O atual presidente do Conselho Regional de Farmácia do Estado do Pará (CRF-PA) e candidato a conselheiro federal nas Eleições 2023, Patrick Cruz, está novamente no centro das atenções e não é por seu desempenho em prol da classe farmacêutica. Cruz, que é acusado de violência política contra duas diretoras do CRF-PA, que renunciaram em janeiro deste ano, e de assédio moral pelos substitutos delas, agora está envolvido em suspeita de corrupção envolvendo um pagamento de R$ 150 mil. Não bastasse, ele também teve seu nome inserido em relatório, pois teria usado um fiscal do conselho local como “motorista”.
Segundo denúncias apuradas pelo ICTQ - Instituto de Pesquisa e Pós-Graduação para o Mercado Farmacêutico, no último dia 16 de maio, o Neres Hotel, localizado na cidade de Xinguara, no Pará, emitiu recibo ao presidente do CRF-PA no valor de R$150 mil, que foi pago com cartão de crédito, por serviços diversos. O documento não especifica que serviços são esses, mas o valor pago por Cruz corresponde a 750 diárias de R$ 200 (valor cotado em 29 de outubro, com a recepção do hotel, para o quarto single). Ou seja, o presidente teria de passar dois anos ininterruptos hospedado no estabelecimento para atingir o valor pago.
A única justificativa plausível para a despesa poderia ser a realização do II Workshop de Semiologia Farmacêutica e Consulta Farmacêutica, que aconteceu dois dias após a emissão do recibo, em 18 de maio, e teve Cruz como palestrante. Mas a própria divulgação do evento aponta como local da sua realização o auditório da Câmara de Vereadores, que não cobra pela cessão do espaço.
Além disso, o valor cotado com a gerência do hotel para a realização de evento semelhante (mesma duração, dias da semana e número de participantes) foi de apenas R$ 1.500. Ou seja, um valor 100 vezes menor do que o anotado no recibo.
Vale ressaltar, que enquanto se discute esse possível ato corrupto, as contas do CRF-PA relativas ao ano de 2022 foram reprovadas na Reunião Plenária de julho de 2023. A leitura e votação aconteceu com um atraso considerável em relação ao prazo previsto.
As contas do primeiro trimestre do ano passado deveriam ter sido relatadas e votadas em abril deste ano. A Comissão de Tomada de Contas denunciou que a presidência do CRF-PA cerceou o acesso aos documentos e fez de tudo para dificultar o trabalho dos membros, ocasionando no atraso.
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Os pareceres da comissão foram pela reprovação das contas de todos os trimestres, considerando que não haviam sido apresentados comprovantes dos gastos efetuados. Cruz insistiu em apresentar os documentos fora do prazo e do regramento, mas o Plenário do CRF-PA foi incisivo. E a reprovação foi unânime.
Confira AQUI as relações de pagamentos e AQUI os recibos de R$ 150.000,00 mil
Mais denúncias
Quanto mais se mexe no nome do presidente do CRF-PA, mais encontram-se inconsistências. Além, do recibo superfaturado, também chegou ao ICTQ o caso do fiscal do conselho que, ao invés de receber uma rota para trabalhar, foi designado como motorista do presidente do durante viagem a municípios do sul do Estado.
O episódio está descrito no relatório de viagem do fiscal. Ele recebeu uma diária e meia no valor de R$ 540 para se deslocar entre os dias 6 e 7 de março de 2023, de Redenção até Canaã dos Carajás, para buscar o presidente do CRF-PA. Cruz permaneceu na região até o dia 10 de março, realizando eventos de capacitação. Durante esse período, o fiscal solicitou a tarefa ao Setor de Fiscalização, mas não recebeu nenhuma rota.
Sem ter o que informar em seu relatório de prestação de contas de diárias, ele narrou toda a história como justificativa para a ausência das informações referentes aos serviços de fiscalização. Profissionais revelaram que “enquanto os fiscais são usados como motoristas, a fiscalização desanda e tem sido motivo de reclamação em todas as regiões do Estado”.
Em conjunto a todas as situações suspeitas, irregulares e imorais, há indícios de que as anuidades pagas pelos membros do CRF-PA têm sido usadas para beneficiar os apoiadores da campanha da chapa encabeçada por Cruz às Eleições de 2023. Segundo denúncias, a Chapa JUNTOS PARA TODOS usa de agressividade e baixarias, normalmente retirando dados do Portal da Transparência e atacando pessoas com serviços prestados, enquanto oculta quanto eles próprios embolsaram em diárias do CRF-PA.
