Medicamentos podem se transformar em um composto cancerígeno

Medicamentos podem se transformar em um composto cancerígeno

Traços da substância N-nitrosodimetilamina (NDMA, ou simplesmente nitrosaminas), potencial causadora de câncer, são encontrados em alguns medicamentos mesmo quando eles estão nas prateleiras ou são digeridos, revelou, em artigo ao site The Conversation, o diretor do Departamento de Farmácia da Universidade de Connecticut (Estados Unidos), professor C. Michael White.

De acordo com o professor, muitos consumidores nem imaginam que um medicamento pode mudar sua composição de maneira prejudicial enquanto permanece na prateleira ou mesmo dentro do corpo. Um composto perigoso encontrado em algumas drogas é a N-nitrosodimetilamina (NDMA), um provável carcinógeno, se detectado em grandes quantidades.

NDMA é encontrado em água clorada, alimentos e medicamentos em pequenas quantidades. Porém, em maiores quantidades pode ser prejudicial ao organismo. Para minimizar a exposição, a Food and Drug Administration (FDA), agência que regula medicamentos nos Estados Unidos, estabeleceu um nível aceitável de NDMA em cada comprimido em menos de 96 nanogramas (ng).

Apesar disso, nos últimos anos, segundo Michael White, a FDA encontrou quantidades excessivas de NDMA em medicamentos para hipertensão, diabetes e azia. Esses produtos foram contaminados com a substância durante o processo de fabricação. Como resultado, a agência iniciou recalls para proteger as pessoas e recomendou as melhores práticas para os fabricantes para minimizar esse risco no futuro.

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“Infelizmente para os consumidores, novas evidências sugerem que a NDMA também pode ser criada quando alguns comprimidos ficam na prateleira da farmácia ou no armário de remédios de casa, ou mesmo depois que o paciente os engole. Assim, não há como testar sua presença na fábrica”, ponderou White.

Um dos exemplos emblemáticos citados pelo professor no artigo é o da ranitidina, utilizada para combater azia e úlcera do estômago e duodeno. A substância foi proibida em vários países, inclusive no Brasil. Segundo ele, a presença de NDMA na ranitidina acontece não apenas no processo de fabricação.

“Em um estudo, os pesquisadores descobriram que a ranitidina continha apenas 18 nanogramas de NDMA depois de fabricada. No entanto, quando armazenada a 70°C por 12 dias – um ambiente similar a um carro quente – as dosagens de NDMA aumentaram acima de 140 ng. Isso está apenas ligeiramente acima do limite de 96 ng que a FDA considerou seguro, mas ocorreu apenas 12 dias depois”, esclareceu White.

Em uma outra pesquisa, continua o professor, o armazenamento de ranitidina exposto a altas temperaturas ou alta umidade aumentou a criação de NDMA ao longo do tempo. “Isso sugere que alguns medicamentos podem sair da fábrica com uma quantidade segura de NDMA, mas se mantidos por muito tempo em casa ou na prateleira da farmácia podem exceder os limites aceitáveis ​​conhecidos pelo tempo que os pacientes os usam”, frisou.

White destaca também que em um estudo do JAMA Network Open, os pesquisadores simularam o ambiente do estômago e descobriram que quando a ranitidina era exposta a um ambiente ácido com uma fonte de nitrito, esses produtos químicos podiam criar mais de 10.000 ng de NDMA.

“Em um estudo clínico foram coletadas amostras de urina de dez adultos, antes e depois de usar ranitidina. Depois que as pessoas engoliram o medicamento, as doses urinárias de NDMA aumentaram de cerca de 100 ng para mais de 40.000 ng no dia seguinte”, revelou o professor.

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White lembra, ainda, de outro estudo, no qual os pesquisadores adicionaram cloramina, um desinfetante rotineiramente usado para esterilizar a água potável, a amostras de água que continham um dos vários medicamentos que são estruturalmente semelhantes à ranitidina. Eles descobriram que vários medicamentos comumente usados, incluindo anti-histamínicos (doxilamina e clorfeniramina), um medicamento para enxaqueca (sumatriptano), outro para azia (nizatidina) e uma droga para pressão arterial (diltiazem), todos geraram NDMA.

“Não está claro se a quantidade de NDMA criada por esses medicamentos quando armazenados em ambientes quentes e úmidos ou depois que um paciente os engole é perigosa como com a ranitidina. Acredito que mais estudos precisam ser feitos para descobrir. Porém, sempre melhor prevenir do que remediar, especialmente quando se trata de um possível agente cancerígeno”, finaliza White em seu artigo.

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