Aprovado recentemente pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), o medicamento para tratamento do câncer de ovário niraparibe, do laboratório GSK, funciona como uma terapia de manutenção, potencializando os efeitos da quimioterapia e diminuindo os casos de recidiva, revelou a Veja Saúde.
De acordo com o fabricante, o medicamento, além de indicado para pacientes nas quais doença retornou, é também recomendado para as mulheres com câncer de ovário recém-diagnosticadas. Nos casos em que as pacientes fizeram uso da quimioterapia, a droga atua para evitar a recidiva da doença ou frear a sua progressão. Apesar de a quimioterapia funcionar, até 85% das mulheres com tumor de ovário eventualmente sofrem um retorno do câncer.
O Instituto Nacional de Câncer (Inca) calcula que 6.650 novos casos de câncer de ovário sejam diagnosticados ao ano no País, com 4 123 óbitos registrados no mesmo período. Trata-se da segunda neoplasia ginecológica mais comum, perdendo apenas para o câncer de colo de útero. Além de voltar com frequência, os sintomas só aparecem quando a doença já está avançada – cerca de 75% das mulheres recebem o diagnóstico quando ela se espalhou para outros órgãos. Com a descoberta tardia, a mortalidade chega a 45%.
Segundo a GSK, o niraparibe reduziu consideravelmente o risco de morte e de progressão desse tipo de tumor e é mais facilmente administrado. “O medicamento demonstrou excelentes resultados de eficácia e segurança em estudos, sem impacto na qualidade de vida. Além disso, o fato de ser um comprimido de dose única diária é vantajoso, porque estamos falando de um tratamento de longo prazo, que se estende por meses”, revelou à revista a oncologista Vanessa Fabrício, diretora médica de Oncologia do laboratório.
Estudos clínicos do medicamento foram publicados no prestigiado The New England Journal of Medicine. Duas dessas pesquisas amparam sua liberação. Na mais recente, 733 mulheres recém-diagnosticadas com um tumor no ovário fizeram sessões de quimioterapia e, na sequência, começaram a tomar o niraparibe. Em comparação com voluntárias que só receberam placebo após a quimioterapia, elas tiveram um risco 38% menor de progressão da doença ou de morte.
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Em outro estudo os pesquisadores se concentraram nas pessoas em que o câncer havia retornado. Todas se submeteram a novas rodadas de quimioterapia e obtiveram respostas positivas. A partir daí, metade tomou o niraparibe e o restante ficou com placebo.
Segundo os cientistas, nesse contexto, a medicação foi ainda mais benéfica. Em comparação com o placebo, o niraparibe proporcionou uma queda de 73% no risco de morte ou de progressão da enfermidade entre participantes com mutações nos genes BRCA. O número ficou em 55% nas que não possuíam essa alteração.
Conforme essas pesquisas, portanto, o medicamento é indicado tanto para mulheres diagnosticadas pela primeira vez com o câncer de ovário quanto para aquelas que sofreram uma recidiva e obtiveram algum benefício com novas rodadas de quimioterapia.
“A chegada de Zejula (nome comercial do niraparibe) amplia muito o grupo de pacientes que poderão se beneficiar do uso desta categoria e consequente controle da doença”, destacou em comunicado à imprensa o oncologista Fernando Maluf, diretor do Serviço de Oncologia Clínica do Hospital BP Mirante de São Paulo.
Apesar da aprovação no órgão regulador, o medicamento ainda deve demorar um pouco até se tornar disponível. Isso porque há um processo de definição de preço junto à Câmara de Regulação do Mercado de Medicamentos (CMED). Não há previsão de quando ele irá parar na rede pública (ou mesmo se isso vai acontecer), apurou a revista.
Importância do farmacêutico clínico no tratamento oncológico
O profissional de farmácia clínica tem um papel muito importante no acompanhamento do tratamento oncológico. Além de auxiliar diretamente o paciente, ele contribui com a equipe multidisciplinar de saúde que atua nesse segmento, como destaca o farmacêutico do Ministério da Saúde (MS) e professor da pós-graduação em Farmácia Clínica e Prescrição Farmacêutica no ICTQ – Instituto de Pesquisa e Pós-Graduação para o Mercado Farmacêutico, Rafael Poloni.
“O farmacêutico clínico especializado em oncologia tem um impacto positivo enorme na terapia medicamentosa dos pacientes com câncer, otimizando o tratamento, reduzindo ou até mesmo impedindo os resultados negativos relacionados a medicamentos, melhorando a qualidade de vida dos mesmos”, esclarece Poloni.
Ele frisa também que a terapia antineoplásica é uma das mais agressivas e com maiores efeitos adversos. “Consequentemente, em alguns casos há o abandono do tratamento e, quando isso não ocorre, pode haver sérios problemas decorrentes das falhas na adesão à terapia medicamentosa”.
Por isso, segundo Poloni, a presença do farmacêutico clínico é fundamental. “Ele acompanha o paciente em toda terapia medicamentosa, auxiliando a equipe multiprofissional no manejo do paciente, inclusive o médico, em relação aos ajustes na prescrição medicamentosa e monitoramento dos parâmetros que influenciam no tratamento”.
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