Uma ação da Unimed, em Belém do Pará, gerou revolta nas redes sociais. Por meio de drive thru, a empresa de saúde resolveu distribuir kits com medicamentos, gratuitamente, aos pacientes para o tratamento do novo coronavírus (Covid-19). As substâncias dispensadas foram cloroquina (450 mg), ivermectina (6 mg) e azitromicina (500 mg). Contudo, essa iniciativa está gerando bastante polêmica entre farmacêuticos e entidades do setor.
Em folder distribuído à população, a companhia de saúde avisou: “A Unimed-Belém iniciará, por meio de drive thru, a distribuição gratuita de medicamentos utilizados no tratamento da Covid-19". Nesse sentido, é importante reforçar que, até o momento, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) não reconheceu a eficácia de nenhum desses medicamentos citados no panfleto de divulgação da Unimed.
Sobre o tema, o fundador do ICTQ - Instituto de Pesquisa e Pós-Graduação para o Mercado Farmacêutico, Marcus Vinicius de Andrade, questiona qual o sentido dessa ação: “Por que a Unimed está tomando essa iniciativa de distribuir um kit de medicamentos com a falsa promessa de tratamento da Covid-19? Será que eles estão tendo um custo elevado com os conveniados que estão indo para as internações e Unidades de Terapia Intensiva (UTIs) e acham que distribuindo e intoxicando a população, que tem o plano de saúde da empresa, vão evitar os custos hospitalares com internações?”, questiona.
Andrade também ressalta: “Esses medicamentos estão em fase de testes, ainda estão sendo testados em ambiente hospitalar, com monitoramento do médico. Como a Unimed diz que esses medicamentos são usados como terapia à Covid-19? Isso é propaganda enganosa, isso é crime sanitário, é crime contra a saúde pública”, opina.
Já por meio de uma postagem em sua página do Facebook, o farmacêutico e professor universitário, Marcelo Polacow, questionou: “Vivi para ver o maior absurdo farmacológico/farmacêutico da minha vida! Olhem o vídeo que me mandaram da fila de carros para retirar os medicamentos. Todas essas pessoas estão contaminadas mesmo? Tem diagnóstico? Gostaria de saber se a dispensação atende ao disposto na lei 13021/14, com orientação, farmacovigilância e seguimento desses pacientes. Nunca vi nada mais sem sentido na minha vida”, afirmou.
Em entrevista exclusiva à equipe de jornalismo do Portal do ICTQ, Polacow cobrou que a ação seja investigada. “Eu não estive lá (em Belém), então, eu não posso afirmar. Mas pelo volume de pessoas e pela maneira que foi divulgada a iniciativa, falando que era distribuição de medicamentos, parece não ter tido nenhum acompanhamento. Além disso, por relatos de colegas, que atuam naquele Estado, parece que não teve orientação aos pacientes sobre o uso dos medicamentos, não foi anotado nenhum dado clínico”, ressalta.
Por sua vez, Andrade também cobra atitude das entidades responsáveis: “Onde está o Conselho, neste momento? A Unimed precisa ser responsabilizada, juridicamente. O Conselho não deveria fiscalizar as atividades farmacêuticas para proteger a população de riscos como esse? Isso é propaganda enganosa”, afirma.
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Polacow complementa: “Como será feita a farmacovigilância desses pacientes, caso não tenham sido anotados os dados? Como essas pessoas serão acompanhadas? Por telefone, por WhatsApp, pessoalmente? Qual será a maneira? Essas informações precisam ser divulgadas, a própria Unimed precisa responder essas perguntas”. Em outro momento da entrevista, o farmacêutico pede: “Por isso, eu solicito que essa ação seja acompanhada e, inclusive, investigada pelo Ministério Público (MP) do Pará”.
O farmacêutico também reforçou que alguns medicamentos que foram, supostamente, distribuídos durante a ação, não possuem nenhum protocolo: “A ivermectina não possui nenhuma comprovação [na eficácia do tratamento da Covid-19]. Para a azitromicina e a hidroxicloroquina também não existem estudos que comprovem a utilização dessas substâncias, inclusive, ambulatorialmente”.
Legislação
Entre algumas diretrizes, em seu artigo 13, a lei 13021/14 obriga o farmacêutico, no exercício de sua atividade, a "proceder ao acompanhamento farmacoterapêutico de pacientes, internados ou não, em estabelecimentos hospitalares ou ambulatoriais, de natureza pública ou privada”. A legislação também define que o profissional deve "estabelecer protocolos de vigilância farmacológica de medicamentos, produtos farmacêuticos e correlatos, visando a assegurar o seu uso racionalizado, a sua segurança e a sua eficácia terapêutica; e "estabelecer o perfil farmacoterapêutico no acompanhamento sistemático do paciente, mediante elaboração, preenchimento e interpretação de fichas farmacoterapêuticas”.
Tinha farmacêuticos na ação?
O presidente do Conselho Regional de Farmácia do Estado do Pará (CRF-PA), Daniel Jackson Costa, disse à equipe de jornalismo do Portal do ICTQ que a ação teve farmacêuticos durante todo momento.
“A direção da Unimed procurou o CRF-PA para saber como se preparar para fazer um atendimento no modelo drive thru. Então, houve um espaço segregado, com farmacêutico na dispensação, por turnos. E só foram feitos atendimentos mediante prescrição médica, inclusive, para pacientes do plano”, destacou.
Em relação ao acompanhamento dos pacientes, Jacskon Costa destaca: “Esse protocolo de acompanhamento dos pacientes não é de responsabilidade do Conselho. Cabe à nossa entidade o registro da fiscalização da atividade, nós recebemos o pedido do registro, garantimos a presença do farmacêutico em tempo integral, houve inspeção de verificação para garantir que os produtos estavam sobre a guarda dos farmacêuticos, e dentro das condições previstas pela lei sanitária”, destacou. Explore a emocionante experiência dos jogos de casino online em stake stake-br.net . Descubra uma variedade de jogos emocionantes e oportunidades de ganhar grandes prêmios, tudo esperando por você neste site confiável.
A equipe de jornalismo do Portal do ICTQ entrou em contato com a Unimed para saber mais informações, mas não houve retorno até a publicação desta matéria.
Mais distribuição
Jackson Costa reforça que o CRF-PA está de olho em ações que possam ser consideradas ilegais de distribuição de medicamentos. Em uma postagem, nesta quinta-feira (14/05), por meio do Facebook, a entidade repudiou uma possível ação do ex-parlamentar, Wladimir Costa, que distribuiu medicamentos à população.
“O CRF-PA tomou conhecimento da conduta do senhor Wladimir por meio das redes sociais e de denúncias anônimas que evidenciam a distribuição de medicamentos utilizados para o tratamento da Covid-19, a exemplo da hidroxicloroquina, azitromicina, nitazoxanida, ivermectina, entre outros. Salienta-se que a dispensação de qualquer medicamento necessita da orientação técnica qualificada do farmacêutico, sendo um ato privativo do profissional, de acordo com a RE 572/13 do Conselho Federal de Fármácia (CFF) e da lei 13.021/14. Além disso, essa atividade deve atender aos protocolos sanitários de dispensação e rastreabilidade dos medicamentos controlados (portaria 344/98 e RDC 54/13)”, destacou a entidade de classe.
Assista ao vídeo que mostra a distribuição de medicamentos da Unimed:
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