“Tenho remorso por ter dito isso”, afirma Drauzio Varella em live

“Tenho remorso por ter dito” afirma Drauzio Varella em Live

O médico participou ontem (7/5) da live do Instituto de Pesquisa e Pós-Graduação para o Mercado Farmacêutico (ICTQ) no YouTube e explicou por que subestimou inicialmente a Covid-19, discorreu sobre os cuidados que se deve ter para conter o vírus e qual o papel do farmacêutico na saúde pública daqui para frente. A live teve audiência de mais de 9 mil pessoas durante suas quase três horas de duração. Até a apuração deste texto, outras 16 mil pessoas assistiram ao vídeo na página do ICTQ no YouTube.

De acordo com levantamento do Instituto, a live teve uma audiência permanente entre 2,5 mil e 2,6 mil, com pico de 3 mil pessoas, por hora, durante sua transmissão ao vivo. Nas três horas de duração mais de 9 mil pessoas passaram pela página no YouTube. Até o fechamento desta matéria, mais de 16 mil farmacêuticos já haviam reproduzido o vídeo no canal do ICTQ.

Participaram da live também os professores do Instituto Thiago de Melo e André Shmidt, que discorreram sobre terapias experimentais para Covid-19, com destaque para farmacologia e interações medicamentosas; e Rodolfo Fernandes e Angélica Pinto, que falaram sobre serviços farmacêuticos, enfatizando as vacinas e os testes rápidos nas farmácias. A mediação da live coube ao fundador do ICTQ, Marcus Vinicius Andrade, e o diretor acadêmico da instituição, Ismael Rosa.

Marcus Vinicius destacou a importância da live neste momento como ferramenta para ampliar o conhecimento. “Esses novos instrumentos de comunicação vieram para ficar. A live de ontem, com mais de 9 mil farmacêuticos ligados, foi importante para disseminar conteúdo técnico e prático para a classe de profissionais. A experiência se mostrou um sucesso, com um número enorme de interação. Recebemos milhares de mensagens ao longo da transmissão. Em breve, repetiremos a experiência”, salienta o fundador do ICTQ.

Drauzio Varella destaca o papel do farmacêutico no pós-pandemia

Apesar da preocupação com o momento atual, o médico se diz otimista com o futuro do atendimento de saúde no País. Para ele, haverá mais integração entre os profissionais de saúde. “A epidemia vai passar e vai mudar o modo como tratamos a saúde no País. A saúde brasileira foi organizada em torno do médico. Tanto que se fala em atendimento médico e não em atendimento de saúde. Hoje se percebe a importância das enfermeiras, dos fisioterapeutas e dos farmacêuticos. É preciso um grupo inteiro para fornecer atendimento com as necessidades que o País exige”, salienta.

“Sou defensor ferrenho do SUS, ele é o orgulho nacional. Nenhum país com mais de 100 milhões de pessoas conseguiu dar saúde gratuita para todas as pessoas. Ele foi sendo deixado de lado, os planos de saúde ganharam corpo. Mas eles não suportam a demanda. Imagina se não tivéssemos o SUS hoje, a tragédia que seria. Os Estados Unidos estão vivendo essa tragédia, mesmo com toda a tecnologia que eles têm para a medicina”, diz Varella.

Ele destaca o papel de cada profissional nesse contexto. “Temos cerca de 45 mil unidades básicas de saúde no País inteiro. Já imaginou se conseguirmos acrescentar como apoio ao sistema público de saúde as mais de 90 mil farmácias? O farmacêutico terá cada vez mais um papel importante a ser realizado. As vacinas nas farmácias vieram para ficar, isso foi só o começo. Não podemos prescindir de um profissional qualificado como o farmacêutico, deixá-lo relegado a preencher formulários atrás do balcão”, finaliza.

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O que fez Varella mudar de opinião

Drauzio Varella lembra que quando o novo corornavírus surgiu na China, as pessoas e a comunidade científica não tinham ideia do que ele representava de fato, mesmo porque a China não divulgava informações consistentes no início. “Quando começou a gente não tinha noção do que era, porque a informação vinda na China é complicada, os chineses censuram até a internet. Então os dados chegavam distorcidos. E eles apresentavam o novo coronavírus como causador de um resfriado – outros coronavírus causam resfriado – e que, em alguns casos, especialmente em pessoas mais velhas, a mortalidade era razoável. Mesmo assim diziam que não era tão alta assim, era mais elevada para quem tinha mais de 80 anos”, explica.

O mundo ficou mais ou menos tranquilo com essa informação, revela o médico. “Eu também fiquei tranquilo, cheguei a dizer naquela época que isso não seria grande problema para o Brasil. Hoje eu tenho remorso de ter dito isso. Eu me recrimino por ter falado tal coisa. O que me tranquiliza é que Anthony Fausti, que é a autoridade máxima de doenças infecciosas nos Estados Unidos, disse em janeiro que essa epidemia não seria problema para o país dele”. Mas não foi isso que aconteceu, como se viu depois.

