A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) divulgou na segunda-feira (02/03), o 9º Boletim de Farmacovigilância sobre medicamentos isentos de prescrição (MIPs). A publicação aborda essa classe de produtos, chamando a atenção para a importância do farmacêutico nos serviços prestados à população na prevenção da automedicação, pois, conforme explica o documento, apesar dos MIPs “serem isentos de prescrição, não são isentos de orientação para o seu uso”.
Nesse sentido, o boletim enfatiza: “O profissional farmacêutico tem um papel fundamental na orientação dos indivíduos quanto ao autocuidado e à automedicação apropriada e responsável e, quando necessário, no encaminhamento do paciente ao médico. Para isso, deve iniciar um diálogo com os consumidores [pacientes], de forma a obter informações detalhadas sobre sua condição de saúde, seu histórico de uso de medicamentos e suas necessidades; auxiliar o paciente na escolha da opção terapêutica mais adequada, eficaz e segura para o seu caso; e educar o paciente, de forma clara e objetiva, sobre o uso racional do medicamento (como usar de forma correta e o que fazer em caso de ocorrência de eventos adversos, por exemplo)”.
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Para exemplificar a importância da atenção farmacêutica no uso dos MIPs, a publicação da Anvisa apresenta tópicos com dados alarmantes:
- Uso do medicamento em doses maiores que as recomendadas em bula:
Uma pesquisa feita nos Estados Unidos, com cinco mil indivíduos adultos (18 a 80 anos), mostrou que 23,8% deles usaram doses acima das máximas permitidas de paracetamol em um período de 24 horas.
- Uso incorreto do medicamento:
De 2008 a 2014, na França, 160 notificações de reações adversas a medicamentos (1,3% do total) foram resultantes de automedicação (50,5% dos medicamentos eram MIPs). O uso incorreto foi observado em 36% dos produtos, principalmente, com os anti-inflamatórios não esteroidais e analgésicos.
No Reino Unido, uma pesquisa com 430 adultos mostrou que 19,3% deles usaram MIPs de forma incorreta, 4,1% fizeram uso abusivo e 2% se tornaram dependentes desses medicamentos. A dependência foi relatada com analgésicos (com ou sem codeína), produtos para dormir e à base de nicotina.
Vale ressaltar que, no Brasil, os números relacionados à automedicação também são alarmantes. Um estudo realizado pelo ICTQ - Instituto de Pesquisa e Pós-Graduação para o Mercado Farmacêutico mostrou que 76% da população afirmava se automedicar em 2014. Já em 2016, a porcentagem apresentou uma leve queda para 72%, mas voltou a crescer em 2018, somando 79%. Esse ano, a pesquisa mostrou que já chegam a 81% os brasileiros que tomam medicamentos por conta própria.
O boletim da Anvisa ainda avalia que, principalmente, no caso de idosos e crianças, o uso de MIPs deve ser monitorado pelo médico ou pelo farmacêutico, ressaltando que o paciente ou responsável consulte um desses profissionais antes de fazer uso do medicamento.
É importante ressaltar que o documento do órgão sanitário, que chama a atenção para a importância dos serviços farmacêuticos na utilização dos MIPs, ainda que sem intenção, vem ao encontro do projeto de lei (PL) 5443/19, do deputado, Eduardo Bismarck (PDT-CE), que propõe a tarja azul para aqueles medicamentos que, atualmente, têm tarja vermelha (sem retenção de receita) e que possuem, no mínimo, 70% dos critérios estabelecidos para os MIPs.
Isso quer dizer que esses tarjas vermelha que se enquadrarem nesses critérios poderão ser prescritos por farmacêuticos, caso o projeto seja aprovado (leia a matéria completa sobre o tema aqui). O 9º Boletim de Farmacovigilância da Anvisa pode ser acessado aqui.
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