Cruz recebeu R$ 269.303,54 do CRF-PA e do Conselho Federal de Farmácia (CFF) nos últimos anos. Os recebimentos do CRF-PA somam R$108.300,00 nos últimos dois anos. Os do CFF totalizam R$ 161.003,54 entre 2016 e 2020, e se referem aos pagamentos de diárias da época em que ele percorria o Pará como professor dos cursos de Cuidado Farmacêutico - bastante criticado atualmente por ele próprio. Importante destacar que esses cursos já contemplaram mais de 35 mil farmacêuticos e estudantes em todo o País, sendo cerca de 5 mil no Pará.
As irregularidades com as diárias também podem estar sendo cometidas pela diretora-tesoureira Simone Sena, que faturou R$123.300 em diárias desde que assumiu o cargo. Foi quem mais lucrou no exercício do mandato, mais até que o presidente. Tudo indica que Simone se mudou para o interior para poder receber diária e passagem todas as vezes que comparece ao CRF-PA. Não se pode esquecer que a mesma é funcionária pública em Belém e sempre teve residência na cidade.
No valor recebido por Simone estão diárias entre os dias 20 e 29 de janeiro, com um final de semana no meio e sem passagens emitidas, ou seja, apenas 20 dias depois do início da gestão ela já estava viajando pelo CRF-PA. Outra diária que faz parte desse valor foi paga no dia 2 de março, feriado de quarta-feira de cinzas.
Outros apoiadores também abocanharam diárias na gestão de Cruz. Eriane Costa recebeu R$ 29.864,63; Roberto Allen recebeu R$11.520,00; e Antonio Carmona, R$10.620,00.
Sobre as renúncias de diretoras ocorridas em janeiro
Em plenária realizada no dia 18 de janeiro, duas diretoras manifestaram a decisão de deixar os cargos. Na ocasião, o presidente do CRF-PA tentou deslegitimar a atitude das mulheres, causando revolta e iniciando uma discussão entre os diretores. Outras denúncias, de profissionais que pediram sigilo por medo de represálias, reforçam o que disseram as ex-diretoras na assembleia sobre o tom agressivo de Cruz com as mulheres. “Os seus comentários falam mais da senhora do que de mim. Quem quiser fazer qualquer afirmação que fale mas que sustente suas palavras”, disparou o diretor, que prosseguiu: “Eu continuo mantendo a minha tranquilidade e a minha estabilidade emocional. A senhora tem o direito legítimo de expressar sua opinião e arque com as consequências”.
Para recompor a diretoria, ainda em janeiro, foram nomeados pelo CFF, até o final de 2023, o conselheiro federal pelo Estado de Minas Gerais na vice-presidência, Gerson Antônio Pianetti, e o conselheiro federal suplente de Roraima, para o cargo de secretário-geral, Erlandson Uchôa Lacerda. Mas, em Plenária do CFF, em julho, Pianetti renunciou ao cargo.
“Quando fui designado a participar dessa diretoria, eu tive muito cuidado de não ter contato com as pessoas que renunciaram, as quais eu nem conhecia, porque não queria já ir contaminado. Mas observando como a situação já estava acontecendo, dois meses eu entendia, mais ou menos, o motivo. E eu constatei que o relacionamento não era dos melhores. Um ambiente muito ruim, uma situação muito carregada e na segunda realização de plenária já deu para perceber um ambiente muito tóxico. [...] É de uma forma autoritária e totalitária, que eu acho que aquelas pessoas não merecem. A saúde mental daquelas pessoas está correndo risco”, disse Pianetti ao requerer instauração de sindicância para apurar os fatos no CRF-PA e antes de encaminhar o seu pedido de renúncia.
A equipe de jornalismo do ICTQ - Instituto de Pesquisa e Pós-Graduação para o Mercado Farmacêutico entrou em contato com o senhor Patrick Luís Cruz de Sousa em 7/11/2023, às 14h16. Até o presente momento não houve resposta. Logo que ele se posicionar sobre os temas abordados nesta reportagem, nós publicaremos a sua versão sobre os fatos.
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