Após anos de pesquisas para encontrar substâncias que eliminassem bactérias, o patologista e bacteriologista alemão Gerhard Johannes Paul Domagk descobriu os efeitos antibacterianos da sulfanilamida. Por essa descoberta Domagk foi agraciado com o Nobel de Medicina em 1939, mas teve de recusá-lo por pressão da ditadura nazista e ainda acabou preso por uma semana.
A história de Domagk foi recentemente lembrada pelo jornal Campo Grande News. Aos 20 anos, o cientista foi confrontado com os limites da medicina em suas primeiras experiências durante a Primeira Guerra Mundial. Ofereceu-se para servir como soldado, onde acabou ferido em dezembro de 1914, e foi trabalhar o resto da guerra como médico.
Naquela época, as operações inicialmente bem-sucedidas eram frequentemente prejudicadas por infecções fatais como a gangrena. As propriedades antissépticas das substâncias então comuns como cloro, água e ácido carbólico, não eram suficientes para combater eficazmente as infecções.
Na década de 1920, a Bayer apostava suas fichas na busca por um medicamento antibacteriano. Para isso, mudou totalmente o conceito daquilo que era uma fábrica de medicamentos. Investiram em um processo integrado em grande escala para criar, testar, e lançar no mercado drogas sintéticas. Estava ultrapassada a era dos medicamentos baseados em plantas.
Entre vários químicos e médicos, a Bayer encontrou em Gerhard Domagk um cientista disposto a encarar o problema de não existir um medicamento contra bactérias. Ele se revelou a escolha certa. Havia presenciado a morte de centenas de soldados na Primeira Guerra e jurado que ‘enfrentaria essa loucura destrutiva’. Estima-se que houve mais mortes por infecções do que por balas nesse conflito mundial.
Domagk debruçou-se, então, sobre vários estudos. Tentou milhares de moléculas para combater as bactérias. Os testes eram feitos em camundongos rosados. Por anos a fio, todos os camundongos das centenas de gaiolas morreram por causa das bactérias. Pilhas de cadernos do laboratório registraram os resultados decepcionantes. Nem um só medicamento interessante apareceu.
Até que, em 1932, Domagk topou com a substância cloreto de dimetil benzil dodecil amônio, que mais tarde foi lançada no mercado sob o nome comercial Zephirol. O efeito antibacteriano intensivo do Zephirol e a boa compatibilidade com a pele rapidamente tornaram o produto um desinfetante indispensável e universalmente aplicável, ainda hoje usado para desinfetar mãos e instrumentos.
Incentivado pelo sucesso da substância na destruição de patógenos fora do corpo, o pesquisador começou a buscar formas de combater bactérias também dentro do organismo. Para isso, passou a pesquisar as propriedades antibacterianas dos grupos sulfanilamida, que era usada há décadas para fixar melhor as cores na lã.Um dos testes que havia deixado por terminar era com camundongos que estavam infeccionados e haviam tomado sulfa. Domagk ausentou-se por um período do laboratório. Quando voltou, as gaiolas estavam repletas de camundongos saudáveis. A ‘sulfa’, como era conhecida, matava bactérias. Não funcionava bem com todos os tipos de bactérias, mas era perfeita para o estreptococo. Curava meningite, gangrena, erisipela, pneumonia, meningite, gonorreia e mais meia dúzia de outras doenças.
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Após mais dois anos de pesquisa, Domagk desenvolveu uma substância altamente eficaz que foi introduzida no mercado em 1935 com o nome comercial Prontosil. Essa droga, pela primeira vez, permitiu que até mesmo as infecções mais graves fossem tratadas. A taxa de mortalidade por doenças como meningite, febre puerperal e pneumonia diminuiu drasticamente, segundo a Bayer.
Foi principalmente pela descoberta do Prontosil que Domagk recebeu o Prêmio Nobel de Medicina. No entanto, ele só recebeu o certificado oficial após o final da Segunda Guerra Mundial, pois o regime de Hitler boicotou o Comitê do Nobel e aos cientistas alemães não era permitido aceitar o prêmio.
Graças à pesquisa de Domagk, novos progressos foram conquistados na luta contra a tuberculose, que se revelou difícil de tratar. Em meados da década de 1950, o pesquisador desenvolveu uma terapia combinada eficaz no laboratório da Bayer em Leverkusen. Domagk morreu em 24 de abril de 1964 de problemas cardíacos.
Apesar de revolucionária, a sulfonamida mais tarde foi substituída pela penicilina, que mostrou maior eficácia e com menos efeitos colaterais – a sulfonamida pode causar pedras nos rins e problemas na medula óssea, entre outros efeitos colaterais.
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