Bloqueador neuromuscular injetável, de uso hospitalar, utilizado na sedação para intubação de pacientes acometidos de Covid-19, foi aprovado nesta terça-feira (30/3) pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).
Produzido pela União Química, o medicamento, que tem como princípio ativo o besilato de cisatracúrio, faz parte do chamado ‘kit intubação', rol de produtos que vem sendo utilizados para pacientes com Covid-19 que precisam ser sedados e intubados.
Esse é o primeiro medicamento aprovado para comercialização após flexibilização das regras de registro. A novidade, segundo a Anvisa, é que ele foi autorizado apenas com notificação, conforme previsto na RDC 484/21.
Em 19 de março, a Agência publicou essa resolução, que dispõe sobre os procedimentos temporários e extraordinários para a autorização, em caráter emergencial, de medicamentos utilizados para intubação de pacientes com Covid-19. A medida vale para anestésicos, sedativos, bloqueadores neuromusculares e outros medicamentos hospitalares usados para manutenção da vida de pacientes.
Segundo o órgão regulador, “o objetivo foi manter o abastecimento regular dos medicamentos utilizados no processo de intubação”. O agravamento da pandemia implicou sobrecarga das UTIs e, nesse sentido, para manter o abastecimento regular dos medicamentos utilizados no processo de intubação, a Anvisa isentou esses medicamentos do registro sanitário. “A autorização da comercialização de tais produtos passou a ser realizada por meio de notificação, que é uma simplificação do registro”, afirmou a Agência.
Desabastecimento preocupa entidades de saúde
Intubação é um recurso fundamental para a recuperação respiratória dos pacientes com Covid-19 que necessitam de Unidade de Terapia Intensiva (UTI). O procedimento é doloroso e por isso a pessoa precisa de medicamentos fortes, que induzem o sono profundo.
Com o aumento dos casos da infecção causada pelo novo coronavírus, tem havido um forte aumento de demanda pelos produtos do kit intubação, formado por sedativos, anestésicos, relaxantes musculares e bloqueadores neuromusculares, que deixam o paciente paralisado durante o procedimento de intubação.
Essa pressão da demanda elevou o risco de desabastecimento desses produtos. Para se ter ideia, uma pessoa internada em UTI de Covid-19 utiliza de 10 a 60 frascos de bloqueador neuromuscular por dia.
Na semana passada, a Associação dos Hospitais Privados de Alta Complexidade do Estado de Goiás (Ahpaceg) emitiu um alerta para o risco iminente de falta de medicamentos considerados essenciais e indispensáveis para o tratamento de pacientes com Covid-19, principalmente aqueles internados em UTIs e que dependem de sedação e intubação.
Dentre os medicamentos que podem faltar estão: Cisatracúrio e Rocurônio (relaxante muscular), Midazolam (sedativo), Atracúrio e Tracrium (relaxante muscular usado em anestesia geral), Heparina (anticoagulante) e Propofol e Fenatanila (anestésico).
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Há algumas semanas, os hospitais já convivem com a escassez de produtos, como anestésicos, relaxantes musculares e anticoagulantes, conforme relata o comunicado da Ahpaceg, mas que as unidades particulares vinham conseguindo suprir a falta por meio do empréstimo de doses entre elas ou a substituição dos medicamentos.
Contudo, há poucos dias, a situação se agravou. O documento destaca que “o cenário tende a piorar diante da impossibilidade das indústrias farmacêuticas de atenderem os novos pedidos de compras dos hospitais”.
Também a Associação Nacional de Hospitais Privados (Anahp) divulgou carta aberta sobre a falta de medicamentos e solicitou atenção urgente do Governo Federal. “A situação é crítica e, se medidas urgentes não forem tomadas em âmbito nacional, mais pacientes morrerão”, diz o comunicado da entidade.
Para o farmacêutico especialista em farmacologia e professor de Farmácia Hospitalar e Clínicado ICTQ – Instituto de Pesquisa e Pós-Graduação para o Mercado Farmacêutico Nelson Belarmino, a situação fora de controle está relacionada a dois fatores principais: excesso de demanda e gestão.
“Há, de fato, um aumento expressivo do consumo de sedativos. Em algumas cidades a demanda aumentou mais de 50 vezes. Isso cria um desequilíbrio no mercado”, assinalou Belarmino, lembrando, porém, que isso não explica totalmente a crise de desabastecimento.
“Assim como em outros setores, mas na saúde é mais crítico, é preciso gestão dos recursos, dos insumos e principalmente dos medicamentos. A redução da oferta não acontece de uma hora para outra. Quando se percebe um aumento da necessidade já se programa a compra antecipada ou, então, no limite, trata de racionar até que se consiga adquirir novas remessas do produto. O que não pode é deixar faltar”, frisa o professor do ICTQ.
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