Como resultado de um processo que durou dez anos, o Conselho Federal de Farmácia (CFF) tem a satisfação de anunciar a proclamação oficial de São José de Anchieta como Padroeiro dos Farmacêuticos no Brasil. O pleito do CFF foi aprovado por maioria absoluta em Assembleia Geral da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) e a decisão, anunciada por meio de ofício no final de novembro. Canonizado pelo Papa Francisco, em 03 de abril de 2014, São José de Anchieta tem um elo importante com a profissão farmacêutica, sendo considerado o primeiro boticário do nosso país por ter fundado a primeira botica do país, em Salvador (BA).
Nascido em 1534 nas Ilhas Canárias (Espanha), Anchieta desembarcou no Brasil em 1553, aos 20 anos, quando ingressou na Companhia de Jesus. Ele chegou ao país transferido por sofrer de fortes dores na coluna, tanto que usava uma bengala para caminhar. Seus superiores acreditavam que o clima daqui o ajudaria. Seu envolvimento com a saúde e os medicamentos foi tão marcante que se tornou um dos aspectos centrais de sua vida e legado. Além de fundar diversas boticas, ele se dedicou ao estudo das plantas medicinais nativas. Também utilizava substâncias trazidas da Corte portuguesa para tratar os doentes, ampliando assim o alcance de seus cuidados.
Anchieta passava longas horas do dia pesquisando as propriedades terapêuticas das plantas medicinais e seus riscos de toxicidade, sendo considerado um precursor da farmacologia no Brasil. Entre as plantas que estudou, destaca-se o vetricopê, cujas raízes ele utilizava como descongestionante nasal e antitussígeno, e a copaíba, para tratamento de feridas. Foi também o primeiro a investigar o bálsamo do peru, conhecido por suas propriedades anti-inflamatórias. Além disso, manipulou a fórmula do elixir Teriaga brasiliensis, indicado como antídoto contra o veneno de animais peçonhentos e comparado à famosa Teriaga de Veneza. E ainda sintetizou o sal nitrato de prata.
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Antes de ser canonizado, Anchieta foi beatificado pelo Papa João Paulo II em 22 de junho de 1980. O processo de beatificação teve início em 1597, após relatos de milagres atribuídos a ele em São Paulo. Testemunhas da época relatavam que a levitação do santo era algo comum, a ponto de ele celebrar a missa flutuando. Também se conta que ele ressuscitou pelo menos seis pessoas e, em uma história notável, foi encontrado após um naufrágio no Rio Tietê, sentado no fundo do rio, lendo o catecismo e rezando. Segundo relatos, sua pregação era ouvida a quilômetros de distância.
Dedicado boticário, São José de Anchieta prestou cuidados a índios, mestiços e escravos, e foi um dos fundadores da cidade de São Paulo. Em 1582, iniciou a construção da Santa Casa de Misericórdia no Rio de Janeiro, com o objetivo de atender as vítimas das frequentes epidemias no Brasil. Ali há uma placa atribuindo a ele a criação da farmácia da instituição.
Poeta, escritor e ambientalista, Anchieta deixou uma vasta obra que registra sua dedicação tanto à saúde física quanto à espiritualidade dos que precisavam de seus cuidados. Em um de seus escritos, ele demonstra seu vínculo com a Farmácia: “Nossa casa é botica de todos e, em poucos momentos, está quieta a campainha da portaria”. Ele também é o autor do livro “Arte de gramática da língua mais usada na costa do Brasil”, em tupi-guarani.
Mesmo em seus últimos dias, já debilitado pela idade e pela doença, Anchieta não negava socorro aos que precisavam. Nos últimos momentos de sua vida, no povoado de Reritiba, criado por ele no Espírito Santo e batizado posteriormente de Anchieta em sua homenagem, ele deixou o leito para cuidar de um paciente distante, um ato de caridade que acabou por lhe custar a vida. São José de Anchieta faleceu no dia 9 de junho de 1597, deixando aos farmacêuticos brasileiros um legado inestimável: a importância do alcance social no cuidado à saúde da população.
“Ele caminhava descalço Cananeia (SP) até o litoral de Recife, cuidando das pessoas. A vida de São José de Anchieta é um exemplo de que, mesmo em tempos de adversidade, a esperança e a fé podem produzir resultados extraordinários”, comenta Walter Jorge João, presidente do CFF. “Estamos imensamente felizes com a proclamação de um santo tão altruísta e dedicado à Farmácia como nosso Padroeiro.”, reforçou o presidente, agradecendo formalmente ao bispo de Petrolina (PE), Dom Francisco Canindé Palhano, por todo o apoio ao longo deste processo. “Suas orientações foram fundamentais para que chegássemos a este desfecho.”
No ofício endereçado ao CFF, Dom Ricardo Hoeper, o secretário-geral da CNBB, Bispo Auxiliar da Arquidiocese de Brasília (DF), expressou a sua satisfação ao fazer o anúncio da proclamação. Ele encorajou o Conselho Federal de Farmácia a dar prosseguimento à divulgação da decisão e aos desdobramentos que se fizerem necessários, para valorizar ainda mais a história e a missão dos farmacêuticos em nosso país. “Invocamos a intercessão de São José de Anchieta, pedindo que ele continue a guiar e proteger todos os farmacêuticos no Brasil em sua missão de promover a saúde e o bem-estar da sociedade.”
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