor da pós-graduação em Farmácia Clínica e Prescrição Farmacêutica no ICTQ – Instituto de Pesquisa e Pós-Graduação para o Mercado Farmacêutico, Rafael Poloni, recomenda atenção às duas hipóteses levantadas pelos pesquisadores.
“É sabido que a desorganização do sono e da rotina diária podem afetar consideravelmente o sistema imunológico e, em consequência, ao ser infectado pelo novo coronavírus com o organismo fragilizado, a gravidade da doença pode ser maior. Por isso, é recomendável que a alimentação seja adequada, os horários bem definidos, inclusive do sono e, claro, manter todas as condutas de proteção, como a utilização de máscaras e a higienização constante das mãos, redobrando esses cuidados no ambiente de trabalho e, se possível, alcançar a vacinação”, frisa Poloni.
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