Segundo informação divulgada pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI), o medicamento nitazoxanida (conhecido como Annita) conseguiu reduzir a carga viral do novo coronavírus (Covid-19) em pacientes, entretanto, um artigo sobre a pesquisa mencionada pelo ministro da pasta, Marcos Pontes, mostrou que o fármaco não diminuiu os sintomas dos doentes (febre, tosse e fadiga) e não conseguiu ter impactos sobre o número de internações.
Publicado na sexta-feira (23/10), na plataforma medRxiv, o artigo mostra que não houve diferença entre o processo de cura dos sintomas entre os pacientes que tomaram o Annita e os que receberam o placebo. Contudo, o fármaco "é seguro e diminuiu significativamente a carga viral, aumentando a proporção de pacientes que testaram negativo para coronavírus após cinco dias”, destaca um trecho do documento.
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De acordo com informação divulgada pela coluna Viva Bem, do UOL, a nitazoxanida também não apresentou resultados na redução das hospitalizações ou teve efeitos sobre resultados de exames de sangue, níveis de CRP (proteína c-reativa, produzida pelo fígado) ou biomarcadores inflamatórios.
Ainda segundo as informações, os cientistas que participaram do estudo admitem que a pesquisa está com uma série de limitações. Exemplos: para a análise, apenas três sintomas teriam sido considerados e não houve um acompanhamento de longo prazo (acima de 28 dias) dos pacientes, pois, somente as pessoas que continuaram apresentando uma ou mais manifestações da doença após o quinto dia foram contatadas novamente.
Outro ponto importante está relacionado à administração do medicamento, pois, os pacientes apenas receberam instruções sobre como fazer uso do produto, contudo, não há nenhuma garantia de que eles seguiram o protocolo indicado. "Dado o controle por placebo, a não adesão [à prescrição médica] pode ter acontecido nos dois grupos", ponderam os pesquisadores no artigo.
Perfil dos pacientes
Além disso, o artigo revela que o perfil demográfico dos 392 voluntários é formado, em maioria, por pessoas que não são consideradas como “grupo de risco”, pois, têm entre 18 e 39 anos, e poucos apresentam comorbidades ou fazem uso de algum tipo de medicamento controlado. Por isso, essa situação pode ter contribuído para os resultados favoráveis à nitazoxanida mencionados pelo MCTI.
Vale lembrar que, coordenado pela pesquisadora Patricia Rocco, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), o estudo ainda aguarda a revisão de pares para poder ser publicado em um periódico internacional.
Carga Viral
Por meio do Twitter, a doutora em microbiologia e presidente do Instituto Questão de Ciência, Natalia Pasternak, comentou o resultado do estudo: "O único desfecho positivo, a redução de carga viral, é questionável, já que não houve correção da carga viral basal (antes do início do tratamento). A carga viral nos dias cinco a oito não tem relevância clínica ou epidemiológica. Não houve redução de internação ou morte e a janela de transmissão é maior dois dias antes ou até dois dias após os sintomas. A carga viral menor depois disso não impacta na transmissão. Em suma, o medicamento não diminui internação, doença grave ou morte, e não tem impacto clínico nem na transmissão", afirmou.
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