Em meio à grande repercussão causada pela suspensão dos testes com a vacina CoronaVac, desenvolvida pelo Instituto Butantan com a indústria farmacêutica chinesa Sinovac, dois farmacêuticos foram os grandes responsáveis por explicar à população brasileira o motivo da paralização da pesquisa, durante matéria transmitida pelo Jornal Nacional (JN) da rede Globo.
O caso gerou bastante polêmica, em todo território nacional, após a comemoração do presidente da República, Jair Bolsonaro, que disse nas redes sociais “ter ganhado mais uma” depois que os testes foram suspensos, em referência ao seu adversário político, o governador de São Paulo, João Doria. Após diversas manifestações sobre o tema e acusações de que a Anvisa teria cedido às motivações políticas, a Agência teve que vir a público e prestar explicações.
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Durante entrevista coletiva, na terça-feira (10/11), o professor do ICTQ - Instituto de Pesquisa e Pós-Graduação para o Mercado Farmacêutico, farmacêutico e gerente-geral de medicamentos da Anvisa, Gustavo Mendes; e a farmacêutica diretora da Agência, Alessandra Bastos Soares, defenderam que a suspensão não teve nenhuma motivação política.
Para Mendes, essa politização em torno da vacina coloca em xeque a credibilidade do trabalho da Anvisa: “Isso é muito ruim. Pedimos que o trabalho técnico seja respeitado. O nosso compromisso é dar transparência e segurança de que estamos zelando pelos melhores dados e informações. A gente sabe que ao final queremos uma vacina que seja segura, tenha eficácia e qualidade”, afirmou ele.
Já Alessandra esclareceu que a Anvisa tomou uma decisão técnica: “No momento da decisão, a única informação que tínhamos era ‘efeito adverso grave não esperado’, então, não nos restava e não nos restará, neste caso e em nenhum outro, essa dúvida diante de uma situação dessas, em que se seguem protocolos, pois, existem documentos e tratados nacionais e internacionais [sobre o procedimento]", destacou.
Segundo o presidente da Anvisa, Antônio Barra Torres, que foi indicado ao cargo por Bolsonaro, a informação sobre a causa da morte do voluntário teria que ter sido repassada por meio do comitê internacional independente de segurança da pesquisa.
Nesse sentido, ele disse que a interrupção dos estudos no País foi determinada pela Anvisa após o órgão ter sido notificado pelo Instituto Butantan a respeito de um "evento adverso grave". Barra Torres pontuou que a decisão foi "técnica" e baseada no fato de que as informações repassadas à Agência foram "insuficientes" e "incompletas".
Butantan se posiciona
Já o presidente do Butantan, Dimas Covas, rebateu as afirmações de Barra Torres. "A Anvisa recebeu todos os documentos que foram solicitados. Após o envio desses documentos, nenhuma solicitação adicional foi feita", pontuou.
O caso
Na segunda-feira (09/11), a Anvisa informou por meio de nota oficial que a interrupção era prevista pelas normas da Agência, pois, fazia parte dos procedimentos de Boas Práticas Clínicas esperadas para estudos clínicos conduzidos no Brasil. No entanto, não explicou qual evento adverso teria sido observado no voluntário que participou dos testes e veio a óbito.
Contudo, na terça-feira (10/11), foi amplamente revelado pela imprensa que a causa da morte não teria relação com um potencial efeito colateral à vacina, pois, o homem teria, na verdade, cometido suicídio.
Falha na comunicação
Para muitos especialistas, no mínimo, houve uma falha gravíssima na comunicação. Nesse sentido, muitos defenderam que a Anvisa deveria ter buscado mais informações antes de tomar uma atitude extrema.
"Burocratizar esse processo em um momento que nós precisamos de uma vacina rápida, fazendo uma interdição dessas sem que houvesse esse fluxo de comunicação, não me parece adequado. A Anvisa tem o direito de buscar informações e fazer exigências, cabe ao laboratório responder prontamente. Acredito que houve uma falta de comunicação", destacou a epidemiologista, Carla Domingues, em entrevista ao JN.
Retomada dos testes
Já na quarta feira (11/11), a Anvisa confirmou por meio de nota oficial que os testes com a CoronaVac foram retomados. " A Anvisa informa que acaba de autorizar a retomada do estudo clínico relacionado à vacina Coronavac, que tem como patrocinador o Instituto Butantan", disse a agência à imprensa.
Assista ao vídeo da matéria da TV Globo:
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