Estudo desenvolvido na Alemanha sugere que o novo coronavírus pode permanecer na boca e no nariz uma semana antes de atingir o pulmão. E continua nas fezes mesmo depois de não haver sintomas, indicando que ele se replica no trato gastrointestinal. Embora a pesquisa não seja conclusiva, os cientistas afirmam que o documento coloca as estratégias de contenção da Covid-19 em perspectiva.
O fato de o novo coronavírus permanecer e replicar-se muito no trato respiratório superior, ou seja, na boca e no nariz, durante uma semana antes de chegar aos pulmões, à traqueia e aos brônquios, infectando-os, traz novas pistas para interpretação de como se dá a infecção no organismo e a sua transmissão. O vírus também é expulso do corpo em grandes quantidades, por meio das fezes, logo nas primeiras duas semanas de doença, porém ainda é encontrado nelas em até 26 dias depois, indicando como age no sistema grastrointestinal.
As conclusões iniciais foram publicadas nesta quarta-feira (1/4) na revista Nature, a partir do estudo desenvolvido, em janeiro, com nove pacientes com a Covid-19 de um hospital em Munique, na Alemanha. Embora já tenha sido revisto por outros cientistas, os autores do estudo sublinham que o número de pacientes analisados é ainda pequeno para se chegar a certezas mais profundas sobre a forma como o vírus se comporta dentro do organismo humano, segundo informado pelo jornal Observador, de Portugal.
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É preciso estudar mais pessoas e segui-las durante mais tempo, dizem os pesquisadores. Contudo, a amostra permitiu que os investigadores, liderados por Christian Drosten, especialista em novos agentes patológicos virais, tirassem algumas conclusões ao compararem os materiais biológicos recolhidos no nariz, boca, catarro, sangue, urina e fezes. As amostras recolhidas, entre o primeiro e o quinto dia de sintomas, no nariz e faringe dos doentes tinham, em média, 676 mil cópias da informação genética do vírus. Chegou-se a encontrar 711 milhões de cópias num só bastonete, usado para coletar as amostras.
De acordo com os cientistas, esses valores chegam a ser mil vezes superiores aos que foram registrados durante a epidemia da síndrome respiratória aguda grave (SARS), em 2003. Ao contrário do que aconteceu com o coronavírus responsável pelo SARS, o novo coronavírus tem uma grande capacidade de se replicar quando ainda não chegou ao trato respiratório inferior e está apenas na boca, nariz ou garganta. Em alguns casos, essas cópias da informação genética do vírus só deixaram de ser detectadas ao final de 28 dias nos bastonetes, quando os pacientes já não tinham sintomas.
Mesmo nas fezes, embora sejam encontradas em maiores quantidades nas duas primeiras semanas da doença, as cópias do vírus persistem durante 18 dias, em média. Em alguns casos ainda são detectadas 26 dias depois. Além disso, os cientistas recolheram amostras que continham células infetadas com uma forma de RNA, sugerindo que o novo coronavírus consegue replicar-se no trato gastrointestinal.
Essas conclusões iniciais “colocam as estratégias de contenção da Covid-19 em perspectiva”, afirmam os cientistas. “As descobertas sugerem uma transmissão mais eficiente de SARS-CoV-2 (coronavírus) no momento em que os sintomas ainda são leves e típicos de infecção do trato respiratório superior”, concluem. O novo coronavírus parece ter uma maior facilidade de se replicar, o que pode explicar a forma como se espalhou pelo mundo.
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