Histórico de vítimas da indústria farmacêutica por substância encontrada na cerveja em MG

Histórico de vítimas da indústria farmacêutica por substância encontrada na cerveja em MG

O uso do dietilenoglicol voltou a ser discutido nesta semana, em diversos meios de comunicação no Brasil, após subir para seis o número de mortes ocasionadas pela suspeita de contaminação da substância na cerveja fabricada pela Backer. Na madrugada da última segunda-feira (03/02), um homem, de 74 anos, faleceu no Hospital Madre Tereza,  região oeste de Belo Horizonte (MG).

A toxicidade do dietilenoglicol foi estabelecida em 1937, entretanto, ao longo dos anos, mais de 12 epidemias geradas pelo envenenamento da substância foram registradas em vários países do mundo. Apenas os casos envolvendo a contaminação de medicamentos somam mais de mil. Recentemente, o composto também foi alvo de uma polêmica no Brasil, logo após ser encontrado na bebida da cervejaria Backer.

Um dos casos mais lembrados, que envolveu a indústria farmacêutica, aconteceu em Bangladesh, entre 1990 e 1992. Na ocasião, 400 crianças morreram por falência renal depois que tomaram um xarope de paracetamol contaminado com o dietilenoglicol. Três anos depois, no Haiti, dois xaropes também foram contaminados e fizeram outras cem vítimas. Em 2006, no Panamá, outras 219 pessoas também faleceram por conta de um medicamento com a substância.

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“Normalmente, o solvente que se usa em xaropes é a glicerina, que não é tóxica”, explica o vice-presidente do Conselho Estadual de Química, David Tabak, em entrevista publicada no Estadão. “Mas já teve gente que usou o dietilenoglicol para aumentar a solubilidade e baratear o produto, achando que em pequenas quantidades poderia não fazer mal", complementa.

Segundo o químico do Departamento de Química da Pontifícia Universidade Católica (PUC-RJ) e do Conselho Estadual de Química, André Pimentel, apesar de ser extremamente tóxica, a substância é usada com frequência na indústria farmacêutica devido à sua ação anticongelante (que permite o resfriamento de líquidos abaixo de zero grau sem o congelamento), além de ser utilizada também como solvente. “O dietilenoglicol é altamente tóxico, mas isso já está bem determinado desde 1937. A intoxicação de pessoas, geralmente, acontece por acidente, vazamento ou contaminação". 

Ele complementa: “A toxicidade vem da ingestão oral; pela pele, a absorção é muito baixa”, ressalta. “Mas quando entra no sistema gastrointestinal é rapidamente distribuída [a substância] pela corrente sanguínea e alcança o fígado e, posteriormente, os rins", exemplifica.

O uso do dietilenoglicol voltou a ser discutido nesta semana, em diversos meios de comunicação no Brasil, após subir para seis o número de mortes ocasionadas pela suspeita de contaminação da substância na cerveja fabricada pela Backer. Na madrugada da última segunda-feira (03/02), um homem, de 74 anos, faleceu no Hospital Madre Tereza,  região oeste de Belo Horizonte (MG).

O primeiro caso

Em 1937, nos Estados Unidos, um medicamento antibacteriano em forma de xarope foi fabricado para facilitar a ingestão por crianças. Nesse sentido, um farmacêutico de um laboratório americano misturou o princípio ativo do medicamento a um solvente e a um aromatizante de framboesa. Foi, então, que surgiu o Elixir Sulfanilamide.

Pouco mais de um mês após o produto ser disponibilizado nas farmácias, a Associação Médica Americana recebeu várias denúncias sobre mortes de crianças que consumiram o xarope. Após a investigação das autoridades locais foi constatado que o solvente utilizado no medicamento era tóxico aos seres humanos.

Um fator importante é que não tinha legislação definindo padrões sanitários para analisar os procedimentos realizados na fabricação dos medicamentos. Por isso, não foram feitos testes toxicológicos antes do o produto ser disponibilizado no mercado.

A repercussão e revolta da população em torno do caso motivou o Congresso do país a aprovar, um ano depois, a Lei Federal de Drogas, Alimentos e Cosméticos, fato que culminou na criação de um dos órgãos sanitários mais importantes dos Estados Unidos, a Administração de Drogas e Alimentos (a FDA).

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