No começo do ano, Varella disse em um vídeo, quando ainda não havia casos confirmados do novo coronavírus no Brasil, que não havia motivo para mudar a rotina e que ele continuava a sair normalmente na rua. Esse vídeo voltou a circular nas redes sociais meses depois, já com a pandemia atingindo o Brasil, como se fosse atual, a partir de postagens do deputado Flávio Bolsonaro e do ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles. O que obrigou Varella a se retratar em novo comunicado e pedir que o vídeo antigo fosse retirado do ar pelo YouTube, no que foi atendido.

Varella destaca que o mundo veio a conhecer a epidemia de fato apenas quando ela chegou na Itália. “Quando a doença começou a lotar as UTIs na Itália, um país com liberdade de informação, o cenário mudou. Passamos a ver aquelas cenas dramáticas de UTIs lotadas, caminhões frigoríficos cheios de corpos”, assinala.

Contudo, mesmo com o decreto de isolamento social no norte italiano, a comunidade mundial ainda não estava convencida dos riscos, diz Varella. “Veja como o mundo não estava preparado para a pandemia, pois no dia que foi decretado o isolamento social no norte da Itália teve uma marcha, que reuniu 200 mil pessoas para comemorar o dia da mulher em Madri, na vizinha Espanha. Aí o vírus se disseminou pela Europa e chegou aos Estados Unidos e depois ao resto do planeta”.

Informações desencontradas

Varella destacou também que a qualidade da informação sobre o vírus foi acontecendo ao longo do tempo. Muitos erros foram cometidos durante o processo. “Quando o vírus chegou aos Estados Unidos, nação mais rica do mundo, pensou-se que o país estaria preparado. Nada, uma vergonha. Não tinham máscaras, aventais, para os profissionais de saúde. Uma colega me contou que pegou o vírus porque atendia sem máscara. A clínica dizia que não havia indicação para uso de máscara. Na verdade, eles não tinham máscara para distribuir para os funcionários. O resultado disso estamos vendo agora: um número absurdo de mortos, mais de 70 mil, e milhões de infectados nos Estados Unidos”.

Finalmente, a pandemia chegou ao Brasil cerca de três a quatro semanas depois dos Estados Unidos. “Estamos vivendo agora a parte dura da epidemia, que vai se acentuar nas próximas semanas. Assim como aconteceu em Nova Iorque, onde as pessoas vivem mais aglomeradas, uma tragédia, com milhares de mortos, São Paulo, Rio de Janeiro, as cidades mais populosas vão sofrer mais. Mas não apenas. Quem imaginava que Manaus, no norte do País, fosse viver um quadro como esse que está acontecendo?”, questiona Varella.

Segundo o médico, o que acontece é que não sabemos por onde anda o vírus. “Estamos agindo como bombeiros. Pega fogo em um lugar, corre para apagar. Está complicado em Manaus, manda equipe, respirador, máscara, equipamento. Começou em Belém, corre para lá. Aí vem Fortaleza e outras cidades, faz a mesma coisa. Em São Paulo, os hospitais estão quase cheios. Por que acontece isso? Porque o vírus tem uma facilidade muito grande para ser transmitido. Sua transmissão é por meio de gotículas que saem da boca que a gente elimina ao falar, tossir ou respirar, é difícil controlar”, revela.

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Outro aspecto importante, segundo Varella, é que em muitos casos de contaminação o infectado não sabe que pegou. “Houve outro coronavírus, o Mers, que começou no Oriente Médio, que tinha uma mortalidade altíssima, cerca de 35%. Mas o que acontecia com ele? A pessoa logo ficava doente. Aí, com sintomas exuberantes, ela ficava em casa se cuidando. Não andava por aí transmitindo o vírus. No coronavírus atual não é assim. A pessoa pega o vírus, começa a disseminá-lo antes de ter qualquer sintoma da doença, que são extremamente variáveis. Por isso ele se dissemina com tanta facilidade”.

No começo, por falta de conhecimento, foram dadas muitas informações que não correspondiam à realidade. “A gente dizia, por exemplo, para as pessoas ficarem em casa, só irem ao serviço médico quando tivessem falta de ar, para não lotar os hospitais. O que aprendemos com a epidemia no Brasil? Que, curiosamente, que a taxa de saturação de oxigênio caía antes de as pessoas terem falta de ar. Então, muitas vezes, quando o doente tinha falta de ar, chegava ao hospital com a saturação já muito baixa. Às vezes, já em estágio muito grave da doença, tinha que ir direto para a UTI. A ênfase no atendimento agora é usar um oxímetro. Mede e diz para o doente que ao cair abaixo de 94% tem que ir para o hospital”, esclarece Varella.

 

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