Especialistas do mundo inteiro debatem as possibilidades de uma pessoa se infectar com o novo coronavírus (Sars-CoV-2) mesmo depois de vacinada. A resposta não é simples e envolve algumas condições. Mas prevalece o consenso de que sem a vacina não há solução tangível para arrefecer a pandemia.
Para o imunologista e pesquisador da USP/Fapesp, Gustavo Cabral, colunista do VivaBem do UOL, apesar de inesperado pela sociedade, mas nada surpreendente para os cientistas, a possibilidade de as pessoas que já receberam a vacina serem infectadas não apenas pelas variantes do vírus é real.
“Uma pessoa vacinada pode ser infectada não só pelas variantes do coronavírus, como também por sua versão ‘antiga’. Isso porque uma característica bem divulgada das imunizações disponíveis – e que venho chamando a atenção há tempos – é que as vacinas protegem contra a Covid-19, especialmente suas formas graves, mas não contra o coronavírus. Assim, mesmo quem tomou a vacina pode ser infectado”, afirma Cabral em seu artigo mais recente no UOL.
Pode soar desanimador, mas Cabral logo desfaz o pessimismo. “O que importa mesmo é que as pessoas não desenvolvam a doença grave após serem infectadas, seja pelas novas variantes, seja pelas ‘antigas’. Dessa forma, as vacinas alcançarão o principal objetivo de seu desenvolvimento: proteger contra casos moderados e graves da Covid-19, evitando a necessidade de atendimento médico, hospitalização, internação na UTI e mortes, inibindo um colapso no sistema de saúde”, sustenta.
Ele vai além. “Por tudo isso, não há necessidade de entrar em pânico ao ler que novas variantes estão surgindo e infectando pessoas vacinadas – ou reinfectando pessoas que já tiveram Covid-19. Claro que isso não entrar em pânico não significa que devemos relaxar. Precisamos seguir dedicando todos os nossos esforços para combater a pandemia, diminuir a disseminação do coronavírus e evitar que surjam novas variantes que podem ‘escapar’ das vacinas e se tornarem mais letais. Como? A receita é antiga: evitar aglomerações e o contato social, usar máscaras, lavar as mãos frequentemente e aderir à vacinação em massa”.
Além disso, Cabral lembra que todas as vacinas liberadas até o momento são seguras, apesar de autorizadas para uso humano de forma emergencial, ou seja, com dados preliminares. “As imunizações podem ter alguma pequena mudança na sua taxa de eficácia e ainda precisamos de tempo para saber por quantos anos (ou meses) cada vacina vai nos proteger da doença. Dessa forma, todas as vacinas poderão apresentar algo novo após a conclusão dos testes e da vacinação em massa, que está acontecendo”, assinala.
Para o professor do ICTQ – Instituto de Pesquisa e Pós-Graduação para o Mercado Farmacêutico, PhD em Farmacologia, Thiago de Melo Costa Pereira, embora as vacinas já disponíveis sejam fundamentais para o combate da pandemia, “precisamos enfatizar que nenhuma vacina existente no mundo apresenta efeitos imediatos e, portanto, não seria diferente com as vacinas anti-Covid-19”.
De acordo com Melo, como o sistema imunológico precisa reconhecer o antígeno, é natural que a resposta vacinal se consolide somente após algumas semanas depois da aplicação – “afinal, a resposta imune adquirida depende dos linfócitos T, que apesar de eficientes, não são tão rápidos assim”.
O professor explica que, no caso das vacinas contra a Covid-19, se sabe até agora que a resposta vacinal ideal somente ocorre após 15 dias da aplicação da segunda dose – não importando se Coronavac, Astrazeneca, Sputinik V ou da Pfizer. “Isso explica por que algumas pessoas ainda podem ser infectadas mesmo vacinadas”, salienta Melo.
“Para ser mais claro – continua o professor – permita-me considerar alguns pontos. Determinados pacientes podem ter sido expostos ao vírus dias antes da vacinação sem apresentar sintomas, foram vacinados, e com o passar dos dias vieram os sintomas. Consequência disso? A interpretação equivocada de que a vacina foi ineficaz”.
Outro ponto importante é que nenhuma vacina apresenta 100% de eficácia, diz Melo. “O que elas garantem é ‘quase nos 100%’ e que se o paciente manifestar os sinais clássicos da Covid-19 as complicações da doença serão reduzidas”.
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Pensando de forma coletiva, continua Melo, isso é fundamental para desafogar os sistemas de saúde que ainda se encontram colapsados em muitas regiões do Brasil. “Além disso, com menos Sars-CoV-2 circulantes, o impacto sobre as novas variantes mutantes também podem ser suavizadas, afinal, com menos ‘casas para o vírus morar, menos chance de ele trocar seus códigos’”, assinala.
Para o professor, embora estejamos completando um ano de caos pela pandemia, estamos no caminho certo. “Para 2021, não há outra estratégia disponível mais eficaz para combatermos a Covid-19 (do que o imunizante). Que venham as vacinas para a população, para reduzirmos drasticamente os desfechos de mortes principalmente para os mais vulneráveis”.
“Nunca é demais ressaltar que já temos milhões de pessoas vacinadas sem efeitos colaterais graves, dessa forma, dá para afirmar que a vacina é segura e não devemos nos preocupar com alguma ‘surpresa’ em relação a isso”, acrescenta Gustavo Cabral.
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